Fundada há quatro anos, a Vórtx se dedica a um nicho nada sexy, mas muito importante: o “back office” do mercado de capitais. A fintech de infraestrutura para o mercado financeiro é ideia dos advogados Alexandre Assolini e Juliano Cornacchia, com experiência de mais duas décadas em operações estruturadas.
Enquanto alguns players fazem ou administração de fundos ou clearing das operações, por exemplo, a Vórtx quer conectar todas as pontas, usando inteligência de dados. A fintech chegou para concorrer com nomes tradicionais, como Oliveira Trust, Pentágono e BRL Trust.
A fintech só não atua com estruturação, distribuição ou gestão dos produtos, como jeito de manter a independência no setor. Ou seja, não compete com assets e bancos, mas é parceiro das instituições, oferecendo serviços de administração, custódia e liquidação para fundos e emissões de dívida, como CRI, CRA e debêntures.
Em 2018, a Vórtx recebeu seu primeiro cheque, de R$ 7 milhões, feito por Marcelo Maisonnave, Eduardo Glitz e Pedro Englert, todos ex-XP. “Crescemos 40 vezes desde que começamos a operar”, diz Cornacchia, sem abrir os números. Agora, a fintech está no meio de uma nova captação para acelerar a fase de escala do negócio. A rodada deve ser fechada ainda este ano.
A aposta da dupla de empreendedores se justifica, num momento de expansão do mercado de investimentos, principalmente com o avanço da pessoa física. A indústria de fundos fechou o ano passado com R$ 5 trilhões, o maior volume da história, e já caminha para R$ 6 trilhões — até 20 de novembro, os fundos somavam PL de R$ 5,8 trilhões, segundo a Anbima.
“Está todo mundo focado em comprar corretora, acessar a pessoa física, mas quanto mais ativos e investimentos, mais vai precisar ter trabalho de processamento”, diz Juliano Cornacchia, CEO e cofundador da Vórtx, em entrevista exclusiva à Finsiders.
Para o desenvolvimento da plataforma tecnológica, a fintech bebeu da fonte do Vale do Silício. “Começamos um time do zero, mas trouxemos pessoas com cabeça de fintech, que viveram essa transformação. Trouxemos pessoas que eram atendidos pela indústria, que sabiam qual era dor. Esse casamento do time tech com quem tinha cabeça da dor do cliente ajudou a construir a solução.”
O negócio hoje tem mais de R$ 100 bilhões sob custódia. Mas o potencial é trilionário. “Do total da indústria de fundos, R$ 3,5 trilhões estão nos grandes bancos. R$ 1,5 trilhão está em players independentes. Para esses players que já estão nascendo mais tech, diga-se de passagem, conseguimos conversar melhor com eles”, diz o empreendedor.
Segundo dados da Uqbar, a Vórtx liderou o número de novas emissões como agente fiducário em CRIs no ano passado, com 55% do mercado. No segmento de fundos, a empresa atingiu 138 fundos administrados no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 33% em relação ao mesmo período de 2019.
Hoje, a startup emprega mais de 130 pessoas, continua com vagas em aberto e acaba de estrear seu novo escritório, em Pinheiros.
“Criamos estrutura de partnership em que todo mundo pode ser sócio. Conseguimos mostrar que nosso negócio tem valor presente enorme porque receitas são de longuíssimo prazo.”
Além de todo o back office (administração, custódia, escrituração e liquidação) de fundos de investimento e dívida corporativa, no meio deste ano a fintech começou a rodar contas de pagamento para os fundos e emissores de dívida. Hoje, a Vórtx atende gestoras, bancos e distribuidoras, incluindo os maiores nomes do setor. Também tem fintechs entre os clientes.
Novas soluções
Em setembro, a fintech lançou a VX Meetings, uma plataforma digital para realização de assembleias digitais de fundos e dívida corporativa. O projeto iniciou em outubro do ano passado e, com a liberação da CVM para assembléias digitais devido à pandemia, a Vórtx acelerou o lançamento.
Pelo sistema, os investidores podem votar a distância com segurança. A plataforma calcula quórum e votos, permite assinatura das atas com comprovação de voto virtual e usa tecnologia de dados para validar judicialmente as identidades dos investidores.
“Conseguimos saber de onde logou, qual dispositivo usou, geolocalização, com chave criptografada, guardando hash. Criamos linguagem mais friendly, deixando todo o extrato para investidores aprovarem ou não.”
Outra nova solução é a Cédula de Crédito Imobiliário Eletrônica (CCI), que permite que as transações sejam realizadas por meio de processos automatizados, evitando perdas e atrasos nos envios de documentos, rasuras e incompatibilidade de dados.