Denise Ramiro
Mareska Tiveron, Chief Compliance & Risk Officer da Zoop, uma startup de Banking as a Service, é advogada há 20 anos, formada em Direito pela PUC-SP e pós-graduada pela FGV. Especialista no segmento de meios de pagamento e bancário, tem passagens pela Rede, Moip (Wirecard), Stone e Pagar.me. Atuou na área de Direito Empresarial em importantes escritórios de advocacia, é associada do IASP, Coordenadora do Comitê de Compliance da Abipag (Associação Brasileira de Instituições de Pagamento) e autora de diversos artigos e livros publicados sobre fintechs e demais temas regulatórios. Em dezembro de 2018 ingressou na Zoop assumindo a cadeira de Vice-Presidente de Compliance, Risco e Regulatório e atualmente é Chief Compliance ﹠ Risk Officer. Leia a seguir sua visão sobre Open Banking:
FINTECHS BRASIL – Quem deve se beneficiar mais, bancos ou fintechs?
MARESKA – Por meio do Open Banking, o Banco Central estabelece um sistema para compartilhamento, entre as instituições financeiras e de pagamentos, de dados cadastrais para abrir contas em banco, como dados transacionais e históricos de serviços, sempre considerando o cliente como o real titular e controlador de seus próprios dados. Diante disso, haverá um aumento de produtos e serviços financeiros que colocam a experiência do usuário em primeiro lugar e empoderam o consumidor bancário, que experimentará a facilidade do envio dos seus dados de uma instituição para a outra por meio de um comando seu, evidenciando, assim, o seu consentimento. A meu ver, a solução é um propósito de democratização do Sistema Financeiro em todos os sentidos, tanto para a inclusão financeira no País como também para que todos os tipos de prestadores de serviços financeiros tenham atuação relevante. Assim, todos precisam se adequar e aproveitar seus respectivos pontos fortes para a conquista dos clientes, que estarão mais acessíveis e próximos a todos.
FINTECHS BRASIL – Qual impacto do Open Banking para o segmento de fintechs?
MARESKA – A principal vantagem do Open Banking para as fintechs é a descentralização na oferta de serviços financeiros, ainda hoje muito concentrada nos quatro maiores bancos do País. A introdução da nova regulação deverá tornar o setor cada vez mais competitivo e, portanto, mais democrático e acessível ao consumidor bancário de forma geral. No Open Banking, as fintechs e os bancos tradicionais estarão na mesma posição com base na própria regulação e sob o “guarda-chuva” do Banco Central. A maior competitividade se dará tanto em número de transações entre empresas quanto na oferta de novos produtos e serviços ao mercado. Os clientes não precisarão necessariamente abrir uma conta em uma fintech para contratar um serviço dela, o que facilita o primeiro acesso às fintechs daqueles consumidores que ainda não têm contas fora dos bancos tradicionais. Tanto para os clientes prévios como para os novos clientes trazidos pela solução, as fintechs poderão, com mais facilidade, oferecer processos customizados e desenhados de acordo com as preferências dos clientes (por serem mais ágeis, tecnológicas e menos burocráticas).
Bancos tradicionais, por exemplo, têm estrutura para escalar, porém cada movimento é grande, custoso e lento. Não é simples ajustar um sistema antigo ou inovar dentro de um ecossistema de oferta de produtos financeiros mais engessado. Assim, entendo que a estratégia de muitos bancos será ficar o mais próximo possível das fintechs e atrair sistemas novos, times inovadores e soluções complementares.
FINTECHS BRASIL – De acordo com sondagens, o brasileiro está curioso com o Open Banking, mas também tem receio de vazamentos de dados. Quais os riscos que o Open Banking pode trazer para o cliente, e o que as fintechs estão fazendo para desfazer essa desconfiança?
MARESKA – Em um primeiro momento, o Open Banking pode assustar pelos riscos do trânsito de dados entre as APIs abertas. As APIs já fazem parte das plataformas das fintechs. O Banco Central também criou uma série de diretrizes e regulamentações para as instituições participantes do Open Banking. Sem dúvida, serão necessárias políticas de privacidade (em observância à LGPD, inclusive) e segurança da informação mais avançadas para garantir um ambiente seguro e protegido contra de vazamentos, perdas e ciberataques. Os bancos e fintechs terão que seguir normas padronizadas de controle de dados, implementação de tecnologias e processos de segurança da informação, testes periódicos e auditorias.
Conforme regulamento do Open Banking, os dados somente podem ser compartilhados por meio dos canais digitais das instituições (sites e apps), ou seja, as funcionalidades tecnológicas de consentimento são fundamentais, já que é proibido solicitar o compartilhamento de dados de clientes por telefone, e-mail, aplicativo de mensagens ou meios impressos (contratos). Neste sentido, as fintechs estão familiarizadas com tais funcionalidades e tipo de tecnologia e mais afeitas para as inovações neste sentido.
Por outro lado, tanto as instituições financeiras quanto as fintechs precisarão estar preparadas para esse processo de interação operacional, de modo que, todos os fluxos de procedimentos, seja de controles internos, cadastro, compliance, gestão de riscos, invariavelmente, seguirão para um modelo digital.
FINTECHS BRASIL – As fintechs precisarão investir mais em segurança, isso não representa custo, portanto, uma desvantagem em relação aos bancos?
MARESKA – A exigência regulatória mais rígida representa um certo desafio para as fintechs e até um certo conflito ou assimetria com sua essência caso não seja proporcional à sua estrutura, exposição ao risco. Porém, a tecnologia é o cerne e deve ser utilizada para atender às necessidades de privacidade e segurança da informação desde o primeiro ponto de contato digital realizado pelos clientes. As fintechs trazem a interoperabilidade entre as instituições e, assim, certamente representam o início de uma nova era, especialmente em termos de oferta no mercado financeiro.
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