O novo "foguete" da Paketá para crescer em credit as a service

A Paketá, fintech com soluções de crédito com desconto em folha, acaba de faz spin-off de unidade de negócio, dando origem à Base39

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​A plataforma de credit as a service (CaaS) da Paketá, fintech de soluções de crédito com desconto em folha, foi lançada em 2020 e conquistou seis clientes — dois fundos de investimento, dois family offices e dois bancos, sendo um deles o Itaú Unibanco, que investe na fintech por meio do seu Corporate Venture Capital (CVC), o Kinea Ventures.

A linha de negócios já representa um quarto da receita do grupo e a partir de agora ganha vida própria. A Paketá está criando a Base39, a unidade de negócios fornecedora da infraestrutura de crédito consignado privado. O que a Base39 faz é licenciar a plataforma, no modelo white-label (com a marca do cliente), para bancos, family offices, FIDCs, empresas de benefícios, entre outros perfis de companhias que tenham relacionamento com funcionários CLT.

(Base39 vem de Complexo 39, um local de lançamento de foguetes no Centro Espacial Kennedy. Construído originalmente para o Programa Apollo, o espaço foi modificado posteriormente para suportar o lançamento de todas as operações tripuladas da Nasa. A Base39 é o símbolo da base tecnológica por meio da qual a Paketá lançará os projetos.)

“Todos aqueles que licenciarem a plataforma da Base39 são potenciais concorrentes da Paketá, e está tudo bem porque o mercado é grande. São quase 34 milhões de CLTs no Brasil, e muitos desses não têm acesso a crédito”, observa Fabian Valverde, fundador e CEO da Paketá, em entrevista ao Finsiders. “Hoje, 75% da receita do grupo vem da Paketá, e 25% é Base39. Acreditamos que, em um ano ou dois, vai ser o contrário.”

Com a nova unidade de negócios, a expectativa é alcançar 2 milhões de tomadores de crédito elegíveis e entre 9 e 12 mil empresas até o fim do ano que vem. Para crescer, a fintech tem feito acordos com agregadores, empresas que possuem algum tipo de relacionamento com o RH de organizações, por exemplo, softwares de ponto e folha de pagamento. Atualmente 10 agregadores, entre eles, LG Lugar de Gente, são parceiros da Base39.

A Base39 opera num modelo que Fabian chama de três pontas: financiadores, agregadores e empresas. “No fundo, são os financiadores que têm o contrato de convênio com as organizações, enquanto os agregadores ajudam a Base39 a tornar zero ou praticamente zero o trabalho para o RH”, explica. “É o ‘embedded finance’, porque estamos embarcando crédito e antecipação de salário numa experiência de folha de ponto, por exemplo.”

“Em breve, vamos anunciar um agregador que é gigante, estamos terminando a integração. Só com ele, vamos acessar milhões de funcionários”, diz Fabian, sem abrir o nome do parceiro. Na outra ponta, a dos financiadores, a Base39 também está fechando novos contratos. “Estamos para assinar com outro banco agora. Não seria surpresa se colocássemos vários bancos num curto prazo”, afirma o empreendedor, também sem revelar nomes ou detalhes.

Crescimento e planos

O spin-off chega num momento em que a Paketá vem mantendo um ritmo de expansão forte da carteira e originação de crédito, assim como aumento da base de clientes. Hoje, a fintech tem 1.850 empresas conveniadas e a expectativa é virar o ano com cerca de 2.200, diz o fundador. “Só hoje assinei 30 novos contratos de convênio”, informa Fabian. O portfólio inclui desde organizações com três funcionários até companhias com 70 mil.

Fabian Valverde, CEO e cofundador da Paketá (Foto: Divulgação/Paketá)
Fabian Valverde, CEO e cofundador da Paketá (Foto: Divulgação/Paketá)

No acumulado do ano, até agosto, a carteira de crédito da Paketá cresceu mais de 10x em relação ao número registrado em 2021 como um todo. Comparada ao mesmo período (janeiro a agosto), a expansão é de 20x. O volume de empréstimos concedidos em 2022 cresceu 14x ante o resultado apurado no ano passado inteiro. O empreendedor não abre o tamanho da carteira, tampouco os valores de originação. “Estamos crescendo de 15% a 20% mensalmente em originação.”

