A estratégia da Neon para concorrer com os grandes bancos

Leia as edições anteriores da Finsiders

Há mais de cinco anos, nascia a Controly com um cartão pré-pago e uma conta digital para melhorar a experiência com serviços bancários. “Quero construir algo para os jovens”, contou pra mim em outubro de 2016 o empreendedor Pedro Conrade, hoje com 28 anos.

Agora, a Neon Pagamentos briga como (e com) gente grande. Quer concorrer com os maiores bancos do país, diz em entrevista por telefone à Finsiders na última sexta-feira (4).

Pedro Conrade, fundador da Neon Pagamentos (Crédito: Divulgação)
Pedro Conrade, fundador da Neon Pagamentos (Crédito: Divulgação)

Na semana passada, a fintech fundada por Conrade anunciou uma rodada Série C de R$ 1,6 bilhão (US$ 300 milhões) liderada pela General Atlantic (GA), em duas tranches de R$ 800 milhões.

O aporte teve participação da BlackRock (sim, a gestora americana de US$ 7,3 trilhões), Vulcan CapitalEndeavor Catalyst e PayPal Ventures, que fez seu primeiro investimento numa fintech brasileira.

Monashees e Flourish Ventures, que já investiam na Neon, acompanharam. O banco espanhol BBVA também integrou a rodada por meio do Propel Venture Partners.

O aporte chega nove meses depois do último round, uma Série B liderada pela GA e pelo banco BV (antigo Banco Votorantim), parceiro da Neon desde 2018, em substituição ao Banco Neon (ex-Pottencial, uma instituição de pequeno porte em BH), que teve liquidação decretada pelo BC.

Na época, o encerramento das operações do banco mineiro causou dúvidas sobre o futuro da fintech, mas vale lembrar que a Neon Pagamentos (que nasceu como Controly) tinha apenas um acordo comercial com o Pottencial — substituído à época pelo Banco Votorantim. Ou seja, não havia participação societária da instituição mineira na fintech.

Funding

No total, a Neon captou R$ 772 milhões em três rounds, sem contar os aportes seed e pre-seed em 2014 e 2015, ainda como Controly, cujo principal investidor foi o Distrito Ventures — em 2017, o Distrito fez o exit, com um retorno de 15 vezes.

Com o novo investimento, o banco digital vai investir em marketing para aumentar o market share e reforçar o time — hoje com 750 funcionários e cem vagas em aberto — para impulsionar o desenvolvimento de novos produtos.

A ampliação do portfólio pode se dar, inclusive, com aquisições. O movimento já começou há um ano com a compra da MEI Fácil, plataforma de gestão para microempreendedores, e dois meses atrás com a aquisição da Magliano, a primeira corretora da bolsa de valores brasileira.

Expansão

O objetivo da Neon é expandir a base de clientes, que triplicou do ano passado pra cá. Hoje, soma 9,6 milhões de contas abertas e espera continuar num ritmo acelerado de crescimento até o fim do ano, diz Conrade, sem abrir projeções de expansão.

Sem revelar a quantidade de usuários ativos, o empreendedor conta que o volume de transações e o saldo médio em conta corrente dos usuários dobrou desde março. “Não estamos divulgando, mas queremos crescer o máximo possível. Já passamos do que estava projetado para o ano”, afirma.

Concorrência

A concorrência dos demais players digitais não incomoda. Para Conrade, cada fintech tende a se especializar num segmento ou produto e vai ampliar a oferta por meio de cross-selling de produtos e serviços. No final do dia, sempre haverá um foco maior numa área que, no caso da Neon, é o MEI e a pessoa física insatisfeita com a oferta bancária tradicional.

Por falar em dinheiro parado na conta corrente, num cenário de juro básico a 2%, a Neon começa a avançar também em investimentos. A compra da licença de operação da Magliano é um passo nessa direção, mas não o único.

Discretamente, a fintech montou sua gestora de recursos, registrada na CVM como Neon Investimentos Ltda, conforme apurou a Finsiders e cuja informação foi confirmada por Conrade.

A empresa foi constituída em maio de 2018 e atualmente gere dois fundos: o fundo de renda fixa “Neon Segurança” e o multimercado “Neon Turbo Max”. Juntos, somavam pouco mais de R$ 24 milhões em PL no início de setembro.

Oferta

Hoje, o banco digital oferece a conta digital com cartão de débito e o de crédito, lançado há 18 meses e uma das operações que mais crescem. No início deste ano, a fintech lançou o empréstimo pessoal, mas essa linha de negócio ainda é tímida e por enquanto a carteira é rodada pelo BV, segundo Conrade. “Nosso foco é MEI e o produto cartão de crédito.”

A Neon chegou a ampliar a oferta de soluções para PJ, porém percebeu que seria melhor direcionar os esforços para o segmento de MEI, público que carece de produtos e serviços financeiros. Com a compra da MEI Fácil, a fintech absorveu a base de clientes e hoje reúne mais de 1 milhão de MEIs dentre os usuários. Daqui pra frente, o plano é expandir a oferta de soluções para os microempreendedores.

Onda favorável

O combustível chega num momento em que o setor financeiro passa por uma grande transformação. Em ano de open banking e Pix, os principais bancos digitais estão capitalizados e prontos para novas aquisições e aumento das operações. Ao mesmo tempo, os gigantes se mexem (ainda que timidamente) para não perder espaço. O Next, por exemplo, foi apartado do Bradesco e agora caminhará sozinho com seus mais de 3 milhões de clientes.

Em junho, sem alarde, o Nubank, hoje com cerca de 26 milhões de clientes, fechou uma rodada de US$ 300 milhões e estaria em negociação para comprar a corretora Easynvest, com mais de 50 anos de mercado e uma das primeiras no ambiente digital.

Na semana passada, o Banco Inter, com cerca de 6 milhões de clientes, levantou R$ 1,2 bilhão em um follow-on que vai ajudar a reforçar o marketplace e fazer novas compras.

>> Acompanhe a Finsiders