A cena de startups está cada vez mais parecendo um zoológico: além dos míticos unicórnios (e seu derivado, o ‘decacórnio’), começam a surgir zebras e camelos – sim, camelos. Fabian Valverde, CEO da fintech Paketá Crédito, especializada em consignado para funcionários de empresas privadas, define seu negócio como “camelo” – em vez de chegar rapidamente a valer U$ 1 bilhão, a Paketá quer crescer de forma sustentável e com qualidade, gerando lucros.
Crescer de forma sustentável e com qualidade, visando o lucro, é a definição de “camelo”, segundo a Norte Capital, um clube de fundadores de startups que viraram investidores (veja o quadro abaixo).
Valverde, 37 anos, nasceu na Bahia mas morou em vários lugares: de Campinas, onde estudou Ciências da Computação na Unicamp, até na Rússia – hoje está em São Paulo. Veio do país do Leste Europeu o nome da fintech: Paketá significa foguete, em russo.
“A Paketá não é a nossa primeira empresa; já tive algumas antes e hoje sou também investidor anjo”, diz. “Já tentaram nos comprar duas vezes, mas não temos pressa, acreditamos no nosso plano. Esse é o momento da Paketá”, acrescenta.
A Paketá fez sua primeira operação em agosto de 2019, e hoje já tem mais de 700 empresas conveniadas de diferentes tamanhos (de 5 a 55 mil funcionários) e R$ 800 milhões em carteira para emprestar para os funcionários dessas empresas.
Ao final de 2019, a Paketá tinha 12 funcionários, 15 convênios e R$ 20 milhões disponíveis para emprestar. “Este foi o ano em que encontramos nosso mercado; 2021 será o ano da escala”, prevê, informando que tem 33 pessoas na equipe hoje e está contratando mais sete. “Nessas 700 empresas conveniadas, temos 150 mil clientes elegíveis a contratar um consignado; no ano que vem, queremos mais do que dobrar, para 350 mil”.
Valverde explica que a ideia da Paketá não é só emprestar por emprestar: “Queremos dar crédito contextualizado, ser uma plataforma de bem estar financeiro, que entrega pílulas de conhecimento para os funcionários, ensinando planejamento financeiro. Em troca, coletamos informações e aprendemos mais sobre os clientes. Com o uso intensivo de dados e machine learning, descobrimos se eles têm perfil de endividado ou de poupador, e assim podemos entregar informações e serviços mais adequados”, explica. Segundo Valverde, ao trocar um empréstimo caro, como cheque especial, por um consignado, os clientes chegam a economizar mais de 40% no valor das prestações.
Foco no crédito consignado privado
Valverde diz que sempre quis contribuir com a desintermediação financeira, para baratear o custo dos serviços e produtos para as pessoas. Segundo o empreendedor, escolheu o crédito consignado privado para funcionários em regime CLT, com desconto em folha de pagamento, porque é uma modalidade pouco explorada pelo sistema financeiro convencional porque os spreads são mais baixos. Segundo o Banco Central, a carteira de crédito consignado privado no Brasil está na casa dos R$ 24 bilhões. “Além disso, oferecendo esse tipo de crédito para as empresas empregadoras, atuamos no modelo B2B2C, que é o nosso nicho”, afirma. Valverde cita, ainda, a baixa inadimplência e o fato de ser um produto facilmente “escalável”.
Apesar de ter sido bem sucedido com a internacionalização de empresas que criou antes, o empreendedor não pensa em levar a Paketá para o exterior: “O mercado aqui é muito promissor, 90% das empresas não ofereciam crédito consignado aos funcionários antes”.
Sobre a necessidade de aportes, ele também descarta: “Já temos linhas pré aprovadas para ampliar a carteira até R$ 4 bilhões. Faremos novas chamadas de capital na medida em que sejam necessárias. Além disso, cada empréstimo realizado é rentável, ou seja, os juros cobrados geram recursos – por enquanto ainda não precisamos de mais”.
A meta inicial da Paketá era chegar a uma carteira de R$ 1 bilhão em 2025, mas devido à velocidade do crescimento, estão revendo esse patamar. “Captação de equity não está nos planos, mas pode acontecer”, antecipa, referindo-se a um envetual aporte de novos sócios no capital da fintech.