Na briga dos ERPs, a startup paranaense Celero não quer meter a colher. Seus principais concorrentes hoje são muito mais as consultorias financeiras e os escritórios de contabilidade do que as startups que têm softwares de gestão. Agora, a empresa se prepara para uma nova fase de sua proposta de ser um departamento financeiro online completo para PMEs.
No fim do ano passado, a Celero comprou um PDV (nome não revelado) e acaba de lançar o Flow PDV, uma ferramenta digital de gestão que reúne num só lugar diversas funções de um lojista, como controle de estoque, fluxo de caixa e outros detalhes. Com o novo serviço, a startup quer avançar na aquisição de clientes do setor varejista — hoje, a maior parte da carteira é de empresas do setor de serviços.
“Começamos a atender varejistas no início da pandemia. Vimos que existia um serviço que gerava valor para o varejista, que tem a dor de acompanhar o fluxo de caixa”, conta João Henrique Tosin, CEO da Celero, em entrevista exclusiva à Finsiders. A nova ferramenta pode ser contratada à parte ou integrada à automação financeira.
O momento não poderia ser mais favorável. Em 2020, a fintech mais do que dobrou a base de clientes e manteve o ritmo de crescimento na ordem de 15% ao mês. Hoje, a carteira de clientes soma mais de 1,1 mil empresas — em grande maioria, negócios que faturam entre R$ 60 mil e R$ 300 mil por mês.
Aos poucos, a Celero quer começar a atender empresas menores em sua plataforma de departamento financeiro online. Para este mês, inclusive, prevê o lançamento de um produto para companhias com faturamento inferior a R$ 20 mil mensais.
“Nosso foco é ajudar PME a ter super poder de uma empresa grande.”
Para 2021, o plano é ultrapassar a marca de 15 mil clientes, diz Tosin. Até 2027, a meta é ajudar 1 milhão de empresas. Para isso, a fintech aposta em uma plataforma digital que automatiza a gestão financeira do pequeno e médio empresário, num modelo SaaS, com uma equipe de suporte formada por administradores e contadores. “Estamos falando de finanças para não financistas. Existe toda uma camada de serviços para ajudar as empresas na interpretação dos dados.”
Hoje, o software construído pela startup está conectado a 80 bancos no Brasil, e a tendência é que a implementação do open banking ajude a acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços financeiros pela empresa. Novas soluções de integração bancária, crédito e portabilidade de crédito já estão sendo testadas em projetos-piloto, conta Tosin, sem abrir detalhes.
O negócio — criado por Tosin, João Augusto Betenheuzer e Pedro Chaves — já atraiu dois aportes, o primeiro em 2019 liderada pelo Harvard Angels, com participação de outros grupos de investimento e investidores-anjo pessoas físicas. O valor da captação não é revelado pela empresa, mas na época o negócio foi avaliado em R$ 10 milhões.
A segunda rodada veio em junho do ano passado, num aporte liderado pelo fundo Honey Island (dos fundadores do Ebanx) e pela GooDz Capital (que já investiu na Transfeera e na Gama Academy. O tamanho do cheque também não é divulgado, mas Tosin diz que o valuation (post-money) foi de R$ 30 milhões.
Depois de duas experiências malsucedidas como empreendedor, Tosin entendeu o que era gestão financeira e fluxo de caixa. Tudo isso enquanto fazia faculdade de administração. Daí veio a ideia de oferecer consultoria financeira para PMEs.
“E começamos a entender que empresas não estavam preparadas só para receber conselhos, o empresário não sabia diferença entre custo e despesa. Era algo básico”, conta o empreendedor. Tanto é que o negócio evoluiu para um modelo de terceirização do departamento financeiro para as empresas, usando Excel e Dropbox. Tudo na mão. Até que os empreendedores chegaram à conclusão de que precisariam de tecnologia própria.
Em julho de 2017, entrou no ar a primeira versão da plataforma de departamento financeiro online. No ano seguinte, a empresa ganhou o Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo Sustentável na categoria “Empreendedorismo Econômico”, e foi selecionada para o programa Scale-Up Endeavor.
Em 2019, a startup também participou do Radar Santander. Foi a partir desses programas que começou a relação com Wagner Ruiz, cofundador do Ebanx e um dos criadores do Honey Island Capital que tem no portfolio, além da Celero, as fintechs Transfeera e Juno.
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