Há cerca de um ano e três meses, o PicPay anunciou a compra do Guiabolso, numa transação que revelou a ambição da fintech em ser protagonista do então Open Banking, que evoluiu para Open Finance. Isso porque o aplicativo de gestão financeira — fundado em 2012 por Thiago Alvarez e Benjamin Gleason — foi pioneiro em uma tecnologia de compartilhamento de dados, quando sequer havia discussão de regulamentação do Open Banking no Brasil.
“Nós inventamos o [conceito de] Open Finance há dez anos e criamos um marketplace de produtos financeiros. Com a venda para o PicPay, em dois meses, já tínhamos trazido todos os parceiros [do marketplace]. Em paralelo, fomos trabalhando a estrutura regulada do Open Finance”, afirma Thiago, ao Finsiders. Com a venda do Guiabolso, o executivo virou diretor no PicPay, responsável pela unidade de negócios de Open Finance. (Seu sócio, Benjamin, está empreendendo novamente com a Kamino).
De lá pra cá, o PicPay vem pavimentando sua plataforma de Open Finance, que agora começa a ter as primeiras funcionalidades, como o chamado “hub de Open Finance”, ambiente no aplicativo para fazer a gestão de consentimento, ou seja, é possível gerenciar os dados enviados para outras instituições e as informações compartilhadas com o PicPay. Em breve, será possível também acompanhar os pagamentos via Open Finance.
O PicPay também está testando uma ferramenta de gestão financeira, por enquanto disponível para um grupo restrito de clientes e com previsão de lançamento oficial ainda em outubro. A funcionalidade consolida todas as contas e cartões conectados pelos usuários, de maneira semelhante ao PFM (sigla em inglês gerenciador financeiro pessoal) desenvolvido pelo Guiabolso.
“É um ‘mini Guiabolso’ dentro do app. Quando acharmos que está maduro, vamos lançar para toda a base”, explica Thiago.
Iniciação de pagamentos
Outro projeto em andamento na companhia é o de iniciação de pagamentos, que faz parte da fase 3 do Open Finance. “Vamos entrar também em iniciação de pagamentos”, conta o executivo. Por ser uma instituição de pagamento (IP) regulada, o caminho do PicPay para ser um iniciador de transação de pagamento (ITP) é diferente em relação ao de fintechs que não possuem licença. É necessário fazer uma comunicação ao Banco Central (BC) sobre a intenção de oferecer o serviço, com 90 dias de antecedência.
Desde o ano passado, a fintech pode ter pagamentos iniciados por outros participantes, como parte da fase 3 obrigatória. “Ser iniciado nós já somos obrigados, como detentores de conta. Agora estamos desenvolvendo também para ser iniciador”, explica Thiago. “Já fizemos a comunicação ao BC. A segunda etapa, depois da implementação, é ser certificado e fazer teste com 4 instituições diferentes. Ainda não fizemos os testes com as quatro instituições.”
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O PicPay aderiu como instituição voluntária à fase 2 do Open Finance, na qual as instituições permitem que usuários compartilhem seus históricos financeiros de conta corrente, cartões de crédito, empréstimos e cadastros. Portanto, todos os usuários já conseguem compartilhar seus dados de outros bancos e instituições com o PicPay e os dados das contas da fintech também podem ser compartilhados com outras instituições.
A taxa de conversão de consentimentos é superior a 80%. Isto é, a cada dez usuários que optam por compartilhar seus dados na fintech com outras instituições, oito fazem a jornada completa, de ponta a ponta. Para Thiago, trata-se de uma métrica que mostra a qualidade das especificações do Open Finance no PicPay e da capacidade como transmissor de dados. O resultado é fruto da combinação principalmente de tecnologia com experiência do usuário (UX, na sigla em inglês), diz o executivo.
O executivo não acredita na construção de apenas um ou dois produtos ou serviços a partir do Open Finance, mas nessa infraestrutura rodando por toda a companhia, permitindo a oferta de soluções mais adequadas a cada cliente. “Tem um lado de conseguir falar de forma contextualizada e específica, assim como também ajustar o produto para cada cliente. Por exemplo, aumentar o limite ou sugerir um investimento ou um seguro específico. Essa personalização toda vai acontecer.”
Nesse sentido, ele diz que o PicPay está desenvolvendo uma plataforma ‘plug and play’, a partir da qual todas as áreas têm acesso a quem já fez consentimento, de forma simples. “A ideia aqui é que o Open Finance passe por toda a jornada do cliente do PicPay”, afirma Thiago. “Estamos tentando resolver as coisas de forma estrutural.”
Super app
Com mais de 71 milhões de usuários registrados, sendo mais de 32 milhões de clientes ativos, o PicPay atua hoje em cinco frentes: serviços financeiros para PF; serviços financeiros para PJ; marketplace financeiro; PicPay Store; e, recentemente, entrou em cripto e Web3. A estratégia é ser um super app, se inspirando no exemplo bem-sucedido do WeChat, na China.
Após uma reorganização societária, recentemente o PicPay também se tornou um banco múltiplo, aproveitando a licença do antigo Banco Original do Agronegócio, conforme revelou em julho uma reportagem exclusiva do portal Fintechs Brasil em colaboração com o Finsiders.
Na última linha do balanço, o PicPay chegou ao fim do primeiro semestre deste ano com prejuízo de R$ 663,2 milhões, alta de 87,3% na comparação com igual período de 2021, de acordo com as demonstrações financeiras publicadas em agosto. Já as receitas cresceram mais de 3,5x, para R$ 1,3 bilhão.
Open Finance
Desde o início da implementação, o Open Finance já soma quase 10 milhões de consentimentos de compartilhamento de dados de clientes e cerca de 350 milhões de chamadas de APIs por semana. Ao todo, são mais de 800 instituições participantes do sistema.
“Ainda temos problema com a qualidade e homogeneização dos dados, e precisamos avançar nisso. Temos reuniões semanais sobre esse tema”, reconheceu o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento recente.
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