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Em processo de implementação no Brasil e com muitos desafios pela frente, o Open Banking tem potencial de injetar cerca de R$ 760 bilhões no mercado de crédito local em um horizonte de dez anos.
A estimativa consta de um estudo feito pela Serasa Experian, divulgado na manhã desta quarta-feira (13) para um grupo de jornalistas.
Conforme a pesquisa, o Open Banking poderia incluir 4,6 milhões de pessoas no mercado de crédito brasileiro. O impacto do compartilhamento de dados financeiros também seria sentido entre a população que já acessa crédito, aponta o estudo.
“O Open Banking beneficia também os 130 milhões de brasileiros que já estão no mercado [de crédito]. A grande contribuição dos dados do Open Banking é melhorar a estimativa da capacidade média de pagamento das pessoas”, analisou Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian.
Segundo o estudo, o Open Banking contribuiria com uma elevação de 49% na capacidade de pagamento mensal média dos brasileiros, passando de R$ 929 para R$ 1.391. “Há hoje no mercado de crédito uma subavaliação da real capacidade de pagamento mensal dos brasileiros”, afirmou Luiz.
Na prática, agregando os dados de Open Banking ao conjunto de informações já existentes, o setor financeiro tem a oportunidade de aumentar os limites de crédito, mantendo ou até mesmo reduzindo o atual nível de risco, porque haveria uma diminuição na assimetria de informações.
Pela análise da Serasa, o aumento na capacidade de pagamento seria mais impactante nas regiões Norte (+80,6%) e Nordeste (+57,9%), e principalmente entre mulheres (+54,8%) e jovens de até 25 anos (+95,9%).
“Por ano, 4 milhões de novas empresas são abertas, e normalmente por jovens, que têm dificuldade de comprovar renda, por exemplo. Com OB, a própria base de pagamentos que transita nas contas vai formando a capacidade real de renda dessas pessoas”, disse o economista-chefe da companhia.
Sobre o potencial de gerar R$ 760 bilhões em operações de crédito em dez anos, Luiz ressalva que o montante se enquadra em “condições normais de mercado”, com expansão dos limites de crédito “com segurança”, mantendo o mesmo risco de inadimplência, ou até diminuindo. “Obviamente não estamos falando em superendividamento”, ponderou.
A ampliação do mercado, com a agregação de dados de Open Banking, teria condições de adicionar mais 10 pontos percentuais na relação crédito/PIB, que hoje é da ordem de de 55%, contra 80% ou até mais em países desenvolvidos.
“O Cadastro Positivo já tinha potencial de adicionar 20 pontos [percentuais], e o Open Banking colocaria mais 10 pontos, em dez anos. Com isso, nos aproximaríamos do Chile, por exemplo, em relação crédito/PIB”, disse Luiz.
Dados divulgados também hoje pela Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC) apontam que o Cadastro Positivo soma atualmente 62% da população brasileira em seu banco de dados. A concentração está nos Estados de São Paulo (75%) e Rio de Janeiro (72%), seguidos pelo Distrito Federal (71%). Os números consideram tanto pessoas físicas quanto empresas.
Voltando à pesquisa feita pela Serasa, para chegar a todas essas estimativas citadas acima no texto, a empresa cruzou uma amostra de 15 mil pessoas inscritas no Cadastro Positivo com dados oriundos do compartilhamento de dados via Open Banking.
A análise considera consumidores que somam até 500 pontos no Serasa Score 2.0 — medida criada pela empresa a partir da combinação entre dados negativos, informações no âmbito do Cadastro Positivo e dados via Open Banking.
Tecnologia
Durante a coletiva, a Serasa deixou claro que quer se posicionar como um operador de dados de Open Banking. Com experiência a partir da Experian em projetos do gênero em países como Reino Unido e Austrália, a companhia resolveu “tropicalizar” uma solução de categorização de dados.
A ferramenta — que nasceu no braço de inovação da empresa no Reino Unido, identifica e categoriza os dados compartilhados via Open Banking em 134 categorias predefinidas, com índice médio de acurácia de 90%, independentemente do caso de uso.
O produto está disponível no Brasil há cerca de dois meses, e já tem um pipeline “grande” de clientes em fase de testes, contou Leonardo Enrique, head de Open Banking da Serasa Experian no Brasil. Estão nessa lista grandes bancos, inclusive do top 5.
“Temos como clientes também as cooperativas, fintechs e os bancos digitais testando esses produtos, e que já viram benefício claro e tangível do que o Open Banking pode trazer”, disse Leonardo.
Mercado
A Serasa não é a única a desbravar o terreno de oferta de tecnologia com foco no Open Banking e sua evolução, o Open Finance. Fintechs como Pluggy (que fechou acordo recentemente com a B3), Belvo (investida da Visa), Klavi, Quanto (investida do Itaú e do Bradesco), entre outras, têm diferentes soluções, que incluem agregação e categorização de transações.
“Nosso grande diferencial é a complementariedade de informações. O potencial que conseguimos trazer dos dados, gerando uma acurácia é, de fato, algo comprovado”, afirmou Leonardo, quando perguntado pelo Finsiders sobre como a empresa se diferencia nessa arena de competidores.
Contexto
A iniciativa do Banco Central (BC) no mercado local é um dos projetos de Open Banking mais ambiciosos no mundo todo. Estimativa da Accenture aponta um mercado global endereçável de US$ 416 bilhões para o Open Banking, a ser criado nos próximos três anos.
No Reino Unido, referência no tema, o projeto completará quatro anos em 2022. No ano passado, 26,6 milhões de pagamentos de Open Banking foram registrados no país, um aumento de 500% em 12 meses.
Por aqui, apesar dos adiamentos ocorridos nas fases 2 e 3, a implementação do Open Finance está em curso. O funcionamento completo do sistema está previsto para setembro deste ano.
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