Resultado da fusão entre Liber Capital (marketplace de recebíveis), Bava (soluções de crédito e meios de pagamento para indústrias) e Evencard (sistemas de conciliação), a Liber quer crescer na velocidade do seu símbolo, a lebre. Com suas soluções de crédito e meios de pagamento para toda a cadeia produtiva, a fintech atende hoje 76 grupos econômicos e tem 28 novos contratos sendo implantados neste momento, além de um total de 80 em negociação.
No portfólio estão grandes indústrias e distribuidores, incluindo nomes do calibre de BRF, Cargill, Gerdau, Klabin, Suzano, Votorantim e outros. A Liber atua tanto no contas a pagar quanto no contas a receber, integrando nesse ecossistema, além das indústrias (os clientes âncora), seus fornecedores e também os varejistas e pontos de venda (PDVs). Em outras palavras, a ideia é ser um ‘one-stop-shop’ de soluções para a cadeia produtiva.
O funding – que costuma ser um grande entrave para o capital de giro das empresas – também não é um problema dentro do ecossistema construído pela Liber, garante o CEO, Marcelo Serfaty, em conversa com o Finsiders. Na rede de financiadores, cita ele, a fintech soma 15 bancos, 70 fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e 1,5 mil investidores individuais.
No ano passado, a Liber movimentou R$ 51 bilhões em antecipação de recebíveis, bem acima do volume de R$ 35 bilhões, projetado para aquele ano em meados de maio, quando o cofundador Victor Stabile falou ao Finsiders. Em 2021, ainda como Liber Capital, a fintech havia transacionado mais de R$ 17,2 bilhões. Agora como “nova” Liber, a empresa não revela quanto espera movimentar em 2023.
Planos
Neste ano, um dos principais focos da Liber é acelerar o Liber Check-out, um gateway de pagamentos integrado ao ERP para cobrança de clientes das grandes empresas. Na prática, a solução permite que os varejistas (compradores) paguem as indústrias (fornecedores) com Pix, cartão de crédito ou débito, boleto, recebíveis ou com algum produto de crédito oferecido na plataforma.
A concessão de crédito para os PDVs, com uso de capital próprio, é mais uma estratégia que a Liber pretende impulsionar em 2023. De acordo com Marcelo, a taxa de aprovação nesse tipo de operação chega a 80%. A entrada no crédito (com ou sem garantia) para os pequenos e médios varejistas já era um objetivo traçado pela então Liber Capital.
Outro tema no radar para este ano, diz Marcelo, é o registro das duplicatas escriturais (eletrônicas), que aguarda a definição do regulador sobre como será o processo de implementação. As duplicatas eletrônicas foram criadas pela Lei 13.775 em 2018 e regulamentadas em maio de 2020, com a publicação da Resolução 4.815/20 e da Circular 4.015/20.
O mercado potencial a ser destravado é trilionário. “Estamos preparados e já temos integração com as quatro registradoras [Cerc, Nuclea, B3 e TAG]”, comenta o executivo.
A Liber também mira parcerias estratégicas ou possíveis aquisições, tanto para complementar o portfólio de soluções quanto para entrar em novos segmentos. Poder de fogo não falta. A empresa tem como investidores BTG Pactual, HDI Seguros e G5 Partners — essa última é a gestora responsável pelo FIP que hoje controla a Liber.
Gestão
Com a fusão anunciada em agosto de 2022, nasceu a “nova” Liber e, com ela, vieram executivos tarimbados. O CEO, Marcelo Serfaty, foi presidente do conselho de administração do BNDES, posição que deixou no ano passado para assumir o comando da fintech.
Veterano do mercado financeiro, o carioca foi um dos sócios-controladores do Pactual (hoje BTG Pactual) e também sócio da gestora G5, que investiu na Spinet Bank – a holding investidora de Liber Capital, Bava, Evencard e Adianta, essa última comprada em 2020 pela Liber.
Além de Marcelo, no comitê executivo da Liber estão também Márcio Parizotto, ex-CMO do Bradesco e ex-diretor da American Express, além dos sócios-fundadores Victor Stabile, Leonardo Ribeiro e Leandro Sanabio. A empresa conta, ainda, com um board que tem como chairman Hélio Magalhães, ex-presidente do Citi Brasil.
Competição
A Liber tem concorrentes nos diferentes produtos com que atua. No supply chain finance, por exemplo, um forte competidor é a fintech Monkey, que movimentou R$ 30 bilhões em 2021 e no ano passado lançou uma solução de contas a receber e reformulou seus produtos, dividindo-se em Exchange (antecipação de recebíveis de notas fiscais) e Spike (antecipação de recebíveis de cartão de crédito).
No mercado de recebíveis de cartão, além da Spike, os players que concorrem com a Liber incluem nomes como Blu, Marvin, PayHop, Tino (antiga TruePay), Credit2B, entre outras. Para se ter uma ideia do potencial desse segmento, os cartões de crédito movimentaram R$ 1,6 trilhão em 2021 e R$ 2,42 trilhões em 2022 (até setembro), conforme dados da Abecs.
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