O Itaú Unibanco está “saindo da defensiva e indo para o ataque” contra as fintechs. Quem diz é Pedro Moreira Salles, ex-CEO do Unibanco que hoje divide a presidência do Conselho com Roberto Setúbal, ex-CEO do Itaú. Segundo o chairman, o Itaú precisava se atualizar para concorrer em pé de igualdade tecnológica – e vem fazendo exatamente isso nos últimos anos. Mas dado o tamanho gigantesco do conglomerado, mudança leva tempo.
As ações do banco na B3 que começaram o ano passado valendo mais de R$ 37, sofreram uma derrocada com a pandemia – a mínima chegou em R$ 21 – se recuperaram lentamente desde outubro, mas voltaram a cair. Nem mesmo o lucro de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre (em alta anual de 64%, bem acima do esperado) ajudou. Os analistas desconfiaram da sustentabilidade do resultado e apontaram queda na margem com clientes e nas tarifas de serviços – dois pontos que resultam da pressão competitiva das fintechs. No dia da divulgação do balanço, em maio, as ações caíram 4%. Dois dias depois da live Itaú Day 2021, em 2 de junho, subiam 6%.
Assimetria
Setubal se queixou da assimetria regulatória, que favorece as fintechs e impõe muitos limites operacionais e custos aos bancos. Ele e Moreira Salles protagonizaram um bate papo na abertura da live para investidores, clientes e comunidade em geral.
Durante as mais de três horas do evento, os principais executivos do Itaú detalharam o “ataque”. Entre as iniciativas, está a mudança do posicionamento da marca, que agora aposta no “com você”, no lugar do antigo “feito para você”.
“Não somos um banco nativo digital; somos um banco digital com agências. Estamos intensificando nossa jornada de transformação cultural, ficando mais horizontal, com menos hierarquia, com foco no crescimento e eficiência, e obsessão pelo cliente”, disse Milton Maluhy Filho, que assumiu a função de CEO do maior banco da América Latina em fevereiro último.
Outros pontos foram destacados durante a apresentação. Entre eles, a transferência de 50% de toda a infraestrutura do banco para a nuvem até o final do ano que vem, e a oferta do app de investimentos íon ao private banking. Em breve, o app também passará a oferecer um agregador de investimentos.
Projeto iVarejo 2030
André Rodrigues, diretor da área de varejo do Itaú, falou sobre o iVarejo20/30, projeto ambicioso de digitalização do banco, que combina plataforma tecnológica à filosofia de atendimento humanizado – que por sua vez aciona ‘multiplicadores’ (já são 600). Segundo o Itaú, a plataforma, ainda em fase beta, registrou mais de R$ 2 bilhões de transações no primeiro trimestre deste ano. “Nossa meta é quadruplicar as transações por canais digitais, para que 50% da receita do banco venha deles, em um futuro próximo”, disse.
Ainda segundo Rodrigues, as operações com pequenas e médias empresas – outra seara que vem sendo ocupada por fintechs – dobraram de tamanho em quatro anos. “E a satisfação desses clientes também cresceu, o que revela que estamos em uma curva ascendente sustentável”. O diretor disse que a tecnologia permitiu a “customização em escala” e que, agora, o banco passa a oferecer também consultoria e um ecossistema de parcerias para soluções não financeiras a esses clientes.
Também foram anunciados outros resultados de iniciativas adotadas recentemente. A “rosinha” iti, conta digital para a baixa renda do banco que já tem 7 milhões de usuários, quer conquistar um milhão de novos por mês. Impossível não pensar na comparação com o “roxinho” Nubank.
Chororô e confiança
Em tom de crítica, Moreira Salles afirmou que a história das fintechs é “vendável”, e o mercado financia essas startups sem exigir retorno. “Mas o Itaú Unibanco ainda é sonho de consumo de muitos jovens profissionais; o banco está prestes a fazer 100 anos; e R$ 1 de cada R$ 4 que passam pelo sistema financeiro do pais passam pelo Itaú”. E admite que o banco tem pela frente um baita desafio – o de se livrar do legado analógico: “O que nos trouxe até aqui não é o que nos levará para o futuro”
Apesar das queixas em relação ao ambiente regulatório desfavorável aos bancos, Setubal demonstrou otimismo: “Acredito que os incentivos para as fintechs vão acabar logo, elas vão crescer e representar risco sistêmico, então terão que ser mais reguladas”. O ex executivo, conhecido por ser amante de rock and roll, estava bem à vontade na live, com a barba grisalha crescida e sem a “beca” convencional. Setubal demonstrou confiança na transferência e gestão dos 70 petabytes de dados do Itaú para a nuvem: “Tecnologia nós temos, sabemos usar – já é e será cada vez mais uma vantagem competitiva do Itaú no futuro; em um ano, 50% das nossas operações estarão na nuvem”.
Próximo unicórnio
O Itaú ainda é a segunda maior empresa da B3, com valor de mercado perto dos R$ 300 bilhões, ou US$ 57 bilhões. Se fosse uma fintech, o Itaú seria o quinto maior unicórnio financeiro na arena global – hoje a lista dos Top 10 tem apenas o Nubank como representante brasileiro.