Por Fábio Silva*, para o Finsiders
Anualmente vemos diversas tendências ganhando força e depois desaparecendo, desde produtos gastronômicos até músicas e objetos de luxo, como foi o caso do frozen yogurt, cupcakes personalizados, “Call me maybe” e o atual copo Stanley, responsável por diversos memes nas redes sociais. Acredito que o mais marcante possa ter sido o surgimento — e desaparecimento — das paletas mexicanas.
De acordo com um levantamento feito pela Rizzo Franchise em 2016, a cada 10 paleterias franqueadas, seis fecharam as portas e quatro tentaram sobreviver, mudando completamente a oferta do produto.
É o típico comportamento do brasileiro apegado ao tradicional, que gosta de experimentar novidades, especialmente se fazem sucesso no exterior, e depois voltam para os produtos que já estavam presentes no cotidiano.
Trouxe esse cenário para exemplificar o que pode acontecer com os bancos digitais. Assim como as paleterias mexicanas, os bancos digitais tiveram um “boom” e enfrentam uma vasta quantidade de novas marcas disponíveis no mercado. Pela facilidade e modismo em criar esse modelo, empresas sem núcleo financeiro ou pessoas sem experiência no setor se aventuram em abrir uma operação. E aí é que mora o problema.
Estamos falando sobre um negócio de capital intensivo, regulado e complexo, em que muito em breve veremos consolidações no mercado e redução no número de players. Trata-se de um mercado caro — é fácil de abrir uma operação, mas difícil mantê-la. É preciso muito dinheiro para fazer a máquina rodar.
A montagem de bancos digitais é um processo muito difícil, e a maioria das pessoas não sabe disso. Com o advento do banking as a service (BaaS), pode parecer fácil conectar um negócio ao outro e ter um banco. Fazer isso é simples, na verdade. O que é difícil é a aquisição de clientes e o seu engajamento.
O Brasil é um país sedento por produtos de crédito, principalmente cartões. Crescer nesse mercado não é tão difícil quanto crescer somente com contas digitais, porém ser um emissor direto de cartão de crédito é caro e complexo. Uma vez um potencial parceiro me disse que tinha 1 milhão de clientes e queria que cada um deles tivesse uma conta digital. Eu lhe avisei que já seria muito se ele convertesse 10% da base, e comecei a abrir alguns custos. Logo mudou de ideia.
Mas então, como crescer e se consolidar no competitivo mercado de bancos digitais? Pois bem, há uma oferta muito grande e uma desconfiança de novos entrantes de uma forma geral. As pessoas têm na cabeça que um banco é uma instituição maligna. “Ele me prejudica”. “Ele me cobra muitas taxas”. Com isso, é preciso vencer as barreiras do descrédito e da má fama que o mercado tem. Justa ou injusta, o segmento tem essa fama que pode ser combatida e reconstruída.
Outra questão é ter uma empresa que vai lidar com algo em que o Brasil é muito bom: fraudes. O sistema financeiro tem muitos fraudadores girando em torno dele. Nós temos a fraude do boleto, do Pix, do WhatsApp, entre outras. O fraudador é tão criativo que nós sempre temos que estar um passo à frente para conseguirmos ter uma instituição livre deles.
Por exemplo, por aqui, em vez de pedirmos uma selfie, implementamos o liveness, um vídeo que está rolando por detrás da pessoa para garantir que ela é ela mesmo. Tivemos no alt.bank uma lista com mais de 200 mil pessoas querendo acesso ao nosso cartão.
Isso, além do core financeiro, propósito e segmento de mercado bem definidos, temos segurança quanto ao caminho para crescimento nos próximos dois anos. É necessário adaptação para sobreviver, mas acima de tudo, exige planejamento a longo prazo.
*Fábio Silva é country manager da fintech alt.bank.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.
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