O Noh que faltava para resolver a 'treta' dos gastos compartilhados

Pagar boletos não é das coisas mais prazerosas. Pior ainda quando dá treta na hora de dividir os gastos com outras pessoas. De olho nessa dor, a fintech Noh (lê-se “Nó”, mesmo) desenvolveu uma solução que automatiza a divisão de despesas, facilitando a vida de casais, amigos ou quaisquer outros grupos.

Basta um clique para dar um “nó” e, assim, pagar em conjunto a conta de luz, o supermercado, ou uma viagem, por exemplo.

“Vamos virar o meio de pagamento do brasileiro, com uma experiência incrível. Queremos que as pessoas amem pagar contas”, afirma Ana Zucato, a CEO e cofundadora da fintech, em entrevista ao Finsiders.

Hoje, a fintech tem uma lista de espera com mais de 1,5 mil pessoas – sem qualquer divulgação mais agressiva. Desse número, 350 grupos com duas pessoas cada serão liberados para utilizar o app, até o fim de março. O lançamento para o público em geral ocorrerá em abril.

Os usuários poderão fazer pagamentos por meio de boleto ou transferências via Pix, sem custo. A fintech é remunerada pela taxa de intercâmbio dos estabelecimentos, a cada transação. Também em abril, a Noh vai colocar no ar um cartão pré-pago com a bandeira Visa.

Para rodar sua solução, a startup utiliza a Dock – empresa de tecnologia para meios de pagamento e digital banking – como provedora de infraestrutura de pagamentos e conta digital.

Por ora, na versão beta, o app permite a criação de um grupo, mas a ideia é permitir ao longo do tempo que o usuário monte quantos grupos quiser, fixos (para gastos recorrentes) ou temporários (a viagem de férias ou o churras do domingo, por exemplo). Para ter acesso à ferramenta, é preciso ter uma conta bancária.

No futuro, quando o Open Banking estiver num ritmo mais adiantado de implementação, a expectativa é que os valores possam ser debitados diretamente das contas dos usuários.

Isso não significa, porém, que a Noh esteja com planos de pedir a licença de iniciador de transações de pagamentos (ITP), figura prevista na terceira fase do Open Banking. “Não é nosso core. Nosso core é divisão de gastos. Então, vamos provavelmente fazer parceria com um deles, plugando APIs”, diz Ana.

Um pouco de contexto: Atualmente, apenas o Mercado Pago – fintech do Mercado Livre – está plenamente operacional com sua ITP. As fintechs Celcoin e Quanto receberam a aprovação do Banco Central (BC) no ano passado e devem começar a operar em breve. A Cumbuca entrou com o pedido no fim de 2021 e espera receber a autorização no segundo semestre deste ano.

Voltando à Noh… A expectativa da startup é colocar o produto no ar, lançar o cartão e “observar”, diz Ana. “Se chegarmos à quantidade de 50 mil usuários no fim do ano, mandamos muito bem. Estamos construindo uma experiência. Somos um time de produtos, já executamos muito.”

Trajetória e seed money

A primeira versão da solução – que nasceu como Divy – começou a ser construída em agosto do ano passado, ainda sem código. Inicialmente, o produto foi testado com 20 grupos de pessoas. “E começamos a ver que o problema é real. Cerca de 85% dos gastos são com outras pessoas, começando pelo custo fixo da casa, até outros casos de uso, como happy hour, viagens, Uber, iFood. Até bolão da Mega-Sena”, conta Ana.

Em outubro, a startup fechou um seed money de US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões, no câmbio da época). “O dinheiro caiu na conta em dezembro, e ajudou a planejar o que vai ser 2022”, diz Ana.

App da Noh (Divulgação)
App da Noh (Divulgação)

A rodada foi liderada pelo Kindred Ventures, fundo de Kanyi Maqubela e Steve Jang, que já investiu em empresas como Uber e Coinbase. O round teve participação também da Future Positive, veículo de investimento de Biz Stone, um dos fundadores do Twitter, e de Fred Blackford.

O aporte contou, ainda, com os fundos The Twenty Minute VC e Propel Venture Partners, fundo do banco espanhol BBVA – que também investe no banco digital brasileiro Neon.

Além deles, a captação teve cheques de investidores-anjos como Patrick Sigrist (iFood); André Penha (QuintoAndar); Pedro Conrade (Neon); Dhaval Chadha (Justos); Tom Blomfield (Monzo e GoCardless); Scott Belsky (Behance e VP de produto da Adobe); e Ayo Omojola (Cash App).

A estratégia de aquisição de clientes neste começo será orgânica e viral, no famoso “boca a boca”. A fintech também planeja parcerias para atingir um número maior de usuários. Sem abrir o nome, a empreendedora conta que está fechando um acordo com uma proptech para que ela ofereça a Noh aos seus clientes que precisam pagar o aluguel, por exemplo.

“Vamos eventualmente fazer parcerias com e-commerces, para estar em outros lugares”, aponta a empreendedora. “Imagine que em um e-commerce, aplicativo de marketplace ou de delivery será possível encontrar um botão ‘Dividir conta’. Esse botão vai ser ‘powered by Noh’”, diz.

Seria algo semelhante, por exemplo, ao que têm feito alguns provedores de BNPL (‘buy now, pay later’) no check-out de e-commerces e marketplaces, seguindo a tendência do ‘embedded finance’, em que cada vez mais os serviços financeiros são oferecidos na jornada dos clientes, de maneira contextual e invisível.

Background

É a primeira jornada de Ana como empreendedora. Administradora de formação, ela começou a carreira no e-commerce de moda OQVestir (do Icomm Group), depois atuou por quase três anos no Guiabolso, onde foi product manager e head de produto mobile, ajudando a construir a plataforma de empréstimos Just (vendido em 2019 para o banco BV).

Ana teve passagem, ainda, pela fintech norte-americana Intuit como product manager e foi country manager no Brasil da startup colombiana Truora, de soluções antifraude, onde ficou por quase um ano.

Até que cruzou com Felipe Cabral (ex-QuintoAndar), que também tinha feito graduação na FGV (Fundação Getulio Vargas). Completa o trio de cofundadores da Noh o analista de sistemas Octavio Turra, que foi CTO do Guiabolso e antes atuou como desenvolvedor na Superdigital, entre outras empresas.

Mercado

A Noh não é a única a tentar melhorar a dinâmica dos pagamentos compartilhados. Em outros países, há diversas empresas com esse intuito, entre elas, as norte-americanas Braid e Ivella, a mexicana MoneyPool e a francesa Lydia.

Por aqui, a Cumbuca fez o lançamento oficial de sua plataforma em janeiro, depois de rodar uma versão beta com um total de 100 famílias. A expectativa é chegar a cerca de 25 mil famílias neste ano, com foco especialmente em classes mais baixas, conforme disse Daniel Ruhman, o fundador, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

A fintech – que aguarda licença de iniciador de pagamentos – recebeu recentemente um seed money (valor não revelado) com mais de 20 investidores e empreendedores, entre eles, Verve Capital; Renato Freitas, um dos fundadores da 99; Bruno Balbinot, fundador da Ambar; Fernando Gadotti, fundador da DogHero; Pedro Sirotsky, da Barrah/B1; Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, entre outros.

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