A estratégia da Wiz para fechar negócios com fintechs e insurtechs

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A Wiz, que distribui seguros e produtos financeiros por meio de diversas unidades de negócio, aposta em um hub de inovação para fechar parcerias estratégicas com startups, inclusive insurtechs e fintechs. Chamado de Wiz Labs, o projeto foi criado em 2019 mas ganhou mais corpo do último ano para cá. Atualmente, o portfólio soma 12 empresas — negócios early-stage ou mesmo em fase pré-operacional.

As soluções incluem workflow integrado de gestão; serviços de rastreamento veicular; acompanhamento de obras seguradas e financiadas; aplicação de big data e analytics na interpretação de dados para subscrição automática de riscos. Fazem parte do hub hoje negócios como General Claims, especializada em regulação de sinistros; OnPoint, plataforma que automatiza o relacionamento entre seguradoras e clientes.

“Estamos fechando investimento no que vai se tornar uma grande plataforma de crédito rural”, revela ao Finsiders Heverton Peixoto, CEO da Wiz.

É a primeira entrevista que o executivo concede para detalhar a atuação da empresa com startups e insurtechs, e como evoluem as parcerias. As  startups podem ou não receber um cheque da Wiz, mas a intenção é gerar negócios. “O mais imporante é que inserimos essas empresas no ecossistema de seguros e no mercado de crédito. E só investimos em empresa que também vira fornecedora da Wiz.”

O Wiz Labs não é direcionado apenas para startups, mas também atende empresas maiores que tenham ideias promissoras a serem desenvolvidas em parceria com a Wiz, por meio da Wiz BPO, unidade de negócio que hoje faz a gestão de uma base de 13 milhões de clientes e regula mais de 6 mil seguros ao mês. Ao integrarem o Wiz Labs, as empresas participantes desenvolvem um projeto piloto para avaliar a efetividade, usabilidade e escalabilidade do produto ou solução.

“Criamos um comitê interno com seis diretores, e cada um deles vira sponsor de um projeto, e faz o pitch de defesa para os demais”, explica Peixoto.

Segundo o executivo, as startups passam seis meses no ecossistema da Wiz, ainda sem receber investimento, apenas testando a solução. “Buscamos  enablers, ou seja, o que precisaríamos ter para ser matador na operação de marketplace de seguros”, diz. É diferente da estratégia de M&A, em que a Wiz olha para canal de distribuição.

Neste momento, por exemplo, os focos principais em verticais são startups com soluções em agronegócio e setor imobiliário. “Nas horizontais, estamos olhando muito para big data, data mining, workflow e processamento pensando em agilidade, velocidade e comodidade”, conta. Um exemplo é a startup com a qual a Wiz está conversando, de credit score, processamento e integração de dados, com algoritmos para o agronegócio.

“Também estamos olhando para finance & insurance (F&I) no mercado de veículos, para entender quem está fazendo uma grande  disrupção nesse mercado.”

Questionado sobre parcerias e acordos com aceleradoras e fundos de venture capital, o executivo lembra que Clarissa Schmidt, diretora de soluções digitais na Wiz Soluções, é uma das líderes do recém-lançado comitê de insurtechs da Bossa Nova Investimentos. Depois de fintech, o micro VC colocou para rodar, em abril, o projeto de insurtech que investirá até R$ 5 milhões em 15 startups com soluções no mercado segurador.

A parceria com a Bossa é uma de outras que devem ser costuradas ao longo do ano, segundo Peixoto. “No segundo semestre, vamos nos abrir mais para parcerias com VCs”, antecipa o executivo.

Inovação

Mercado historicamente tradicional e conservador, o setor de seguros vem se transformando — na marra. Em entrevista para uma matéria minha no Valor, em 2020, o executivo havia citado quatro tendências de inovação no mercado segurador: comodidade e conforto na oferta e compra de seguros; produtos “pay per use”; atendimento pós-venda automatizado e visão centrada no cliente.

