A Afinz, nova marca da financeira Sorocred, quer multiplicar por 10 o faturamento e atrair novos investidores. “Em 30 anos, construímos um aquário imenso, mas estávamos pescando só um tipo de peixe. Decidimos usar anzóis diferentes para pescar outros”. A metáfora foi usada por Claudio Yamaguti, sócio e presidente da Afinz. Yamaguti concedeu entrevista no último dia 11 ao portal Fintechs Brasil.
O executivo está implantando um ambicioso plano de negócios que vai repaginar completamente a “balzaquiana” Sorocred. Todas as mudanças visam multiplicar por dez o faturamento da empresa, que tem 650 mil contas ativas hoje e uma carteira de crédito de mais de R$ 400 milhões, diz o executivo. Mas, segundo ele, esses são os peixes de sempre – o aquário tem mais de 5 milhões de cadastrados.
Abrir o capital não está nos planos da Afinz, mas em breve haverá uma rodada para atrair investidores e acelerar a implantação das mudanças.
Antes dessa rodada de investimentos, a Afinz deve lançar uma plataforma para conectar emissores e investidores em recebíveis; e anunciar uma parceria com a Conect Car (tag para pagamento automático de pedágios e estacionamentos) que inclui um ano de mensalidades grátis para os clientes da Afinz.
Mas essas são apenas algumas das novidades. A primeira delas foi colocar uma bandeira no cartão – a escolhida foi a Visa. A Sorocred atuava com bandeira própria, um negócio conhecido como “closed loop”, em parceria com lojistas. Os novos clientes já terão os cartões Afinz com a bandeira, mas para os antigos, a transição será aos poucos e negociada.
Segundo Yamaguti, a Afinz é uma instituição financeira que vestiu a roupa de fintech por cima da solidez, credibilidade e clientes herdados da Sorocred. “Eu vinha atuando como conselheiro da administração de algumas empresas de pagamentos, entre elas a Sorocred; no ano passado percebi que a financeira tinha muito potencial para se reinventar. Sugeri um plano de negócios e acabei sendo contratado para tocá-lo”, diz.
“Estamos investindo na descentralização, em marketplace, no ecossistema de serviços financeiros, em contas digitais, plataformas conectadas. O novo modelo é horizontalizado, focamos no nosso negócio principal e estamos fechando parcerias para processamento, seguros e outros serviços. Seremos uma plataforma que oferece serviços de vários players e o cliente escolhe o que quiser”, explica, comparando com plataformas como a Booking.com, de reserva de hotéis.
Yamaguti tem uma longa e sólida carreira no mercado financeiro, focada em meios de pagamento – o último cargo que exerceu antes de se aposentar foi de presidente da Redecard, atual Rede, a empresa de pagamentos do Itaú. Foi ele que capitaneou o fechamento do capital da Redecard, em 2012.Também foi presidente da Abecs, a associação brasileira de cartões.
Enfim, é uma referência no setor. “É muito bom trabalhar com gente jovem. E para esse pessoal que entende tudo de tecnologia e pouco de regulamentação bancária, toda minha experiência também ajuda”.
O executivo acredita que a Afinz nasce totalmente alinhada com os objetivos do BC: desconcentração bancária, inclusão financeira, redução de custos e modernização do sistema financeiro nacional.
Yamaguti estava na Rede quando o BC começou democratizando o mercado de aceitação de cartões, do qual era parte como presidente da Redecard – uma das duas que monopolizam o setor na época com suas maquininhas que aceitavam apenas determinadas bandeiras (a outra era a Visanet). Depois veio o cadastro positivo e a portabilidade do crédito; agora é a hora do PIX e Open Banking.
A marca Afinz resume, ao mesmo tempo, a ideia de afinidade e de atender o cliente de A a Z. “A mudança foi uma virada cultural. Durante um ano nos reuníamos a cada 15 dias com a equipe da Ana Couto (escritório especializado em branding) para repensar a companhia, olhar a jornada do cliente, focar na resolução dos seus problemas e demandas; percebemos que nem sempre o cliente precisava de um cartão, às vezes precisava de outro tipo de crédito, ou de seguro, de opções de investimento, maquinhinha…. vamos aceitar todas as bandeiras”.
A Sorocred nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo, e foi pioneira ao oferecer crédito para pessoas das classes C, D e E e para pequenos comerciantes. Por 20 anos, até 2010, foi uma emissora de cartões que tinha “cláusula mandatória” para buscar no mercado os melhores bancos para financiar os clientes que precisassem. Somente nos últimos dez anos pleiteou e ganhou patente de financeira. “Agora estamos inaugurando uma nova fase”.