Sem alarde, o Nubank fez movimentações em seu C-level. A cofundadora Cristina Junqueira assumiu como CEO do banco digital no Brasil, no lugar do também cofundador, o colombiano David Vélez, que se tornou CEO global — uma cadeira que não existia até então no neobank, e faz todo sentido depois que a fintech abriu operação em países como Colômbia e México.
A informação, ainda não comunicada oficialmente pelo Nubank ao mercado, foi registrada na seção “eventos subsequentes” do balanço consolidado de 2020. “No dia 19 de fevereiro de 2021, a companhia reconheceu em Assembleia Geral Extraordinária a renúncia do diretor presidente, Sr. David Vélez Osorno, conforme carta apresentada, sendo conduzida ao cargo de Diretora Presidente a Sra. Cristina Helena Zingaretti Junqueira com efeitos imediatos a partir desta data.”
Em nota ao Valor, o banco digital disse que fez uma reorganização na estrutura da operação brasileira, mudança que é um passo natural para organizar a governança e apoiar a expansão internacional do grupo, informou a jornalista Maria Luiza Filgueiras.
Cofundadora do neobank, ao lado de Vélez e Edward Wible (CTO), Cristina não tinha um cargo fixo na fintech, mas chegou a ocupar por um período a posição de COO, conforme apurou o Finsiders — há um tempo, em seu LinkedIn e nas comunicações oficiais, ela se apresentava apenas como co-founder. Suas atribuições eram chefiar áreas como marketing, comunicação e relações governamentais.
A movimentação ocorre num momento em que o maior banco digital do país reduziu suas perdas. Em 2020, o prejuízo líquido do Nubank foi 26% menor no ano passado, ante 2019. No total, o neobank teve perdas de R$ 230 milhões em 2020, contra R$ 312 milhões no ano anterior.
A redução das perdas já tinha sido observada no balanço do primeiro semestre, quando a fintech viu o prejuízo líquido cair 32%, para R$ 95 milhões. Como a empresa tem reiterado há algum tempo, operar com prejuízo faz parte da estratégia de crescimento do negócio.
“O prejuízo é uma decisão de negócio. Escolhemos, agora, seguir investindo a margem que geramos em times, serviços e produtos, em vez de já realizar lucro. Podemos gerar lucro a qualquer hora, mas, neste estágio da nossa empresa, queremos seguir crescendo junto com os nossos clientes. Esse modelo é adotado por algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo e tem o apoio dos nossos investidores”, escreveu no blog do banco Guilherme Lago, que assumiu como CFO este ano, no lugar do ex-diretor do Itaú Marcelo Kopel.
As receitas do neobank atingiram R$ 5 bilhões em 2020, um incremento de 79% em relação ao ano anterior. O volume de depósitos dos clientes cresceu 2,6 vezes, para R$ 29,6 bilhões, o maior patamar já alcançado pela fintech.
Já o número de clientes saltou 68% entre 2019 e 2020, chegando a 33 milhões, o que representa uma média de 36 mil novos clientes por dia. Nesta semana, o Nubank ultrapassou 35 milhões de clientes, sendo 21 milhões que possuem o cartão de crédito roxinho e 32,5 milhões, a conta digital.
No balanço de resultados, o banco digital menciona, ainda, que as transações com o cartão de crédito somaram R$ 95 bilhões no ano passado, um avanço de 49% ante 2019. Em volume de crédito concedido por meio do empréstimo pessoal, o Nubank liberou mais de R$ 1 bilhão no ano passado.
A inadimplência que, historicamente é baixa entre os clientes do neobank, caiu mais em 2020. Conforme o banco, o saldo das operações em atraso por 90 dias ou mais representou 3,7% da carteira total, um percentual menor em relação aos 4,4% registrados em 2019.
O ano de 2020 mostra que o Nubank continua crescendo com rapidez e de uma forma saudável: lançamos novos produtos e soluções que atendem cada vez mais brasileiros e nosso resultado operacional fica cada dia melhor.
Vale lembrar que, em 2020, o Nubank fez três aquisições (Easynvest, Cognitect e Plataformatec) e deu início à sua operação na Colômbia. Outro movimento foi a entrada no mercado de seguros, com o lançamento do produto de vida, em parceria com a Chubb. Balanço recém-divulgado pela empresa aponta que o número de seguros ativos passou de 90 mil, com cobertura de mais de R$ 9 bilhões.
Ainda no ano passado, o banco digital levantou US$ 300 milhões e, em janeiro de 2021, recebeu sua rodada Série G de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões), atingindo valuation de US$ 25 bilhões.