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Embora hoje qualquer tendência parece apontar uma queda lenta e irreversível dos bancos tradicionais até seu desaparecimento, considero que estas instituições financeiras têm grandes fortalezas que provavelmente os manterão relevantes.
São elas: profundo domínio da indústria financeira; elevada expertise; e inteligência acumulada forjada diante de diversas crises e intervenções do mercado; alta diversidade de produtos com capacidade de compensação diante de oscilações de cenários econômicos; forte e extensa base de clientes; e vasta capacidade de navegação dentro de um mercado extremamente regulado.
Sob o ponto de vista de imagem, os bancos contam por isso com sua reputação, solidez e confiança construída historicamente junto aos seus clientes. Apesar de estarem sofrendo assédio e competição crescente dos entrantes, muitos destes atributos não conseguem ser substituídos rapidamente, ainda mais que certamente os incumbentes não vão ficar assistindo placidamente as oportunidades e evoluções do mercado.
Bancos vs fintechs, ou diferentes formas de inovar?
As fintechs preenchem uma lacuna específica no mercado — deixada em aberto pela lentidão com que os bancos tradicionais capturam as mudanças e demoram a reagir.
O principal objetivo destas empresas disruptivas e seu impulso para a inovação é alavancar a tecnologia para atender às novas necessidades financeiras dos clientes e proporcionar experiências diferenciadas, alinhadas às suas necessidades.
Os bancos, por outro lado, atendem em geral a um público amplo com objetividade — suas ofertas podem ser variadas e amplas com uma gestão forte de risco e ganhos de escala, maximizando o uso do capital, mas dificilmente atingem com qualidade e flexibilidade necessária nichos e demandas mais personalizadas.
Historicamente, os bancos ficaram atrás das fintechs na capacidade de incorporação de inovações tecnológicas e no desenvolvimento de soluções centradas na experiência do cliente. São instituições altamente regulamentadas que fornecem serviços estáveis e confiáveis por meio de um modelo de negócios resiliente. Mas são importantes para o funcionamento adequado de muitas sociedades modernas.
Diante de cenários de recessão e escassez de liquidez, os bancos em geral correspondem irrigando a economia, sendo peças fundamentais para a retomada do crescimento econômico.
As fintechs raramente optam por competir diretamente com isso, pois na verdade, têm a sua principal competência e valor agregado residindo em localizar e resolver dores específicas para segmentos relevantes e inexplorados, desenvolvendo e expandindo suas plataformas a partir de uma tese principal.
Sua popularidade crescente está impulsionando as preferências dos clientes por soluções digitais e serviços financeiros customizados e muitas vezes gratuitos.
Para se conectar com esta tendência de forma prática, os bancos têm cada vez mais procurado realizar parcerias com startups, se complementando mutuamente para alcançar grupos de usuários que de outra forma seriam inacessíveis.
E como o Open Banking impacta os bancos?
O Open Banking é um ambiente de empoderamento dos clientes que, por meio do consentimento, pode autorizar que os seus dados possam ser compartilhados com outras instituições e, com isso, eliminando a assimetria de informações entre os agentes do mercado, gerando assim uma maior competição.
Trata-se de um mecanismo que desafia todo o mercado, sejam os tradicionais ou os desafiantes da indústria. Mas também é uma maneira pela qual os bancos podem acelerar a inovação por meio de um processo simplificado de interoperabilidade em todo o mercado.
Esse novo ecossistema permitirá que as instituições financeiras (IFs) possam utilizar e integrar serviços e produtos desenvolvidos por terceiros — sejam bancos especialistas ou fintechs com soluções diferenciadas – podendo com facilidade ser integrado um conjunto de melhores ofertas dentro da sua plataforma, mediante uso de APIs padronizadas e abertas, fortalecendo o serviço aos seus clientes.
Embora isso levante algumas questões sobre segurança dos dados transitando por plataformas fora do domínio da muralha de proteção interna das instituições e, além disso, traga uma complexidade adicional para adequação dos antigos legados dos incumbentes, o Open Banking é uma abordagem projetada para impulsionar a inovação e melhorar a experiência do cliente (também) dos bancos.
Claro que isso exigirá parcerias com novos provedores de serviços externos, mas que poderá resultar em uma experiência sem atrito para o cliente. Os bancos poderão ser levados a se concentrar em se tornarem consultores especializados baseado no relacionamento construído ao longo dos anos junto aos seus usuários e se diferenciarem no mercado financeiro de forma mais acelerada.
Os bancos do futuro precisarão estar conectados — presentes e relevantes para os clientes enquanto navegam no seu dia a dia. O futuro do sistema bancário envolverá insights poderosos e relações de profunda confiança construídas com os usuários, baseados em dados adquiridos com maior facilidade com o Open Banking.
Principais desafios dos bancos atualmente
Devido à sua natureza, os bancos devem redesenhar os seus legados do passado e assim como sua arquitetura de negócios para poder inovar. Isso hoje os torna mais lentos para reagir aos desafios emergentes e os impede de aproveitar as vantagens das tecnologias emergentes. Uma estratégia para superar este obstáculo é essencial para sua sobrevivência nesta jornada de evolução da indústria financeira.
Mudar para uma mentalidade de construção focada nas novas necessidades e experiências do cliente significará reestruturar as hierarquias internas, para tornar a dinâmica de evolução mais ágil. Os resultados disso devem incluir descentralização e autonomia dos seus líderes, maior tolerância a falhas e principalmente tomada de decisão mais rápida.
