Banco BV investe R$ 100 milhões na Trademaster e se une ao Sofisa no captable

(Publicado às 8h30) Imagine uma fintech com dois bancos como acionistas. Parece estranho, mas a partir de agora essa será a realidade da Trademaster, especializada em soluções financeiras e de crédito B2B. O BV (ex-Banco Votorantim) acaba de fazer um cheque de R$ 100 milhões para a fintech, adquirindo uma participação minoritária no negócio. Com o investimento, a instituição se junta ao Banco Sofisa, que já detinha um percentual minoritário no business — a empresa não divulga como ficará o captable. O controle continua nas mãos de uma holding dos fundadores.

Como parte do acordo para injeção de capital, o BV vai disponibilizar à fintech uma estrutura de funding inicial de R$ 500 milhões, explica Francisco Pereira, cofundador e CEO da Trademaster, em entrevista exclusiva à Finsiders.

Com a área de inovação liderada desde o fim de 2019 por Guilherme Horn — que fundou as corretoras Ágora e Órama e já investiu em mais de 50 startups –, o banco já fez nove aportes em startups e fintechs, segundo o balanço do quarto trimestre de 2020. Entre as investidas, estão Weel, Neon e Olivia. A Trademaster agora se junta a esse grupo. Em 2019, o BV também adquiriu o Just, plataforma on-line de empréstimo criada pelo Guiabolso.

Segundo Pereira, a Trademaster começou a ir atrás de um sócio no segundo semestre de 2020, após o pior da crise da covid-19 ter dado trégua. Além do bom alinhamento, o funding foi outra peça importante para a fintech ter escolhido o banco BV.

Trademaster avança em soluções para varejo e indústria
Trademaster recebe aporte do banco BV  (Crédito: Reprodução/site)

Com o recurso, o objetivo é ampliar o portfólio de soluções para o pequeno varejo e aumentar a quantidade de lojistas que já utilizam a plataforma. Hoje, cerca de 450 mil pequenos e médios varejistas utilizam a Trademaster, número que estava em 240 mil, quando o empreendedor deu sua primeira entrevista à Finsiders.

Sem abrir detalhes sobre as novas soluções, Pereira diz que hoje existe pouca oferta de qualidade para o pequeno e médio varejo, e dá uma pista do que pode ser desenvolvido.

“Imagina que dá para fazer integração de pagamentos de ponta a ponta, deixando o dia a do varejista mais focado no que gosta de fazer. Muita coisa virá no segundo semestre.”

Baseada em nuvem, a plataforma de meio de pagamento se comunica por um catálogo de APIs, integradas em tempo real com o sistema de gestão empresarial (ERPs) dos clientes para capturar as transações de venda sem alterar a operação comercial, utilizando tecnologias como inteligência artificial e machine learning.

Crescimento

Hoje, dos cerca de 450 mil varejistas em todo o país que usam a plataforma da Trademaster, a maioria é de estabelecimentos de bens de consumo massivo, principalmente varejo alimentar (supermercados de bairro, por exemplo), material de construção e varejo farmacêutico. Na ponta das indústrias, a fintech tem mais de 60 clientes conveniados, entre grandes indústrias nacionais, multinacionais e seus distribuidores.

Em 2020, a fintech quase dobrou o faturamento e viu a equipe crescer 40%. O empreendedor não divulga a receita, nem o tamanho da carteira, mas diz que a empresa já transacionou mais de R$ 6 bilhões em sua plataforma. Para este ano, a projeção é transacionar R$ 10 bilhões, meta que Pereira já havia antecipado à Finsiders na entrevista de outubro do ano passado. “Esperamos crescer 120% este ano.”

Outra frente de crescimento será a construção de novos produtos e serviços, em conjunto com os bancos acionistas. Ainda não há projetos desenhados, mas Pereira acredita que essa sinergia com Sofisa e, agora, BV, levará ao desenvolvimento de novas soluções. Daí a importância de investir em data analytics, diz o empreendedor.

O objetivo final não é ser um banco, e sim um provedor de serviços financeiros para pequenos e médios varejistas. E para ganhar musculatura, a fintech não descarta possíveis aquisições. Pereira diz que não há alvos específicos, mas a ideia é começar a olhar para potenciais deals.

No mercado desde 2015, a Trademaster foi fundada por três executivos de grandes companhias: Pereira, ex-diretor de desenvolvimento de negócios da Bunge, Fabio Araujo, ex-gerente de treasury da Bunge e ex-VP do Citibank; e Emerson Moreira, ex-CEO da LTM Fidelidade.

A startup nasceu com foco nas necessidades de indústrias, mas tem avançado para atender pequenos varejistas. “O problema no final do dia é o pequeno varejo, que não tem acesso ao crédito. Damos prazo para ele comprar o que precisa”, explicou Pereira, em outubro, à Finsiders.

A principal concorrente da Trademaster é a Supplier, comprada em 2019 pela Totvs por R$ 455,2 milhões, que também atua com soluções de crédito B2B.