Oito tendências para 2022 – Parte 2: Insurtechs passam de 8,5% para 14% do total das fintechs em menos de um ano, e não vão parar por aí

Dario Palhares

Com inflação e juros em alta e atividade econômica em baixa, 2022 será, com certeza, uma temporada espinhosa para as empresas em geral, que, ainda por cima, terão de lidar com oscilações de mercado causadas pela da corrida eleitoral.

Apesar desses pesares, especialistas no universo doméstico das fintechs, formado por mais de 1,2 mil startups, traçam perspectivas positivas para este ano.

As apostas se concentram em oito vertentes: seguros, câmbio, real digital, novo marco legal das garantias de empréstimos, agro, Iniciadores de Pagamentos, contas digitais para empresas e a demanda dos fundos de pensão.

Uma das oito tendências que devem manter as fintechs em alta em 2022 é o promissor negócio das insurtechs, que já representam quase 14% do mercado de fintechs. E, pelo que tudo indica, não vão parar por aí.

Segundo levantamento feito pela consultoria Distrito a pedido do jornal Valor Econômico, elas já somam 169 e respondem por 13,5% do ecossistema de fintechs brasileiras, sendo superadas apenas por startups ligadas a meios de pagamento, crédito e backoffice. Há menos de um ano, o Distrito Fintech Mining Report apontava pouco mais de 98 delas, que representavam 8,5% do total de fintechs na época.

Bolada

Segundo estudo da KPMG e a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), fintechs e insurtechs receberam 28% dos R$ 13 bilhões investidos por fundos de venture capital em startups brasileiras no quarto trimestre de 2021. 

Na semana passada, mais uma delas, a 180° Seguros, recebeu uma bolada de R$ 177 milhões em rodada série A liderada pelo 8VC, já investidor da empresa, com a participação de Dragoneer, Monashees, Atlantico, Quartz, e Norte. O capital será direcionado para novas contratações, tecnologia e novas parcerias, segundo comunicado da empresa.

Fundada em 2020 a 180° atua por meio de um modelo B2B2C, provendo uma solução para que empresas possam desenvolver produtos e vender de forma i digital, seguros e assistências para seus clientes, que funciona como um seguro embutido ou “embedded insurance“.

Filé mignon

Boa parte do filé mignon desse nicho, observa o consultor Bruno Diniz, da Spiralem, participa do sandbox regulatório, que contemplou, em suas primeiras edições, 31 empresas com propostas e focos os mais variados: de animais de estimação a microsseguros para pequenos empreendedores, passando por aparelhos eletrônicos, automóveis, caminhões e até bicicletas.

“Há casos bem inovadores, para os padrões locais no sandbox da Susep. Um exemplo é uma startup de seguros de automóveis, que cobra de acordo com os quilômetros rodados”, diz Diniz. “Outro destaque é a Pier, que oferece propostas de apólices em menos de um minuto.”

A exemplo do setor bancário, às voltas com o Open Banking, as seguradoras também vivem tempos de modernização e abertura. Iniciada em 15 de dezembro último, a implantação do Open Insurance, acena, além de um maior controle dos consumidores sobre os seus dados, com a diversificação da oferta de produtos e perspectivas de inovação em um ramo de atividades conservador por natureza. “A utilização de algoritmos e de tecnologias de ponta, como machine learning e computação quântica, garantirá instrumentos mas precisos de análise de riscos e, consequentemente, preços menores aos compradores de apólices”, comenta o investidor anjo Dorival Dourado Júnior.

Os ventos inovadores que sacodem o segmento lançam dúvidas sobre o futuro da sua estrutura de comercialização, ancorada em cerca de 95 mil corretores – caso único entre os grandes mercados seguradores do planeta. O surgimento de fintechs especializadas no ramo, as chamadas insurtechs, promete causar baixas expressivas nesse exército de vendedores, a exemplo do que ocorreu com os despachantes, que se tornaram moscas brancas após o surgimento de centrais públicas de expedição de documentos, caso do Poupatempo paulista.

“Não acredito que os corretores corram risco de extinção, pois, a rigor, os clientes do setor são deles, e não das seguradoras”, diz Dourado. “No entanto, não há dúvida, a corretagem tende a perder muito espaço. Quem quiser seguir na atividade terá de mudar o modus operandi”.