A estratégia da agfintech Traive com o novo aporte

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O agro é pop, o agro é tech… o agro é fintech. Começam a ganhar força as startups que exploram soluções financeiras para o setor mais pujante da economia, chamadas agfintechs. A notícia mais recente nessa intersecção entre agro e fintech veio na semana passada. A agfintech Traive acaba de levantar um round de R$ 14 milhões, liderado pela SP Ventures e acompanhado por Bread & Butter Ventures e Techstars, que já investiam no negócio. É o segundo aporte recebido pela startup, que tinha captado um seed money de US$ 1,3 milhão em julho de 2019.

Com uso de inteligência artificial, a partir de tecnologia desenvolvida no MIT, a startup oferece um conjunto de soluções financeiras com base nos perfis de crédito dos produtores. A empresa desenvolveu algoritmos específicos para o setor agrícola e, a partir dessas informações, consegue disponibilizar na mesma plataforma uma gama de soluções de crédito.

Agfintech Traive (Crédito: Reprodução/site)
Agfintech Traive (Crédito: Reprodução/site)

“Embutimos a análise de riscos numa plataforma de soluções de crédito ponta a ponta, desde a entrada do crédito até o pagamento, passando por gestão, documentação”, explica o casal Aline e Fabricio Pezente, fundadores da Traive.

Desenvolvida ao longo dos últimos anos, a plataforma ganhou os primeiros clientes no início de 2020. A agfintech já fechou contrato com duas cooperativas e sete revendas, que vão entrar em operação em janeiro. Empresas do setor químico são a principal porta de entrada de novos clientes, com suas redes de distribuição, contam os founders.

“Temos perspectiva de terminar 2021 com pouco mais de 30 revendas usando a solução financeira e/ou fazendo operações de crédito, em parcerias com securitizadoras e fundos de investimento.”

Com o novo aporte, a Traive vai ampliar a equipe, principalmente em tecnologia. Só neste mês devem ser contratadas mais dez pessoas para integrar o time que hoje tem 17 profissionais, divididos entre os escritórios de São Paulo, Boston e Minneapolis.

O recurso também vai permitir investir em infraestrutura de crédito, novos meios de pagamento, além de novas soluções financeiras além do crédito, como seguros paramétricos, derivativos, relatórios de análises e outros produtos e serviços.

O objetivo é permitir que credores e agricultores consigam prosperar. Daí vem o nome, inclusive, do negócio. “Thrive”, prosperar em inglês, virou “TrAIve” com a inclusão de AI, de inteligência artificial.

Fundada em 2018, a empresa une a experiência de Aline com operações financeiras no agronegócio, com passagens por Louis Dreyfus Company, BRF, Cargill e Citibank, à bagagem de Fabricio no setor financeiro, que atuou por mais de 12 anos no Credit Suisse, encerrando a carreira no banco como vice-presidente de produtos estruturados.

Com a ideia na cabeça, de melhorar a análise de risco de crédito no agro, o casal foi estudar ciência de dados no MIT. “Modelar o agro é difícil porque é muito dinâmico, não é estático”, contam. Logo os empreendedores foram selecionados para uma turma focada em agronegócio da Techstars, o Techstars Farm to Fork.

“Fizemos uma trajetória clássica de startup, com aceleradora, investimento-anjo, chegando ao seed.”

Com o crescimento do pipeline neste ano, a Traive resolveu fazer a nova rodada de captação, que atraiu seus atuais investidores (Bread & Butter Ventures e Techstars), mas especialmente a SP Ventures, principal Venture Capital especializado em agronegócio no Brasil.

Agfintechs

A tese de agfintech é uma tendência no Brasil dada a oportunidade de melhorar a oferta de crédito, seguros e gestão de riscos no setor que responde por um quarto do PIB. Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, acompanha de perto o mercado e diz que o potencial é imenso.

Fundada em 2015, a Aegro tem um software de gestão agrícola, com 2,5 milhões de hectares geridos. No ano passado, iniciou um teste para ofertar seguro de lavoura na plataforma. A startup planeja incluir crédito, carteira digital e antecipação de recebíveis.

“Estamos começando a investir na tese de ser o ‘banco’ do produtor e do funcionário da fazenda”, contou para mim Pedro Dusso, CEO da Aegro, em entrevista ao Valor.

Investida do BTG Pactual, a Agronow, liderada por Rafael Coelho (ex-Monkey Exchange e W7 Venture Capital), nasceu como um sistema de monitoramento de lavouras e agora aposta em ciência de dados e modelos proprietários de inteligência artificial para melhorar os processos de análise de crédito no agronegócio.

Neste ano, a startup trouxe para a operação Eduardo Carvalho, ex-vice-presidente do Standard Bank, e Daniel Issa, ex-Santander. Em junho, lançou um produto de análise de riscos, voltado para tradings, e planeja novas soluções em gestão de riscos.

Quem também aposta na intersecção entre agro e fintech é a Terra Magna, criada em 2017 por três engenheiros formados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Com monitoramento via satélite, fontes de dados alternativas e análise por inteligência artificial, a startup conecta o campo ao mercado de capitais, facilitando a compra de insumos nas revendas, com emissão de CPR como garantia.

Neste ano, a XP Inc. e a securitizadora Vert se uniram para lançar a DuAgro, plataforma que atua com crédito para pequenos e médios produtores, por meio da cadeia de insumos. O primeiro programa de crédito é para clientes da indústria de defensivos Adama Brasil. Com um total de R$ 100 milhões, o projeto piloto prevê atingir 500 produtores, por meio de 20 revendas.

Fundada em 2016 em Londrina (PR), a Bart Digital foi pioneira na emissão de CPR eletrônica e hoje tem uma plataforma de crédito, originação e monitoramento de garantias agrícolas. Em janeiro deste ano, lançou um sistema de emissão e registro de títulos eletrônicos. Desde que entrou no ar, a nova plataforma já rodou R$ 7 bilhões, conta Mariana Bonora, fundadora e CEO da Bart Digital.