Como os bancos suportarão a tendência de ‘embedded finance’
Por outro lado, parecem existir ameaças também vindo de diversas indústrias que buscam a desintermediação por meio da possibilidade de prestar serviços financeiros diretamente aos seus próprios clientes.
De fato, os bancos terão que se adaptar a este novo cenário e saber interagir com os novos players, oferecendo suas plataformas e suas competências para se conectar no que fizer sentido. Poderão sempre contribuir por meio de análises de riscos dos clientes e/ou capacidade de usar dados para identificar os momentos adequados de abordagem dos clientes com ofertas oportunas.
Para continuarem relevantes, os bancos precisarão consolidar-se por meio de parcerias, em muitos casos se conformando em ‘apenas’ suportar os processos de liquidação com sua extrema capacidade de processamento das operações em suas plataformas de altos volumes, se tornando invisíveis embora ainda, de certa forma, onipresentes.
A visibilidade reduzida da marca certamente poderá ser um dos principais custos dessa mudança, o que limita neste caso o seu poder de influência sobre os seus usuários fora do ambiente bancário, mas preservará sua atuação, capacidade instalada e rentabilidade.
Mesmo junto às big techs que apontam como uma ameaça real ao protagonismo dos bancos, verifica-se uma entrada sempre de forma cooperada em regiões que encontram uma indústria bancária forte. Combinam sua principal competência de desenvolver as soluções com uma experiência incrível, e utilizam os bancos como motor dos serviços ofertados (como um BaaS) aos seus clientes, aproveitando o domínio do produto e das grandes exigências regulatórias do mercado financeiro.
Como as fintechs estão evoluindo e acelerando
Como sabemos, as fintechs começam explorando uma solução específica em uma plataforma simples e ágil. Quando entregam de fato um produto que resolve uma dor relevante do cliente, conseguem sucesso, criam uma demanda não atendida ou absorvem de forma mais conveniente uma solução então prestada por um banco.
Quanto maior o sucesso da oferta, e a fintech identificar novas oportunidades de escalar e aumentar a fidelização dos clientes, a operação vai desenvolvendo e integrando novas soluções, aumentando a complexidade e sofisticação da operação.
Isto não somente aumenta a necessidade de recursos, a complexidade de gestão e dificuldade de foco, mas também de localizar outros negócios que se integrem a sua jornada de crescimento, seja por meio de aquisição ou se incorporando a instituições maiores.
Ou seja, quanto mais as fintechs crescem e se tornam relevantes, mais se parecem (ou se transformam) com um banco, com seus conflitos internos e dificuldade de conciliar as agendas de evolução entre os diversos processos, novos serviços e agora diferentes negócios.
Talvez por isso tem sido comum — e provavelmente se acelerará — a tendência de as fintechs se conectarem a bancos para, juntos e de forma complementar, fortalecerem suas estruturas, formando novos ecossistemas de serviços diversificados aos seus clientes.
Evidentemente que isto exige das instituições financeiras uma visão mais aberta, conectada com o movimento de inovação da indústria, assim como humilde, para viabilizar e se aproveitar deste movimento. E uma geração de neobanks estão surgindo (embora quase todos sejam na verdade uns “mutantes digitais”) empreendendo em um processo de grandes mudanças, e usufruindo das possibilidades da jornada de transformação digital.
Por que os bancos possuem um futuro incerto, porém promissor
Simplificando, não se deve subestimar os bancos pois, apesar de lentos para decidir, conhecem bem o mercado, observam atentamente as mudanças do mercado e estão trabalhando fortemente para se adaptarem à atual disrupção da indústria.
Todos os bancos tradicionais já possuem experiências digitais ou mesmo estão completamente se transformando em grandes plataformas digitais e podem ser uma resposta a este desafio usando o melhor dos dois mundos, unindo expertise e tecnologia, para alcançar resultados incríveis.
Com seu nível de especialização, podem aplicar tecnologias verificadas para construir soluções sob medida para seus processos e manter todo o valor gerado, para a estagnação do sistema bancário tradicional. Enquanto isso, os bancos tradicionais estão investindo em ciência de dados e análise, e cada vez mais negociando parcerias com iniciativas inovadoras. E têm a vantagem de ter acesso a um grande pool de recursos e soluções diversificadas, em comparação com as instituições desafiadoras.
É claro que os bancos certamente estão trabalhando duro para inovar em seu próprio ritmo e, eventualmente, melhorarão a sua competitividade. Podem estar aparentemente se movendo lentamente, mas estão evidentemente discretamente focados em manter sua vantagem competitiva. Para, de fato, sobreviverem, terão que perseverar e acelerar neste processo de transformação.
Se os bancos realizarem: (1) uma reestruturação ampla para aumentar a sua agilidade e capacidade de inovação, e (2) se novos regulamentos e exigências regulatórias trabalharem a seu favor para melhor equiparação de regras, eles podem se tornar poderosos impulsionadores do mercado e assegurar seu espaço e protagonismo. E, de certa forma, ambos estes movimentos já estão ocorrendo.
Evidentemente que, no geral, os bancos sofrerão algum impacto, mas na verdade esta nova arena de competição está fazendo muito bem a estas tradicionais instituições, empurrando-as para maior evolução, inovação e eficiência. Mas os players que não entenderem isso e resistirem a esta nova realidade, estes, sim, ficarão pelo caminho rapidamente.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos colunistas, e não a do Finsiders.
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