Em julho do ano passado, os fundadores da Barte — o português Caetano Lacerda (ex-Deutsche Bank e Tractable) e o brasileiro Raphael Dyxklay (ex-Creditas, Loft e Olist) — contaram em primeira mão ao Finsiders os planos da então recém-lançada fintech de pagamentos B2B. Na ocasião, a empresa contabilizava apenas três meses de operação e já havia recebido uma rodada pre-seed de R$ 6,5 milhões com Global Founders Capital (GFC), Venture Friends e Flash Ventures.
Agora, cerca de oito meses depois, a Barte levantou um novo investimento para escalar as operações e crescer 10 vezes pelo segundo ano consecutivo. A fintech acaba de captar um cheque de R$ 16 milhões em uma rodada liderada pelos fundos NXTP (investidor de fintechs como Capim, Pomelo e Payjoy) e Force Over Mass (que faz sua estreia no mercado brasileiro), com participação do atual investidor Venture Friends.
“O aporte acaba sendo consequência do que fizemos no último ano. Nossa tração correu muito bem, e entendemos que o mercado queria o que a Barte estava desenvolvendo. A partir daí, a conversa com investidores é natural”, conta Caetano, em entrevista ao Finsiders. “Levantamos aquilo que queríamos, com valuation justo, e tivemos até mais oferta do que precisávamos”, diz o empreendedor, quando questionado sobre como foi o “fundraising” em meio ao cenário desfavorável para novas captações.
Fundada em novembro de 2021, a Barte (do inglês “barter”, que significa escambo/troca) aposta em uma plataforma B2B que combina pagamentos com com acesso a capital, tanto para o contas a receber, quanto para o contas a pagar. A proposta é resolver os desafios de fluxo de caixa e liquidez de pequenas e médias empresas (PMEs) no país.
Atualmente com 2 mil companhias usando sua solução, a fintech tem como clientes, por exemplo, prestadores de serviços como escritórios de contabilidade e consultorias fornecedoras de equipamentos, como fabricantes de peças, ou mesmo negócios de tecnologia, incluindo e-commerces B2B e marketplaces. “Nossa visão de longo prazo é atender a cauda longa de PMEs, sub atendida em pagamentos e acesso a capital”, diz Caetano.
Meta é crescer 10 vezes
Depois dos primeiros meses de operação, com R$ 20 milhões movimentados na plataforma, a Barte agora quer ganhar robustez, expandir o negócio e incrementar o produto. Em 2022, a fintech diz ter aumentado em 10 vezes o volume transacionado e neste ano espera repetir o resultado — pelo menos. Crescer significa, por exemplo, amadurecer os canais de aquisição, o produto de pagamento e levantar uma estrutura de dívida para o negócio de crédito.
A startup já oferece antecipação de recebíveis com recursos próprios e se prepara para ter o primeiro veículo de funding, que pode ser um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDCs) ou outra estrutura. “FIDC é uma opção, mas não a única. Ainda é cedo para comentar qual vai ser a estrutura final. Estamos estudando os detalhes, estruturando essa frente, em paralelo com outras”, afirma Caetano, sem abrir maiores informações.
Em relação às primeiras operações com antecipação de recebíveis, o empreendedor diz que o default está “reduzido” e as taxas estão em patamar “saudável”. Para ele, ainda é cedo para falar sobre essa vertical do negócio. “Crédito é um produto que tem de escalar pensando bem no que está fazendo. É um lado da equação, mas sempre começamos com pagamentos. Quanto mais transações passarem na Barte, melhores serão nossos modelos de underwriting.”
Concorrência
As micro e pequenas empresas respondem por mais de 93% dos CNPJs no Brasil, conforme o Mapa de Empresas, do governo federal. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os pequenos negócios geram renda de aproximadamente R$ 420 bilhões por ano.
Não à toa, diversas fintechs miram esse público para oferecer de pagamentos a crédito, incluindo gestão financeira — um exemplo é a F360, plataforma de gestão financeira especializada no varejo, que espera aumentar em 50% a base de clientes este ano.
“Em contas a receber, existem algumas soluções, muitas vezes orientadas para B2C. Em pagamentos, também há várias. Mas não tem uma solução completa de gestão de fluxo de caixa, com acesso a capital, para PMEs B2B”, define Caetano.
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