“A comodidade virou muito mais importante do que era ano passado, e do que era cinco anos atrás. E mercado não está conseguindo entender. A gente acha que o cliente quer 1 mil e um botões, escolher coberturas. A pessoa quer ter a melhor solução para ela, não ficar estudando os produtos. Uma vez que entra na jornada, aquela jornada é pensada para o cliente. E não para o atuário, que é apaixonada pelo produto.”

Heverton Peixoto (Foto: Paulo Negreiros).

Peixoto dá como exemplo — e não poderia ser diferente — a Inter Seguros, negócio no qual a Wiz tem 40% de participação. Um business que vem crescendo de maneira acelerada. Atingiu 366,9 mil clientes em carteira no primeiro trimestre, crescimento de 385% contra o mesmo período de 2020. O lucro líquido ficou em R$ 13,9 milhões, adicionando R$ 5,5 milhões ao resultado da Wiz no período.

“Estamos pensando a mesma coisa com o bmg, implantando de forma eficiente, trazendo canal comercial para os clientes. O apelo é simples. É uma tendência que ganhou importância com a pandemia”, exemplifica Peixoto. Em agosto do ano passado, a Wiz comprou 40% da corretora de seguros do banco bmg por R$ 89,8 milhões. A receita bruta da corretora adicionou, por exemplo, R$ 36,1 milhões ao resultado consolidado da Wiz no primeiro trimestre.

Ao mesmo tempo, a Wiz tenta se recuperar do baque que veio com a perda da licitação, no início deste ano, para ser uma das corretoras da Caixa Seguridade. O contrato com a Caixa, que já tinha 47 anos, durou até fevereiro. Essa unidade de negócios atingiu receita líquida de R$ 140,6 milhões no primeiro trimestre, crescimento de 16,5%. O montante representou mais de 62% da receita líquida consolidada da Wiz, que foi de R$ 224,3 milhões no período.

Transformação interna

A Wiz vem passando por um processo de transformação interna, inclusive. “A companhia ficou muito jovem desde 2018. Mudamos a forma de trabalhar, quebramos as paredes, nos tornamos 100% agile. Criamos basicamente 18 startups, que funcionam com um nível de autonomia e agilidade que antes era impensável”, conta Peixoto.

O executivo enxerga a transparência como um dos elementos cada vez mais cruciais para se manter relevante no mercado. Isso porque os clientes, fornecedores, colaboradores e parceiros estão querendo saber a postura das empresas em relação a questões sociais e ambientais, por exemplo. “Não adianta parecer, é preciso ser de verdade ESG, com valores e na forma como se posiciona para o mercado”, aponta. “As fintechs e insurtechs saem na frente da gente, e cabe à Wiz se transformar.”

Segundo ele, a companhia comprou a bandeira “igualdade de oportunidades”. Trata-se de uma visão que não significa “ser menos meritocrática, mas poder fazer com que as pessoas tenham iguais padrões para largada”, diz o executivo. Internamente, a empresa vem reforçando as bandeiras de apoio à liderança feminina e à pauta de diversidade de gênero. “Reforçamos o comitê de governança, o canal de denúncia anônima, reforçamos orçamento para auditoria interna.”

Comitê para apurar denúncias da PF

A empresa está se reinventando agora, mas precisou lidar com algumas turbulências no passado recente. Em novembro de 2020, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Canal Seguro, com o objetivo de apurar possíveis fraudes no mercado de seguros. Na ocasião, segundo a PF, três ex-diretores da Wiz teriam cometido gestão fraudulenta e desviado R$ 28 milhões da empresa, no período entre 2014 e 2016. O caso levou à renúncia de membros do conselho de administração.

Na época, em fato relevante ao mercado, a companhia criou um comitê especial não estatutário para conduzir a análise detalhada sobre as denúncias que constam do processo. A empresa também reiterou que desconhece qualquer indício da prática de ilícitos pela companhia. “A Wiz esclarece que desconhece qualquer indício da prática dos ilícitos investigados e adotará as medidas necessárias para a apuração completa dos fatos alegados, bem como sempre se colocará à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e prestar quaisquer esclarecimentos necessários para a devida apuração dos fatos”. E reafirmou o “compromisso com a ética e a transparência”.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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