A fintech britânica Wise (antiga TransferWise), especializada em transferências internacionais, anunciou nesta quarta-feira (8) o lançamento de um cartão de débito internacional pré-pago em um bom momento para o reaquecimento do setor de turismo do Brasil.
Conforme pesquisa encomendada pela Wise à Morning Consult, que ouviu viajantes internacionais brasileiros, três em cada cinco afirmam sentir mais vontade de viajar para o exterior agora do que nunca, e 28% estão planejando realizar uma viagem para o exterior nos próximos seis meses.
O cartão Wise é, na verdade, uma extensão da conta de multimoedas da empresa, que já existe por aqui. Esse modelo está disponível em mais de 30 países em diferentes regiões, como Europa, América do Norte e Ásia-Pacífico. Mas a empresa acredita que no Brasil a novidade é algo inédito.
A principal diferença agora é que o saldo poderá também ser em reais, além de manter o saldo em mais de 50 moedas em um só lugar, funcionando como uma espécie de ‘casa de câmbio no celular’.
Pedro Barreiro, líder da expansão da Wise no Brasil, explica que, com o cartão, a pessoa evita ter de converter o dinheiro antes de viajar, pois é possível comprar em vários lugares do mundo como um local, com a facilidade de converter moedas entre os saldos da conta Wise instantaneamente e direto pelo app.
O produto permite, ainda, ao brasileiro ter dados bancários em 11 moedas diferentes — incluindo EUA, Reino Unido, Zona do Euro e Austrália.
“É como ter uma conta nos 11 países”, disse Pedro, em conversa com jornalistas na manhã desta quarta-feira.
Para a emissão do cartão, a Wise fez parceria com a Visa, que possui mais de 80 milhões de estabelecimentos credenciados no mundo todo. E nasce com a tecnologia de pagamento por aproximação (contactless).
Os clientes poderão fazer compras em mais de 200 países, tanto durante uma viagem ou intercâmbio, quanto em compras online — com taxa de câmbio real (a mesma taxa vista no Google), sem spread ou outras tarifas ocultas. É possível sacar dinheiro em caixas eletrônicos também, como o Banco24Horas.
A empresa não informou quais são as metas que pretende atingir com o lançamento. De qualquer forma, o produto se destina a qualquer pessoa que gasta, recebe ou envia dinheiro em outra moeda — seja turista, expatriado, freelancer, intercambista ou cliente de lojas online internacionais. E estará acessível à sua base gradualmente.
A empresa atua no Brasil como uma corretora de câmbio autorizada pelo Banco Central (BC) e possui uma IP (instituição de pagamentos) chamada Wise Pagamentos. A companhia não abre seus números, inclusive de sua base de clientes base brasileiros. No mundo todo, 11 milhões de pessoas e empresas usam a plataforma, que processa mensalmente mais de 6 bilhões de libras em transações internacionais.
Concorrência
Criação de cartões e outras soluções financeiras com foco em transferências internacionais não é uma estratégia isolada da Wise. Muito pelo contrário. Bancos tradicionais, como Itaú e Santander, têm oferta nesse sentido, assim como os neobanks C6 e Inter (que, inclusive, comprou em agosto a fintech norte-americana de câmbio Usend para avançar nos EUA).
Entre as fintechs, os casos mais conhecidos e recentes são da Nomad, fintech que permite aos brasileiros a abertura de conta corrente em um banco norte-americano de forma 100% digital. A corretora Avenue, do brasileiro Roberto Lee, ampliou sua oferta recentemente e passou a disponibilizar conta digital e um cartão de débito internacional, como contou nosso parceiro Startups.
Em relação às transferências internacionais, a principal competidora por aqui é a Remessa Online, que fechou parceria em julho com nada menos que o Nubank. A fintech também está se estruturando para atender clientes maiores, como exportadores e importadores. A ideia é que esse projeto saia do papel no ano que vem, junto com outros produtos e serviços, contou o cofundador Alexandre Liuzzi recentemente.
A Wise entende bem que a concorrência é crescente, mas, segundo Pedro, a novidade de hoje vai além de permitir remessas com preços mais competitivos. O aplicativo possibilita que o cliente possa gerir melhor sua “vida internacional”, mais fácil e com mais transparência dos custos, puxando a fila para que os concorrentes façam o mesmo principalmente em relação à clareza das informações.
“Queremos empoderar o cliente. Educar o cliente é essencial. Todo mundo precisa adotar isso”, afirma Pedro.
O executivo reforça a tese com o lançamento apontando a pesquisa encomendada pela Wise à Morning Consult, que também aponta que 60% dos viajantes internacionais brasileiros entrevistados considera a taxa de câmbio inflacionada o maior desafio financeiro em viagens ao exterior, e 55% ainda convertem o dinheiro na moeda de destino antes da viagem.
No entanto, um terço dos entrevistados afirma que essa estratégia de conversão é um dos maiores incômodos financeiros durante uma viagem internacional. Questionados o quão útil o cartão lançado pela Wise seria para eles, 94% responderam que a solução seria muito ou extremamente útil.
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