Crédito para importação é aposta da Vixtra, que captou um (generoso) seed money

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“Um oceano azul” é como Caio Gelfi (ex-Sertrading e Supplier), Guilherme Rosenthal (ex-Sertrading) e Leonardo Baltieri (ex-Blu e GP Investments) enxergam o mercado de crédito para importação no Brasil. Pensando na escassez de ofertas deste segmento para empresas de médio porte, os três fundaram a Vixtra em julho e acabam de levantar um primeiro round de R$ 35 milhões para navegar esse ‘barco’ ou quem sabe, até um ‘navio’.

A rodada — alta para um padrão ‘seed money’ — foi liderada pelos sócios da Sertrading ,uma das maiores trading companies do país, onde Caio e Guilherme trabalharam. O aporte teve, ainda, a participação de dois experientes executivos do setor financeiro: Mauro Negrete (ex-diretor da Cetip e da B3) e Gustavo Jobim (fundador da GPS Investimentos e ex-sócio da Goldman Sachs).

A fintech — ou seria ‘fintex’? — está de olho em médias empresas de diferentes setores que têm um volume de importação anual de até US$ 10 milhões o que, com base em dados do Ministério da Economia, corresponde a um universo de algo como 39 mil negócios. São companhias que devem movimentar US$ 100 bilhões este ano.

Os empreendedores identificaram quatro principais dores enfrentadas por essas empresas: crédito para capital de giro; produtos financeiros como seguro e hedge cambial; desconfianças do importador sobre a empresa de quem está comprando produtos; e dificuldade em controlar e acompanhar o processo de importação das mercadorias. O objetivo da Vixtra é sanar esses problemas em uma só plataforma.

A solução da fintech é uma forma de pagamento e financiamento em reais, com menor risco cambial, menos burocrática e mais segura. Ao fazer um pedido com o fornecedor, o importador teria que pagar antecipadamente. Pela plataforma — atualmente em MVP –, a Vixtra faz o pagamento à vista, e cobra do importador o valor da importação em reais no momento da chegada do produto no Brasil, acrescido de juros no período, claro.

A taxa de intermediação das operações é precificada com base no tempo de trânsito da mercadoria, o tipo de produto importado, país de origem, rating do exportador, possibilidade de venda da garantia, saúde financeira do importador e com o número de serviços financeiros agregados que o cliente pode contratar, explicam os empreendedores.

Inicialmente, a Vixtra está oferecendo capital de giro, câmbio e hedge, mas a ideia é adicionar outros produtos financeiros ao longo do tempo. Neste momento, a oferta ocorre via parceiros — dois bancos de câmbio e uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), de nomes não revelados.

Na solução da questão da confiança em relação ao fornecedor, a Vixtra criou um algoritmo que captura dados de mais de dez ferramentas — fontes públicas e de parceiros. Conforme ocorrem as operações dentro da plataforma, a startup também vai construindo um banco de dados.

Além disso, a solução conta com um software de visibilidade para controlar os processos de importação. Ao pagar pela plataforma da fintech, o importador pode saber, por exemplo, se o exportador cumpre regras de compliance internacional, além de conseguir acompanhar onde está o seu pedido em tempo real, o cliente conseguir fazer negociações mais competitivas.

Com o seed money, a startup prevê chegar a 60 pessoas até o fim do ano — hoje são 30 funcionários. O foco, claro, é o desenvolvimento da plataforma, com investimento pesado em tecnologia. Hoje no MVP, a expectativa é rodar a solução com mais clientes a partir de novembro e, em 2022, identificar se o produto se ajustou ao mercado (o tal do ‘product market fit’), podendo assim escalar no Brasil.

“Queremos ser ‘first mover’ neste mercado”, definem os empreendedores.

Como é esperado, em se tratando de comércio exterior, a ambição da Vixtra é atingir outros territórios. Depois de consolidar a presença no Brasil, o plano é expandir o negócio para outros países na América Latina, algo que pode começar a ocorrer a partir do segundo semestre de 2022. Mas como todo negócio early-stage, os fundadores evitam falar de perspectivas ou traçar projeções.

O entendimento dos empreendedores é de que as dores são similares em vários países da região e há espaço de atuação no segmento. Dados do Banco Mundial mostram que, excluindo o Brasil (que importa 15% do PIB), a América Latina importa 26% e o mundo, 29%. Em bom português, potencial existe. Agora é execução, como dizem por aí os fundadores de startups.

A depender da competição, a Vixtra tem espaço para crescer entre as médias empresas, que têm dificuldade para conseguir crédito e outros serviços financeiros em grandes instituições.

Mercado

Hoje, os maiores bancos comerciais atuam no segmento oferecendo, por exemplo, as cartas de crédito à importação, assim como existem os bancos de câmbio já conhecidos, entre eles, Rendimento e Ourinvest.

O Bexs Banco é outro que oferece soluções de pagamentos de câmbio para importação e exportação, com presença em mais de 120 países. Recentemente, passou a disponibilizar serviços para pequenas empresas em operações de comércio exterior.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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