Até meados do ano passado, o fundador falava em uma meta de emprestar R$ 1 bilhão até 2025. “Do lado da Paketá, fazer R$ 1 bilhão agora virou, pelo menos, R$ 1 bilhão”, diz. Com a Base39, os números são superlativos: “Acho factível chegarmos a algo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões [emprestados] até 2025”, considera Fabian. São cifras dignas de nota, num mercado endereçável de R$ 140 bilhões/ano para o consignado privado. “Considerando todo mundo que está emprestando hoje, são R$ 29 bilhões/ano”, estima ele.

Depois do crédito consignado para funcionários CLT, a Paketá lançou neste ano a antecipação de salário e o saque-aniversário do FGTS — esse último em parceria com o Itaú. Para os próximos seis meses, a fintech prevê crescer os três produtos, aumentando a ativação, assim como ampliar a base de empresas conveniadas. “Naturalmente, podemos ter outros produtos no futuro”, diz Fabian.

Seguros, planos de previdência, investimentos? Não. A ideia é adicionar outros produtos de crédito atrelados ao desconto em folha dos funcionários CLTs de empresas privadas. “Nosso modelo vai na direção de incluir outros produtos de crédito, como antecipação de 13º salário e bônus”, exemplifica o empreendedor.

Ele descarta a entrada da Paketá em consignado público, outro mercado gigante e tradicional que vem sendo explorado por algumas fintechs. “Não temos interesse em fazer consignado público”, diz. Mas na nova estrutura organizacional, com a criação da holding Atmosfera — que passa a abrigar Paketá e Base39 —, o fundador não nega uma possível incursão em outros segmentos e mercados.

“A Atmosfera vai trazer governança e relacionamento institucional com investidores. Outras empresas podem surgir e ficar debaixo da holding”, diz. “Estamos passando a mensagem de longevidade, de que estamos construindo algo que é perene.”

Capitalização

Sobre a necessidade de caixa, Fabian diz que o grupo está capitalizado e também vem despertando interesse de potenciais compradores. “Tem empresa querendo comprar, fazer M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições], mas achamos que não seria o momento”, conta. “Para rodadas de captação, as portas estão sempre abertas. Mas tem que fazer sentido. Não pode ser só dinheiro pelo dinheiro. Não foi à toa que escolhemos Kinea e Itaú. Queremos ter relações longevas, ao mesmo tempo em que gostamos da aceleração do VC [Venture Capital].”

Estrutura da holding Atmosfera, que inclui Paketá e Base39 (Foto: Divulgação)
Estrutura da holding Atmosfera, que inclui Paketá e Base39 (Foto: Divulgação)

Há exatamente um ano, a Paketá anunciou um investimento de R$ 27 milhões em uma rodada Série A liderada pelo Kinea Ventures e acompanhada pela gestora Shift Capital — que tinha capitaneado o seed money de R$ 9 milhões, em dezembro do ano passado.

A projeção da Paketá, segundo Fabian, é atingir o breakeven em junho do ano que vem. “No caso da Base39, vamos continuar fazendo investimentos e a ideia é chegar ao breakeven em mais um ano e meio, seguindo o ritmo de crescimento de hoje, sem fazer loucuras”, conta.

Mercado

Não à toa, a tese do consignado privado despertou interesse de diversas fintechs, além da Paketá. Neste grupo estão nomes como Creditas, Capital Consig, Leve, Grupo H, Somapay, Zipdin, Zetra, entre outras, que disputam uma fatia do bolo. No consignado público, os players incluem, por exemplo, a bxblue e a meutudo.

Tem para todo mundo. Ainda concentrado nas linhas para servidores públicos e beneficiários do INSS, o crédito consignado privado representa pouco mais de 5% do volume total do consignado, com saldo de R$ 31,2 bilhões em junho deste ano, contra R$ 549,2 bilhões da modalidade como um todo, conforme os dados mais recentes divulgados pelo Banco Central (BC).

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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