Dario Palhares
Com cerca de 70 fintechs, o equivalente a 5,5% das startups do gênero em operação no país, o interior paulista vêm ganhando relevância no segmento de marketplaces financeiros. Três destaques desse universo “caipira”, todas com propostas bem distintas, são a Foregon, de Presidente Prudente, a Antecipa Fácil, de Campinas, e a Dryve, de Ribeirão Preto, que se encontram em expansão.
Com uma vitrine que apresenta mais de 300 opções de cartões de crédito, contas digitais, financiamentos e terminais POS – inclusive para negativados e detentores de baixas pontuações em bureaus de avaliação de crédito –, a Foregon, além de prestar informações e orientar de forma gratuita, se prepara para fazer o meio de campo, na seara de crédito, entre seus 1,5 milhão de usuários pessoas físicas e o sistema financeiro.
“A partir do terceiro trimestre, vamos oferecer contratações de empréstimo diretamente do nosso portal”, conta o head de marketing Israel de Castro. “Assim, além de ajudarmos na escolha das linhas, poderemos acompanhar todas as etapas do processo de análise das solicitações.”
O esquema simplificado já é uma realidade no portal da Foregon, que oferece canais diretos para aberturas de contas digitais em algumas dezenas de instituições financeiras e compras, desde o primeiro semestre do ano passado, de dois cartões de crédito do Itaú Unibanco e seis do Banco Pan. No caso dos empréstimos, há negociações avançadas em curso com alguns bancos.
“A ideia é começar pela base da pirâmide, com duas linhas voltadas às classes C e D, com garantias atreladas ao FGTS”, diz Castro, que segue a manter contatos para aumentar o estoque de opções de rápido acesso para outros produtos. “Estamos sempre atentos a lançamentos, especialmente de cartões de crédito, que não são tão frequentes, ao contrário das contas digitais.”
Remunerada com base nos sinais verdes emitidos pelas instituições financeiras, a Foregon, naturalmente, se empenha para garantir a satisfação de seu público. Com o intuito de elevar o índice de aprovação das propostas, a fintech, que já dispunha de um algoritmo capaz de indicar opções de produtos e serviços mais alinhadas ao poder aquisitivo e ao perfil de consumo dos usuários, lançou em 2021 a Conta Foregon. O novo serviço, com 1,6 milhão de correntistas, permite aos clientes realizar consultas a seus scores, que servem de referência ao mercado para a concessão de crédito, e a seus CPFs. “Algumas empresas já garantiam o acesso ao score, mas mediante pagamentos. Somos os primeiros a oferecer o serviço gratuitamente”, diz Castro.
O portal da startup, que recebeu 23 milhões de visitas ao longo do último ano, ganhou outro reforço em janeiro, o CPF Protegido. Além de permitir o acesso à pontuação do score, a ferramenta garante aos usuários o recebimento de alertas, por e-mail, em casos de consultas a seus CPFs por empresas, bancos ou mesmo pessoas físicas; notificações de protestos em cartórios e pendências negativas em órgãos de proteção ao crédito; e de exclusões de dívidas. Com base nestas e em outras novidades que surgirão no segundo semestre, a companhia do oeste paulista, que soma 22 anos de trajetória, traça planos de crescimento acelerado.
“Queremos fechar o ano com um contingente na faixa de 6 milhões a 8 milhões de usuários na Conta Foregon”, diz Castro, assinalando que o cumprimento da meta será um dos trunfos da fintech nas negociações para obter aportes de recursos. “Já estamos conversando com investidores. Mas não temos pressa, pois somos um dos raros marketplaces que geram caixa.”
Captação a vista
Especializada em crédito, a Antecipa Fácil também mantém contatos com investidores, com vistas a uma rodada de captação. Criada há quatro anos, a startup oferece a empresas de menor porte 254 opções de agentes financeiros – bancos, securitizadoras, factorings, fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), sociedades de crédito direto etc. – para antecipações totais ou parciais de recebíveis – inclusive de grandes emissores, que, em sua maioria, vetam a transferência de títulos a pagar para terceiros. Ancorado em leilões de financiadores e contas consignadas, para os tomadores, o sistema da casa, por sinal, se encontra em expansão.
“Estamos lançando, em conjunto com o Bradesco, o Antecipa Carteira, que garante a liberação, de cara, de financiamentos de capital de giro equivalentes a 50% das carteiras de recebíveis mantidas pelos clientes junto ao banco”, diz o cofundador Elber Fabrício Laranja. “A intenção é que esse produto responda por 20% do nosso portfólio de crédito num prazo de dois anos.”
Já na casa de R$ 1 milhão por dia, os negócios totais alcançaram, em maio, a marca acumulada de R$ 400 milhões. Com base, sobretudo, na ampliação de suas parcerias, hoje centradas em securitizadoras, a fintech projeta números bem mais robustos a médio prazo. “Contamos com oito bancos e esperamos anunciar, em breve, as adesões de pelo menos outros dez”, diz o cofundador Thiago Critter Chiliatto. “A meta para 2023 é expandir a base de tomadores, hoje por volta de 420 empresas, para 5 mil e atingir um volume mensal de antecipações de R$ 400 milhões.”
Acelerar para crescer
A Dryve, da mesma forma, já toma providências para acelerar e aumentar em pelo menos 20% suas operações ainda neste ano. Voltada ao financiamento de veículos, a fintech, que opera com 12 instituições (Bradesco, Itaú, Santander, Safra, Votorantim, Alfa, Daycoval etc.) está turbinando a sua estrutura comercial. Nos últimos três meses, ela duplicou a equipe de agentes, hoje com 5,2 mil representantes, e, longe de se dar por satisfeita, pretende fechar a temporada com 15 mil. “A ideia é atingir em dezembro um patamar mensal de R$ 500 milhões a R$ 800 milhões em propostas de financiamentos às instituições parceiras”, diz o sócio-fundador Pedro Gandra.
Há três anos na estrada, a Dryve atuou, de início, como uma plataforma de compra e venda de veículos, nos moldes do portal Webmotors. Durante a pandemia da Covid-19, os financiamentos, que eram um complemento do cardápio, ganharam relevância e se tornaram o carro-chefe da casa, que também expandiu seu raio de ação: além de dar suporte a transações entre pessoas físicas, o seu principal diferencial de mercado, passou também a oferecer serviços ao varejo. “Tornamo-nos, assim, um novo canal de vendas para os bancos, que dependem fortemente de concessionárias e lojas de usados para realizar financiamentos de veículos”, observa Gandra.
Para alcançar esse status, no entanto, o negócio teve de executar algumas melhorias em seu modus operandi. A mais significativa foi a adoção de critérios mais rígidos na análise prévia de crédito, que viabilizou a redução da inadimplência dos tomadores de níveis próximos a 20%, em operações com alguns bancos, para menos de 3%. “Depois de recebermos alguns puxões de orelha, passamos a atuar fortemente na prevenção e cobrança, com resultados bem satisfatórios”, diz Gandra, que planeja ampliar a sua rede de parceiros. “Pretendemos contar com algumas financeiras de menor porte que queiram marcar presença no segmento automotivo.”
Somos mais um canal de vendas para os bancos, que dependem fortemente de concessionárias e lojas de usados para realizar financiamentos de veículos
- Pedro Gandra, sócio-fundador da Dryve