“Para rodadas de captação, as portas estão sempre abertas. Mas tem que fazer sentido. Não pode ser só dinheiro pelo dinheiro”, disse Fabian Valverde, fundador e CEO da Paketá, em sua última entrevista ao Finsiders, em setembro do ano passado, exatamente um ano depois que a fintech havia divulgado uma rodada Série A de R$ 27 milhões liderada pelo Kinea Ventures, o Corporate Venture Capital (CVC) do Itaú Unibanco.
A mentalidade não mudou. Cinco meses depois, a fintech de crédito com desconto em folha está anunciando um novo investidor estratégico no captable. A IOB, que oferece conteúdo e tecnologia nas áreas fiscal, contábil, tributária, previdenciária e jurídica, acaba de assinar um cheque de R$ 16 milhões e, assim, embarca no “foguete” da Paketá.
O aporte é fruto de uma relação que já vinha sendo construída entre as duas companhias. Primeiro, a IOB contratou a solução da Paketá para oferecer crédito aos seus próprios funcionários. Num segundo momento, as empresas firmaram uma parceria que, em seguida, evoluiu para a proposta do investimento.
“As conversas aconteceram durante o segundo semestre do ano passado e, em novembro, recebemos o aporte. Para se ter uma ideia, o ciclo inteiro demorou menos de 60 dias”, conta Fabian.
Segundo Jorge Santos Carneiro, presidente da IOB, as companhias iniciam uma relação que vai muito além de uma parceria comercial. “A união de nossos ecossistemas, bem como de nosso conhecimento e experiência, viabilizará negócios em que todos ganham e crescem em uma jornada sustentável”, afirmou o executivo.
As sinergias entre os negócios são muito claras. A IOB possui serviços e tecnologia usados por 130 mil micro, pequenas, médias, grandes empresas e escritórios de contabilidade. Esse universo contempla aproximadamente 3 milhões de funcionários, que têm seus salários processados em softwares da IOB. “São em sua maioria PMEs distribuídas pelo país, e é o mercado em que a Paketá quer estar”, explica o fundador. “Nossa tese em conjunto é oferecer crédito na ponta.”
Planos e expectativas
Com o dinheiro captado, a Paketá vai continuar investindo em produto e tecnologia para melhorar a experiência do RH das empresas e de seus funcionários que tomam crédito. Também pretende direcionar esforços para marketing e vendas, com o objetivo de captar principalmente companhias de pequeno e médio porte. “O maior desafio é fazer com que essas empresas nos conheçam”, reconhece o CEO.
Em setembro/22, a Paketá tinha cerca de 1.850 de empresas conveniadas, e na época o fundador traçou o plano de virar o ano com 2.200. Dito e feito. Hoje, a fintech tem mais de 2.200 organizações em sua base de clientes, que inclui desde negócios com três funcionários até aqueles com 70 mil.
Para 2023, a expectativa é mais do que dobrar o portfólio, para 5 mil companhias, mantendo a diversidade de perfis da clientela. “Semana passada assinei 100 convênios de PMEs e 2 com empresas com mais de 15 mil funcionários”, exemplifica Fabian.
Com a expansão da quantidade de companhias conveniadas, também vem crescendo o número de funcionários elegíveis a tomar crédito consignado, antecipação de salário ou saque-aniversário do FGTS — os três produtos hoje oferecidos pela Paketá. Atualmente, cerca de 300 mil colaboradores de empresas têm acesso a essas soluções. Em 2023, a fintech quer multiplicar essa base por 10, alcançando 3 milhões de funcionários.
“Nossa missão é levar crédito consignado para todo lugar, até para a padaria na esquina.”
Neste ano, a empresa estima crescer pelo menos 250%. Em 2022, a carteira de crédito teve uma originação acumulada 13 vezes superior à do ano anterior. A maior parte do volume de crédito concedido (95%) vem do consignado, com tíquete médio de R$ 3 mil.
Fabian não revela o montante já originado, nem o tamanho atual da carteira, mas conta que a fintech começou o ano de 2022 emprestando R$ 4 milhões/mês e terminou com algo como R$ 18 milhões/mês.
Concluiu a Série A?
Essa foi uma das perguntas que fiz a Fabian durante a entrevista. Segundo ele, a fintech considera este cheque da IOB como uma extensão da rodada Série A de R$ 27 milhões, anunciada em setembro de 2021. Com a diferença de que a Paketá passou a valer 3 vezes mais. “Não consigo dizer se fechamos a Série A. A gente opera num modelo mental talvez diferente do mercado”, diz o empreendedor.
Criada em 2018, com início das operações em agosto de 2019, a Paketá tem como sócios-fundadores o próprio Fabian, seu irmão Ramon Valverde, além de Anderson Maia, Rafael Queiroz e Bruno Nunes. De lá pra cá, a fintech captou cerca de R$ 52 milhões em investimentos. Além da recém-chegada IOB, o captable reúne Kinea Ventures, Itaú Unibanco, Shift Capital e 4Z.
Mercado
O consignado privado atingiu saldo de R$ 41,5 bilhões em dezembro de 2022, alta de 42,4% em relação a igual período de 2021, conforme dados do Banco Central (BC). Nessa modalidade, as concessões de crédito cresceram 53,2%, ao passo que as linhas de consignado para servidores públicos e beneficiários do INSS tiveram queda de 29,7% e 4,4%, respectivamente.
Apesar do avanço, o crédito concedido para trabalhadores da iniciativa privada representa apenas 7% do volume total do saldo de consignado no país. Um sinal do tamanho da oportunidade para as fintechs. Não à toa, além da Paketá, nomes como Creditas, Capital Consig, Grupo H, entre outras, apostam em soluções de crédito para funcionários CLT.
Quem também está de olho neste mercado é o banco digital Neon, que no apagar das luzes de 2022 comprou a fintech catarinense Leve. Foi o segundo movimento do neobank nesse segmento — em 2020, já havia anunciado a aquisição da fintech Consiga+. Também no ano passado, em setembro, a Ali Crédito recebeu um aporte de R$ 130 milhões — entre equity e suporte para financiar o portfólio de clientes — numa rodada liderada pelo boostLAB, do BTG Pactual.
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