Apesar dos pesares, o ano passado não foi assim tão ruim para as fintechs e bancos digitais. Ao contrário: de oito que divulgaram seus balanços relativos a 2022, cinco apresentaram melhora, com lucro maior ou prejuízo menor do que no ano anterior. Duas outras apresentaram lucros semelhantes ao de 2021, e apenas uma aumentou o prejuízo. A matéria é do portal parceiro Fintechs Brasil.
Mas o grande desafio para este ano é a manutenção dos juros altos, que ja fez seus primeiros estragos entre o sistema financeira com a quebra de alguns bancos. Ontem (23), a “super quarta”, não trouxe alívio. Ao contrário: o Fed (banco central dos Estados Unidos) promoveu alta de 0,25%, para 4,75% ao ano e o Copom (do Banco Central brasileiro) manteve a Selic em 13,75%.
Voltando a 2022, vamos aos nomes? Pela ordem: Stone e Nubank (que reverteram prejuízos anuais), PicPay e Inter (que seguem no prejuízo, porém bem abaixo do registrado em 2021); XP e Pan entregaram lucros iguais aos de 2021; PagSeguro registrou lucro maior; e a Creditas, apesar de ter melhorado no último trimestre, ainda fechou 2022 no vermelho – aliás, maior até do que em 2021 (ver números no quadro acima).
No caso da Creditas, porém, os resultados vêm sendo revertidos trimestre a trimestre desde o primeiro do ano passado.
No texto que acompanha o balanço, a fintech cita a reestruturação do Creditas Auto, sua divisão de compra e venda de veículos criada em 2021. Durante a expansão dos negócios, a empresa diz ter percebido que poderia ser mais eficiente com um modelo de negócio “mais ágil” que ajudasse a alavancar o relacionamento com os parceiros e, assim, focar na intermediação da compra de um carro, conforme reportagem do Finsiders.
Na prática, a companhia focará os esforços nas transações entre indivíduos (C2C) e descontinuará o centro de recondicionamento de veículos, que prepara os automóveis para as vendas, terceirizando o serviço. Nos próximos meses, a nova estrutura do Creditas Auto vai reduzir de seis para três o número de lojas físicas. Com o movimento, 95 pessoas que trabalham lá deixarão de ser funcionárias da Creditas. Segundo a empresa, há “um plano para realocar ao máximo em nossos parceiros e terceirizados.”
Depois de virar banco, PicPay reduz custos
Um pouco mais adiantado que a Creditas nos esforços para parar de queimar caixa, o PicPay já conseguiu obter lucro no quarto trimestre – o primeiro da sua história. Mas segue com prejuízo acumulado no ano, ainda que 64% menor. Com isso – lucro de R$ 20,4 milhões no quarto trimestre de 2022 – a fintech focou sua divulgação no fato de ter atingido o equilíbrio (breakeven) antes do previsto, que era somente em 2024, “graças à melhora operacional da companhia, que conseguiu triplicar as suas receitas pelo terceiro ano consecutivo. No ano passado, a empresa alcançou a marca de R$ 2,9 bilhões, um salto de 156% em relação a 2021. Na comparação trimestral, a receita cresceu 75%, e chegou a R$ 761 milhões”, diz em comunicado.
Segundo André Cazotto, executivo responsável por relação com investidores, estratégia e M&A da companhia, no ano passado o PicPay ampliou o portfólio de produtos, escalou serviços e manteve o foco em eficiência, redução de custos e reforço do engajamento da base. Cazotto aposta na mesma lógica para manter o crescimento com rentabilidade em 2023.
A fintech diversificou sua oferta de produtos de crédito, incluindo linhas colateralizadas, como empréstimo FGTS, e em investimentos, como P2P e P2B Lending (para pessoas e empresas) e cripto, que atingiu um milhão de clientes.
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Além de decisões como reduzir despesas com marketing (a empresa tomou a decisão de sair do BBB, por exemplo), um dos pilares da recuperação no quarto trimestre foi a queda do custo de captação. Em julho do ano passado, o PicPay conseguiu licença bancária (conforme mostrou reportagem do Fintechs Brasil, com a colaboração do Finsiders) e segundo informações do site Neofeed, baixou esse custo de 140% para 101% do CDI.
André Cazotto disse ainda que a ampliação do portfólio com foco em eficiência deve permanecer, e a companhia vai olhar ainda mais para produtos colateralizados. Prova disso é a aquisição recente da BX Blue, marketplace de crédito consignado, e também o avanço na área de investimentos.
