Nada como um desastre bancário global para acelerar seus planos de negócios. Isso foi o que a Trace Finance viveu nos últimos dias. A fintech nascida em 2021 correu para entregar uma solução de global banking para atender clientes brasileiros e latinos no desafio de tirar, às pressas, dinheiro depositado no Silicon Valley Bank (SVB).
Com a quebra do banco norte-americano, a empresa adiantou o plano de lançamento da oferta, criando uma lista de espera já na quinta-feira (10) e lançando na segunda-feira (13) a plataforma para a transferência de valores do SVB para a conta da Trace.
A solução foi desenvolvida para quem já tem estruturas fora do Brasil, com contas nos Estados Unidos e nas Ilhas Cayman. Startups da América Latina que recebem aportes de fundos de Venture Capital estrangeiros, normalmente, precisam de uma estrutura que envolve uma holding nas Ilhas Cayman, com uma empresa em Delaware (EUA) e, abaixo, a operacional brasileira.
Nessa corrida, enquanto bancos tradicionais pediam até 60 dias para abrir uma conta, a Trace conseguiu criar uma solução que disponibiliza a conta bancária e que agora, com as melhorias realizadas nos últimos dias, finaliza o cadastro em até três horas para startups com saldo acima de US$ 500 mil.
Em entrevista ao Startups, o CEO da Trace, Bernardo Brites, comentou como o colapso do SVB mudou radicalmente o roadmap da fintech. “Já estávamos desenvolvendo a solução, com o plano de lançar em abril um piloto com poucos clientes, ir testando a plataforma”, pontua Bernardo.
Entretanto, com a demanda do mercado (leia-se desespero de muitos founders em tirar o seu dinheiro do SVB), a Trace ativou o modo “turbo” no final de semana – com direito à equipe trabalhando da casa do própiro fundador. “Colocamos todo o nosso time para testar e ajustar a plataforma para chegar ao produto final que agora lançamos”, explica o CEO.
De acordo com Bernardo, o produto que entrou no ar ainda não é a solução completa prevista pela companhia, que deverá integrar mais recursos de conta bancária, cartão e outras funcionalidades, mas já oferece a segurança exigida para os clientes que desejam transferir seus fundos.
Segundo ele, no momento não se trata tanto de lançar o produto com mil funcionalidades, mas dar a segurança esperada pelos fundadores. “Claro que na frente poderemos converter estes usuários para novos clientes, mas neste momento nossa missão é estar ao lado das empresas”, afirma o CEO.
Oferecendo alternativa ao SVB
A escassez por alternativas ao SVB fez com que a Trace recebesse uma alta demanda de interessados. Apenas da noite de terça-feira (14) para quarta-feira (15), no período da manhã, foram feitos 65 cadastros de empresas para o ‘global banking’. Segundo ele, a fila de espera já tem US$ 3 bilhões.
“As empresas estão preocupadas com segurança, em ter a tranquilidade de saber que os fundos estão seguros”, conta Bernardo. Ele explica que a solução de global banking é segurada pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) e ainda conta com seguros adicionais que somam até US$ 2 milhões de dólares.
Conforme explica Bernardo, a demanda ainda é alta, pois muitas empresas ainda estão com valores retidos no SVB, já que desde segunda-feira as transações estão desabilitadas. “Nossa solução chega para cadastrar empresas em nossa conta americana o mais rápido possível, para que eles possam sacar esse valor do SVB, em uma transferência doméstica”, explica.
Para o CEO, colocar este serviço à disposição das startups brasileiras é uma forma não apenas de aparecer para potenciais clientes, mas também de auxiliar os empreendedores neste momento desafiador. “Nós também tínhamos valores depositados no SVB, então passamos pela mesma experiência, aprendendo e desenvolvendo a melhor solução possível antes de oferecer aos clientes”, pontua Bernardo.
Para suportar os planos – e mudança nos planos – a Trace levantou no ano passado uma rodada seed de R$ 22,3 milhões (US$ 4,3 milhões). O aporte foi liderado pela HOF Capital (qua já investiu na Stripe, Space X, Klarna, Uber e Niantic) e contou com a participação da Circle Ventures – especializada no mercado de cripto –; do Mantis Ventures, o fundo de investimento da dupla de DJ´s The Chainsmokers, que também investiu no banco digital Z1; e da 2TM, controladora do Mercado Bitcoin. Entraram ainda fundadores como Andres Bilbao, da Rappi, Paulo Silveira, da Alura e Lincoln Ando, da idwall.
Em entrevista ao Startups na época do aporte, Bernardo destacou que o aporte seria fundamental para o grande plano da fintech: se transformar em um banco global para companhias iniciantes da América Latina.
Trace Finance não está sozinha
Atender quem teve que se virar pra tirar dinheiro do SVB virou uma corrida bastante disputada nos últimos dias. Diversas fintechs nos EUA se mobilizaram para apoiar esse processo e tentar pegar parte do espólio da instituição.
Aqui no Brasil, a Latitud também se movimentou. Hoje pela manhã a companhia lançou sua própria fintech, a Meridian.
*Conteúdo publicado originalmente pelo portal parceiro Startups.
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