Há cerca de 1 ano — ou 1 ano e 12 dias, para ser mais exato —, Ricardo Bonzo Filho (ex-CEO do iCarros) chegou ao C6 Bank com a missão de liderar a recém-criada vertical de veículos. Em dezembro, o banco digital colocou no ar o financiamento de veículos novos e usados, por meio de concessionárias e lojas multimarcas.
Agora, pouco mais de seis meses depois, o C6 está lançando o crédito com garantia de veículo — também conhecido como ‘car equity’ —, revela o sócio e head de veículos do banco, com exclusividade ao Finsiders.
O novo produto já está sendo oferecido para um grupo de clientes e a expectativa é que esteja disponível para toda a base nos próximos meses.
“Achamos a oportunidade de entrar nesse segmento, que é bastante concentrado, trazendo uma experiência mais jovem e moderna para o cliente final”, explica Ricardo. A solicitação do crédito é feita pelo aplicativo do banco, e o cliente recebe o dinheiro na conta em até 1 dia útil. “Como já está logado no aplicativo, o que pedimos é basicamente a placa do carro. E a biometria facial também já está embarcada no app. Não vamos criar obstáculos para formalizar o crédito.”
Neste primeiro momento, o C6 vai permitir o refinanciamento de até 70% do valor de avaliação do veículo — outros players há mais tempo no mercado, como BV e Creditas, já liberam até 90% do valor. “Ainda é um piloto, vamos expandir. Estamos calibrando o crédito para deixar mais azeitada essa oferta no mercado”, reconhece o executivo.
Na modalidade, o cliente terá acesso a um crédito mínimo de R$ 5 mil, podendo chegar a R$ 70 mil. O prazo de pagamento é de até 48 meses, com juros a partir de 1,44% ao mês — taxa válida para correntistas do banco.
Para contratar o financiamento, é necessário ter um veículo leve (peso bruto de até 3,5 toneladas) com até 10 anos de fabricação, registrado em seu próprio nome e sem pendências.
Potencial
O executivo calcula que um terço da base total de clientes pessoas físicas (PF) do C6 Bank — hoje com mais de 16 milhões no total, entre PF e PJ — seja o “target” para o produto de car equity. “Começamos mandando ‘push’, diariamente, para 7 mil clientes diferentes dentro do app, e a intenção é expandir [esse grupo] para 9 mil”, conta.
Inicialmente, a nova linha de crédito será ofertada para uma base restrita de correntistas, e por enquanto o banco não pretende colocar na rua uma grande campanha de divulgação, como já fez em lançamentos anteriores, com a modelo Gisele Bündchen como garota-propaganda.
“Lógico que a evolução natural é começarmos a receber demandas dos clientes solicitando o crédito via chat”, aponta Ricardo. Segundo ele, apesar do cenário econômico ruim, com inflação e juros altos, a modalidade tende a ser bastante procurada pelos clientes. “Estamos entrando num timing adequado e, mais do que tudo, escutando o cliente e voltando para a prancheta”, diz o executivo, que não abre projeções em relação ao volume de crédito para este ano.
Sobre tamanho de mercado, Ricardo cita dados da B3, referentes a fevereiro deste ano. O crédito com garantia de veículo tem uma produção mensal média de aproximadamente R$ 693 milhões, com tíquete médio de R$ 36 mil e prazo médio de 36 meses. “O consumidor não conhece o produto. Internamente, vamos fazer ações educacionais para mostrar quanto o cliente pode economizar contratando esse tipo de crédito”, diz o executivo.
Mercado
Em junho, as vendas financiadas de veículos — número que inclui automóveis leves, motos e pesados em todo o país — caíram 13,1% na comparação com o mesmo mês de 2021, de acordo com dados da B3. No acumulado do ano, os financiamentos de veículos somaram 2,6 milhões de unidades, quantidade que representa queda de 9,2% ante igual intervalo de 2021.
O setor automotivo sofre, ainda, com a escassez dos semicondutores. Em sua última projeção, publicada há alguns dias, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) revisou o crescimento da produção de veículos neste ano de 9,4% para 4,1%. Em relação às vendas, a entidade prevê alta modesta de 1%, contra a estimativa anterior de 8,5% de crescimento em 2022 ante o ano passado.
Contexto
O C6 está lançando o refinanciamento de veículos duas semanas depois que anunciou a entrada em outra modalidade com garantia, o home equity — notícia revelada pelo Finsiders em julho do ano passado. Ambas as linhas se somam a um portfólio que já reúne mais de 30 soluções, numa proposta de banco completo, adotada desde o início pelo C6.
Presente em 100% dos municípios brasileiros, o banco digital oferece conta corrente gratuita, conta global multimoeda, cartões de débito e crédito, programa de fidelidade, plataforma de investimento e diversas modalidades de crédito para pessoas físicas e jurídicas, entre outros produtos e serviços.
Fundado por ex-sócios do BTG Pactual em 2019, o C6 tem como investidor o banco norte-americano JP Morgan, que anunciou a compra de 40% da operação há um ano, negócio que teve a aprovação do Banco Central (BC) em fevereiro de 2022.
Conforme os últimos dados financeiros divulgados, o C6 encerrou 2021 com prejuízo líquido de R$ 692 milhões, contra perdas de R$ 607 milhões no ano anterior. As operações de crédito cresceram 7x na mesma base de comparação, para R$ 7 bilhões. Já o patrimônio líquido chegou a R$ 1,2 bilhão ao final de 2021, ante R$ 723 milhões em 2020.
Finsiders é uma plataforma de conteúdo especializada no ecossistema de fintechs, fundada pelo jornalista Danylo Martins