*Por Renan Schaefer, diretor-executivo da ABFintechs
A tecnologia tem transformado não apenas a sociedade e o nosso estilo de vida, como também — e principalmente — a maneira como as empresas estão fazendo negócios.
Não à toa, o chamado XaaS (‘everything as a service’, ou ‘tudo como serviço’), tem ganhado cada vez mais espaço. O “X” da sigla se refere a algo que pode ser preenchido por outras opções, uma maneira clara de mostrar a abrangência do que pode ser oferecido “como serviço”.
Quando o assunto é o setor de tecnologia, por exemplo, é possível observar o PaaS (plataform as a service), SaaS (software as a service), NaaS (network as a service) e muitas outras siglas que fazem uso do cloud computing (computação na nuvem) que torna possível toda essa conectividade em grande escala, hospedando recursos, plataformas e dados.
E na esteira dessa tendência, o mercado financeiro também tem adotado tal inovação para incrementar ainda mais as possibilidades — tanto para outras empresas, quanto para o consumidor final.
Como grande ponto de partida, é possível mencionar o CaaS, sigla para ‘credit as a service’. O CaaS veio para mudar as regras do jogo. Isso porque esse conceito busca facilitar o modo como empresas têm acesso a capital, descentralizando processos e democratizando crédito rápido, seguro e customizável.
Até pouco tempo atrás, somente bancos e demais instituições financeiras poderiam fazer concessão de crédito. Mais recentemente, as fintechs passaram a ocupar esse espaço. Agora, com o CaaS, praticamente qualquer empresa pode incorporar soluções de crédito ao seu portfólio de serviços oferecidos.
O processo de análise de riscos, de fraudes e corrupção passa por uma série de filtros que tornam a operação ainda mais segura que a de modelos tradicionais. Isso porque todos os traços digitais que uma empresa deixa, além de extratos bancários e todo tipo de dados, são peneirados por um algoritmo, o que gera um score e uma proposta de crédito muito mais completa, quase que personalizada com as características do cliente.
Na minha visão, o CaaS pode ser considerado uma cadeia de produção “all win”, já que a startup ganha ao oferecer a solução, quem dá o crédito ganha mais agilidade e ainda otimiza a base de clientes e, na ponta da linha, o consumidor que ganha melhores linhas de empréstimos.
O Open Finance chegou para colocar todo mundo em pé de igualdade. Na última década, vimos a concentração bancária sair de 81% para 71%, e a tendência é de diminuição.
O Brasil é um terreno fértil para o CaaS, já que segundo o Banco Central (BC), o saldo de empréstimos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) como percentual do produto interno bruto (PIB) chegou a 54% no final de 2021, um aumento de 0,1% em relação ao mesmo período de 2020. Então, existe um espaço vazio para um delta de crescimento.
Apesar da concentração, o SFN é considerado um dos mais seguros do mundo, e a regulação para os bancos e instituições financeiras tende a puxar a barra para cima também para as fintechs.
Sob a ótica da melhoria do ambiente de negócios para expansão do crédito, existe um projeto de lei em trâmite, o PL número 4.188/2021, que cria a figura das “Instituições Gestoras de Garantias”, facilitando o uso e acesso de garantias para operações financeiras, tendo impacto direto no custo e no acesso à crédito no Brasil.
Essas instituições farão a prestação de serviços de gestão de garantias pessoais e reais, sejam de bens móveis e imóveis, fazendo com que o monitoramento, execução, constituição, o gerenciamento de riscos e a avaliação das garantias, assim como o controle das operações de crédito, sejam feitas por essas instituições.
Desse modo, essa integração entre os agentes de garantia e a melhor integração tecnológica para a gestão dessas e também das operações de crédito permitem uma maior visibilidade sobre os riscos, gerando mais dados para análise e melhor uso das garantias para destravar maiores volumes de operações de crédito.
Há muito espaço para crescimento: temos um sistema financeiro considerado bastante seguro e uma demanda que precisa de mais agilidade e menos burocracia para conseguir linhas de crédito mais justas.
Temos um espaço de crescimento do crédito em relação ao PIB bastante grande a percorrer, se comparado à economias maduras. E o melhor de tudo é que estamos só começando. Tanto o modelo de CaaS, como um melhor sistema de gestão das garantias, ajudará bastante para que a economia volte a crescer e o crédito seja um motor desse crescimento.
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