Eles ainda são poucos – 12, para ser exato; a greve dos funcionários do Banco Central atrasou a aprovação dos pedidos. Mas, em breve, boa parte das 54 Instituições de Pagamentos, bancos comerciais e outros players do mercado financeiro devem aderir à modalidade de Iniciador de Transação de Pagamento (ITP), que faz parte da terceira fase do Open Banking.
A solução é especialmente interessante para o e-commerce, uma vez que melhora a experiência do cliente que paga com PIX, e reduz a quantidade de vendas perdidas pelos lojistas.
“O uso dos iniciadores de pagamento no e-commerce ainda engatinha. Somos os primeiros a oferecer o serviço terceirizado, usando a licença de ITP do BTG, que por sua vez foi um dos primeiros a obtê-la”, diz Lorain Pazzetto, Head de Open Finance do Grupo FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação especializado em soluções para e-commerce. O negócio parece mesmo promissor: afinal, o e-commerce movimentou mais de R$ 160 bilhões em 2021, segundo a Neotrust.
“Estamos aproveitando uma janela de oportunidade curta, por enquanto a solução é padrão, estamos oferecendo o que outros poderiam oferecer – mas temos a vantagem de sair na frente”.
Fintechs Brasil apurou que, por enquanto, dos ITPs autorizados pelo BC, apenas o Mercado Pago já tem a solução implantada – é possível fazer depósitos com dinheiro vindo de outros bancos, por exemplo, sem precisar copiar códigos ou entrar na conta. Mas, como o Mercado Pago é parte de um ecossistema de e-commerce, por enquanto não faz sentido “vender” sua solução para terceiros.
De acordo com informacões do site Finsiders, o Banco do Brasil estaria se preparando para oferecer a solução aos e-commerces da Via – dona do Ponto, Casas Bahia e Extra.com
Adesão
Pazzetto lembra que a adesão dos brasileiros ao Open Finance ainda é tímida: só cerca de 10% dos bancarizados permitem o compartilhamento dos seus dados. “Acreditamos que a praticidade que o ITP oferece a quem compra pela internet e paga com PIX vai ser um excelente incentivo para que a adesão ao Open Finance decole”, completa, lembrando que o PIX caiu rapidamente no gosto popular – hoje já é o segundo meio mais aceito pelos varejistas. E, em breve, teremos PIX garantido – pagamento que o cliente pode fazer mesmo sem saldo em conta e sem risco de inadimplência para o lojista, o que representa uma opção aos cartões de crédito, acrescenta.
O acordo da FCamara para distribuição de produtos do BTG foi fechado no começo do ano. No mês passado, o banco concedeu um crédito conversível de R$ 100 milhões para expansão do Grupo, que estima faturar R$ 500 milhões neste ano.
“Embora tenha obtido a licença, o negócio do BTG não é varejo, eles não têm interesse em desenvolver Application Programming Interfaces (APIs) para os e-commerce. Então, nós entramos com a tecnologia e o BTG com o aval – ele é o responsável pelas operações perante o BC”, explica. O Grupo tem uma conta no BTG e é o banco que faz toda a arbitragem financeira – o FCamara é uma “camada intermediária” que facilita a integração do BTG com os clientes finais.
“Nosso papel é facilitar a distribuição dos produtos e serviços do iniciador”, diz. Ou seja: a frente OpenX da FCamara se tornou um hub para integração de parceiros Open Finance homologados pelo BC. A FCamara não tem exclusividade com o BTG, nem vice-versa – mas Pazzetto afirma que por enquanto, não há interesse em parcerias com outros ITPs.
Do lado do BTG, a recíproca parece verdadeira: “Estamos muito satisfeitos com essa parceria com a FCamara para integrar todo ecossistema de pagamentos da OpenX com os nossos produtos.” afirma, em nota, Christian Flemming, COO do BTG Pactual.
Liquidez imediata
O negócio com o grupo Vila Nova, um atacado físico e digital que vende para redes de supermercado e fatura aproximadamente R$ 180 milhões por mês, vai permitir a venda com PIX via iniciador de pagamento – hoje, os pedidos são pagos com boletos. “A mudança com essa solução de iniciação, independentemente das plataformas que estamos desenvolvendo, vai resultar em economia de custo para o Vila Nova e dar liquidez imediata ao caixa, diz Pazzetto.
“O valor médio das vendas do Vila Nova é de R$ 5 mil; se o cliente quiser financiar esse pagamento, em breve poderá também escolher essa opção no checkout”, informa o executivo, acrescentando que os planos da FCamara são avançar nesse sentido no ano que vem, e também na oferta de novas soluções, com a conciliação financeira dos pagamentos recebidos pelos lojistas.
Está previsto, por exemplo, a oferta de consentimento único para pagamento variado, ou seja, o consumidor poderá deixar seu consentimento “guardado” para compras futuras no e-commerce, fazendo apenas uma confirmação simples da operação por meio de SMS.
É bom lembrar que, hoje, o e-commerce já aceita uma infinidade de meios de pagamentos diferentes, de cartão – inclusive mais de um pode ser usado numa mesma compra – a PIX, BNPL (buy now, pay later), PIX e boletos. A VTEX por exemplo, só aceita que os lojistas da sua plataforma utilizem um dos fornecedores de meios de pagamento homologados – e dentro da VTEX, que tem mais de 2,5 mil varejistas como clientes, ainda não tinha um iniciador de pagamentos oferecendo a opção.
Passo a passo
Segundo Pazzetto, o uso do iniciador de pagamento reduz de 10 para 4 passos a experiência de compra de um cliente que deseja pagar um pedido com Pix no e-commerce, “aproveitando toda a fluidez que a Iniciação de Pagamentos Open Finance traz”. O cliente não perde o foco no checkout, o que contribui para reduzir o abandono de carrinhos, algo recorrente no comércio eletrônico. “E o lojista terá muita facilidade para ativar essa modalidade, graças aos plugins nativos que desenvolvemos, integrados às grandes plataformas”.
“Desde que começamos a apoiar instituições nas fases do Open Finance, vislumbrávamos como explorar as vantagens trazidas pelo novo sistema para beneficiar diversos setores e seus usuários. Assim, desenvolvemos um orquestrador capaz de integrar as APIs do Open Finance, conforme são concebidas, a variadas aplicações. Muitas vezes, os segmentos do mercado e nossos próprios clientes não identificam o potencial dos recursos do Open Finance para seus negócios e é nosso papel: viabilizar esse potencial e transformá-lo em resultado”, explica Lorain.