Por Alex Körner*, exclusivo para o Finsiders
Ano de 2010. Na caixa de e-mails, recebo mais uma propaganda para usar um cupom de desconto em algum restaurante da região. Inicia-se a invasão dos sites de compras coletivas no mercado brasileiro. Enquanto isso, o Banco Central (BC) como regulador do mercado financeiro acelera novas regulamentações que passam da abertura do modelo de adquirência — marco legal do sistema de pagamentos brasileiro — até muitas outras que vieram em seguida.
Enquanto no mercado dos cupons conhecemos o destino, no outro acompanhamos centenas de fintechs fazendo história e, muitas, se tornando unicórnios conhecidos nos dias atuais. Nesse período de 2010-2011, surge a primeira onda de insurtechs mirando um mercado de 20 milhões de novos consumidores no e-commerce. Se compravam produtos básicos e por que não comprariam seguros no digital?
Com este olhar, uma série de empreendedores do mercado de seguros e outros setores se movimentaram e criaram corretoras digitais no mercado. Primeiramente a Minuto Seguros e a Bidu, fundadas em 2010 e 2011.
Ainda na primeira onda, depois apareceram diversas outras como Sossego (2011), Segurar.com (2012) e a partir daí a Youse (da Caixa Seguradora) em 2015 e a Thinkseg em 2016, Ciclic (BB Seguridade com a Principal), Kakau, Pitzi, dentre outras (lista não exaustiva).
Essa primeira onda foi fundamental para chegarmos onde estamos hoje, pois seu principal foco foi na digitalização do modelo de vendas de seguros. Saímos de um modelo básico de papel para uma nova forma de vender seguros, ainda que a complexidade da época tornasse esse modelo em um formato de digitalizar um processo burocrático de contratação. Mesmo assim, houve um impacto significativo, abrindo discussões no setor de ser mais simples e digital.
O que aconteceu com as empresas da primeira onda? Poucas sobreviveram e os motivos podem ser amplos. Desde a cultura do consumidor, processos digitais ainda complexos com termos técnicos de seguros, modelos de cobranças ou — quem sabe — boas ideias no momento errado. Foi o ato de coragem destes empreendedores que permitiu que chegássemos a esta segunda onda de insurtechs.
Ano de 2019. Aqui é onde começa a segunda onda de insurtechs. A partir da publicação da circular 592, de 26 de agosto de 2019, da qual se permite seguros com duração (vigência) menor que 24 horas ou intermitente (liga e desliga), abriu um novo horizonte de possibilidades.
Por exemplo: agora era possível criar um produto que você poderia ligar ou desligar a hora que quisesse. Vai viajar e quer proteger sua casa pelo final de semana? Pode. Quer sair de bike e se proteger de qualquer possível acidente por uma hora ou pelo passeio apenas? Pode também. Abre-se um leque criativo gigante de atender necessidades específicas dos consumidores ou necessidades que eles ainda nem percebem ter, em qualquer momento ou horário.
Por outro lado, as mudanças regulatórias no mercado de seguros continuaram ao longo de 2020 e 2021 ajudando a definir novas regras e um ambiente para a inovação. Só em 2020, foram 16 novas resoluções e mais de 20 circulares alterando normativas e resoluções anteriores.
No ambiente de inovação, abre-se também um novo marco regulatório, baseado em tecnologia que aborda itens específicos de seguro e, além disso, o sandbox que já teve sua 1° e 2° edições.
Esse novo ambiente permitiu uma nova explosão de empresas focadas em seguros. Até 2021 eram mais de 110 insurtechs que atuavam na cadeia de seguros, desta vez em marketplace, comparação, produto, distribuição, infraestrutura e back-end de tecnologia, além de serviços adicionais.
E, também vale destacar, a importância do sandbox que permitiu um ambiente controlado de novas seguradoras digitais com capital regulatório reduzido, mas que favorece nesse ambiente a criação de produtos diferenciados. Não será difícil que em 2022 chegaremos perto de 150 empresas novas no setor de seguros.
Um detalhe sobre a segunda onda: a maior parte das insurtechs é que 55% estão focadas em B2B, 40% delas no modelo B2C e, apenas, 5% são B2B2C, segundo relatório do Distrito.
E, agora, com a força de investimentos-anjo, aportes seed e Série A, as novas empresas estão ganhando mais força, capital e com certeza, diferentemente de 2010, um novo consumidor mais digitalizado que fará a diferença nesta próxima onda.
Quem será o primeiro unicórnio do mercado de seguros? Existem mais de 110 insurtechs, mas estamos falando de um pool de menos de cinco empresas que podem ser potenciais unicórnios neste momento. Hora de acompanhar este mercado!
*Alex Körner é cofundador e CIO (Chief Insurance Officer) da 180° Seguros, insurtech que atua em um modelo B2B2C com produtos de seguros e suportes.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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