Dario Palhares
Especializada em crédito imobiliário, como sua razão social sugere, a fintech CrediHome está
aumentando as apostas no crédito com garantia imobiliária, o CGI, que vem ganhando escala no
mercado. Criada em 2018, a startup paulista, cujo controle acionário foi adquirido há 12 meses
pela Loft, contabilizou no primeiro semestre um salto de 164,1% no volume de operações de CGI,
hoje detentor de uma fatia de 10% nos negócios da casa, que somaram R$ 3,4 bilhões em 2021.
“As perspectivas do CGI são muito positivas a curto e médio prazo. Nossa meta é crescer de
200% a 400% em cinco anos”, diz Bruno Gama, fundador e CEO da Credihome, que conta com
um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) próprio, como funding, e abre espaço em
sua plataforma para seis outras fintechs e bancos, grandes e médios, também voltados ao CGI.
Para garantir o cumprimento do plano, já estão sendo providenciados reforços e melhorias nas
estratégias de abordagem do mercado e na infraestrutura de tecnologia. Uma das prioridades
estabelecidas é agilizar os processos de análise e aprovação de contratos. Depois de comprimir o
prazo de até três meses para duas semanas, ao longo dos últimos três anos, a CrediHome quer
reduzi-lo para uma semana, a partir de 2023. O novo corte será garantido por um sistema de
automated value model (AVM), que permite avaliações dos imóveis apresentados como garantias
pelos tomadores com base na sua localização, tornando desnecessárias conferências in loco.
“Já estamos recorrendo de forma crescente ao AVM, que leva em consideração séries históricas
de negócios imobiliários em inúmeras cidades”, diz Gama. “Temos de apresentar respostas mais
rápidas no CGI. Só assim conseguiremos neutralizar as ações de divulgação do crédito pessoal
dos bancos, que ficam piscando nos celulares do nosso público-alvo o tempo todo.”
A política de vendas, por assim dizer, também será aperfeiçoada. Além de uma equipe própria de
250 profissionais, a fintech trabalha para expandir sua rede de parceiros, formada por cem
assessores e consultores financeiros, 30 escritórios de arquitetura e 40 assets. Encarregado de
identificar oportunidades de empréstimos para trocas de dívidas, reformas de imóveis e gastos
com educação e saúde, esse time dispõe de um portal específico na plataforma, simuladores de
crédito, que podem ser instalados em suas home pages, programas de treinamento e assessoria.
“Eles fazem o meio de campo com os potenciais clientes de CGI”, assinala Gama. “Um dos
destaques durante a pandemia da Covid-19 foram as firmas de arquitetura, que turbinaram os
financiamentos voltados a reformas e adaptações de residências para trabalho remoto.”
Em mercados desenvolvidos, onde é conhecido como home equity, o CGI tem uma longa e bem-
sucedida trajetória. Nos Estados Unidos, referência global na área, a modalidade atingiu, no
primeiro trimestre, o volume recorde de US$¨27,8 trilhões. No Brasil, a linha foi viabilizada pela Lei
9.514/97, a Lei da Alienação Fiduciária dos Imóveis, mas demorou a se tornar realidade. “Foi
graças às fintechs que o CGI surgiu no país”, diz Gama. “Acostumados a realizar empréstimos
caros e de curto prazo, os grandes bancos seguiram o exemplo, a contragosto, só recentemente.”
As condições do CGI são, de fato, muito mais vantajosas. Graças às garantias imobiliárias, a linha
opera com taxas a partir de 0,99% ao mês e prazos de até 20 anos. “Para efeito de comparação,
as opções convencionais mais em conta para pessoas físicas e jurídicas, o crédito consignado e o
capital de giro, têm taxas a partir de 3% ao mês e prazos máximos de 36 meses”, diz Gama.
O volume do CGI, de R$ 14,7 bilhões em junho, ainda é pouco mais do que uma gota no oceano
do mercado doméstico de crédito, cujo saldo somava R$ 4,8 trilhões em abril, segundo o último
relatório divulgado pelo Banco Central. Os empréstimos ancorados em tijolos, no entanto, vêm
crescendo a olhos vistos. De acordo com indicadores da Associação Brasileira das Entidades de
Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), as liberações de recursos no primeiro semestre
totalizaram R$ 2,96 bilhões, superando em 25,62% o montante registrado em igual período do ano
passado e praticamente igualando a cifra alcançada ao longo de toda a temporada de 2019.
“Se o cenário macroeconômico fosse mais favorável, a expansão do CGI, com certeza, teria sido
bem mais expressiva”, comenta Gama. “Como, no entanto, a taxa Selic e a inflação estão na casa
dos dois dígitos, o mercado tomador fica naturalmente mais tímido e cauteloso.”