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A Neon Pagamentos está encerrando a conta PJ. É o que mostra um e-mail enviado aos clientes, ao qual o Finsiders teve acesso na tarde desta quarta-feira (14). Na mensagem aos correntistas, o banco digital diz que “vai se despedir” para que possa focar em outras frentes de negócio. E pede às pessoas que transfiram os recursos para a conta PF ou para conta em outra instituição financeira, até 17 de maio.
Procurada pelo Finsiders, a fintech confirmou que realmente foi descontinuado o “serviço de conta PJ, que representava menos de 1% do total de clientes do segmento pessoa jurídica”. Segundo a empresa, o plano é direcionar os esforços para atender o microempreendedor individual (MEI), com soluções como conta digital, maquininha, cartão de crédito, “boleto turbinado” e pagamento do imposto mensal em um clique. “Os clientes de contas PJ foram comunicados com um prazo de 30 dias úteis para retirar o dinheiro da conta”, afirma a empresa, em nota.
A decisão ocorre poucos dias depois que a Neon foi autorizada pelo Banco Central (BC) para funcionar como instituição de pagamento (IP), nas modalidades emissora de moeda eletrônica e emissora de instrumento de pagamento pós-pago. A licença, em tese, faria a empresa não depender mais do banco BV para liquidação das suas operações. Mas a parceria segue ativa, segundo a Neon. Em entrevista recente ao Valor, o presidente do neobank Jean Sigrist afirmou que a instituição se tornará independente ao longo do tempo, não no curto prazo.
O momento é de expansão para a fintech. Em 2020, a Neon triplicou o número de clientes ativos e atingiu 11 milhões de contas abertas. O plano é brigar como (e com) gente grande. O objetivo é concorrer com os maiores bancos do país, afirmou ao Finsiders no ano passado o fundador Pedro Conrade, hoje no conselho da empresa. Internamente, o discurso é ser um ‘Banco do Brasil (BB) 2.0’, diz uma fonte.
Em setembro do ano passado, a fintech captou uma Série C de R$ 1,6 bilhão (US$ 300 milhões) liderada pela General Atlantic (GA), em duas tranches de R$ 800 milhões. O aporte teve participação da BlackRock, Vulcan Capital, Endeavor Catalyst e PayPal Ventures, que fez seu primeiro investimento numa fintech brasileira.
Monashees e Flourish Ventures, que já investiam na Neon, acompanharam. O banco espanhol BBVA também integrou a rodada por meio do Propel Venture Partners. Com isso, se juntaram ao banco BV (antigo Banco Votorantim), investidor no negócio e parceiro da Neon desde 2018, em substituição ao Banco Neon (ex-Pottencial, uma instituição de pequeno porte em BH), que teve liquidação decretada pelo BC.
Na época, o encerramento das operações do banco mineiro causou dúvidas sobre o futuro da fintech, mas vale lembrar que a Neon Pagamentos (que nasceu como Controly) tinha apenas um acordo comercial com o Pottencial — substituído à época pelo Banco Votorantim. Ou seja, não havia participação societária da instituição mineira na fintech.
Ao todo, a Neon já captou R$ 772 milhões em três rounds, sem contar os aportes seed e pre-seed em 2014 e 2015, ainda como Controly, cujo principal investidor foi o Distrito Ventures — em 2017, o Distrito fez o exit, com um retorno de 15 vezes.
A estratégia da Neon passa por atender o público de microempreendedores individuais (MEIs) e a pessoa física insatisfeita com a oferta bancária tradicional. Hoje, o banco digital oferece a conta digital com cartão de débito, de crédito, além de empréstimo pessoal, em parceria com o BV.
Para o MEI, a fintech lançou em outubro de 2020 a conta digital e, em março deste ano, o cartão de crédito. Nesse segmento, a Neon já soma 5 milhões de empreendedores (quase um terço está ativo), contou no mês passado ao Finsiders Daniel Mazini, VP de produtos e negócios e chief product officer (CPO), um ex-executivo da Amazon que chegou à Neon em julho do ano passado. Outros produtos estão sendo desenvolvidos para esse público, disse ele, sem dar detalhes.
Investimentos e aquisições
A empresa vem fazendo aquisições para crescer em alguns mercados. Em 2019, comprou a MEI Fácil, plataforma de gestão para microempreendedores, e em julho de 2020 adquiru a Magliano, a primeira corretora da bolsa de valores brasileira, num movimento importante para ofertar mais produtos de investimento à base de clientes.
Discretamente, a fintech montou sua gestora de recursos, registrada na CVM como Neon Investimentos Ltda, conforme apurou a Finsiders e cuja informação foi confirmada por Conrade. A empresa foi constituída em maio de 2018 e atualmente gere dois fundos: o fundo de renda fixa “Neon Segurança” e o multimercado “Neon Turbo Max”. Juntos, somavam pouco mais de R$ 68 milhões em PL até o dia 7 de abril.
“A gestora é parte da nossa proposta de valor. Ainda não está ofertada para clientes. Estamos testando, aprendendo, desenvolvendo tecnologia. Quando colocamos um produto no ar, com a base grande de clientes que temos, precisa estar perfeito”, afirmou Conrade, ao Finsiders, em setembro do ano passado.
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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