Stone supera pesadelo
A Stone encerrou 2022 com o dobro da receita total do ano anterior, somando R$ 9,6 bilhões e lucro líquido ajustado de R$ 525,5 milhões, valor 6,2 vezes maior do que no ano anterior. A melhora é resultado do reposicionamento definido no final de 2021, depois de a empresa amargar prejuízos por conta da inadimplência. Antes focada no tripé A B C (acquisition, credit e banking), a Stone suspendeu operações de empréstimo e se voltou para fortalecer a área de banking.
Em agosto do ano passado, a ação da empresa na Nasdaq chegou a acumular queda de mais de 80% em 12 meses.
“Dando continuidade à nossa estratégia de crescimento com aumento de margens, entregamos mais um trimestre com resultados sólidos em termos de receita, rentabilidade, geração de caixa e ganho de participação de mercado. A estratégia de banking segue evoluindo de forma consistente com depósitos totais atingindo R$4 bilhões no final do trimestre. Adicionalmente, tivemos resultados positivos com ganho de margem operacional na plataforma de software”, afirmou Thiago Piau, CEO da Stone, em nota. “Seguiremos crescendo focando em rentabilidade e em evoluir nossas soluções para continuar apoiando o empreendedor brasileiro em seus negócios”, completa.
No último trimestre do ano, a plataforma de banking atingiu 693 mil clientes ativos, alta de 40,9% em comparação ao último período de 2021, registrando expansão de quase R$ 1 bilhão no volume de depósitos do 3T22 para o 4T22. A partir do uso de produtos como Pix, boletos e outros métodos de pagamentos, o volume de depósitos atingiu R$ 3,6 bilhões no segmento de MPME, com alta de 84,1% em comparação ao período do ano anterior. Com o lançamento da nova oferta “Super Conta Ton” para microempreendedores, os resultados de banking devem continuar acelerando, prevê a Stone.
Inter e Nubank surpreendem
Cada um à sua maneira, Inter e Nubank surpreenderam: um para o mal, outro para o bem.
O resultado contábil do Inter foi um prejuízo de R$ 14,1 milhões em 2022, ante rombo de R$ 55,1 milhões em 2021. Apesar da melhora, o mercado esperava mais. A carteira de crédito alcançou R$ 24,5 bilhões, aumento de 40,2% em relação ao ano anterior. A Inter&Co, empresa listada nos Estados Unidos que controla o banco, anunciou em 13/2 que teve lucro líquido de R$ 29 milhões no quarto trimestre de 2022, ante lucro ajustado (pelo IPCA) de R$ 23 milhões no terceiro trimestre do ano passado. O banco teve crescimento forte do crédito, das receitas e dos clientes, mas a taxa de inadimplência subiu.
Já os resultados do quarto trimestre de 2022 do “roxinho” surpreenderam os analistas positivamente: receita de US$ 1,45 bilhão (R$ 7,6 bilhões) no período, 128% acima do mesmo período de 2021. Além disso, reverteu o prejuízo líquido de US$ 66,1 milhões (R$ 345 milhões) do quarto trimestre de 2021 para um lucro líquido de US$ 58 milhões (R$ 302,8 milhões) entre outubro e dezembro do ano passado.
XP, Pan e PagSeguro
O PagBank PagSeguro, do grupo UOL, manteve a trajetória de lucro em alta. O resultado ficou em R$ 1,5 bilhão, 29% acima de 2021. Um dos responsáveis pelo bom desempenho foi a carteira de crédito da PagSeguro, que cresceu 45% atingindo R$ 2,7 bilhões no quarto trimestre de 2022. Segundo a companhia, o aumento foi impulsionado principalmente pela subscrição de empréstimos com garantia, como consignado, antecipação do FGTS e cartão de crédito com garantia.
No caso do Pan, o resultado abaixo das expectativas – apenas em linha com o período anterior – foi resultado do aumento da inadimplência e da “pisada no freio” que o banco, especializado em empréstimos para as classes de renda mais baixa, deu durante o ano, devido ao aumento dos juros.
Já a XP Inc., holding do grupo que tem suas ações negociadas em Nova York, também veio abaixo do esperado, devido à queda do lucro no último trimestre do ano. Os ativos de clientes na sua custódia chegaram a R$ 946 bilhões, com alta de 2,2% no trimestre e de 16% em 12 meses. Em 2022 como um todo, a XP atraiu R$ 155 bilhões em dinheiro novo. Em fundos de previdência já reúne R$ 61 bilhões, um aumento de 27% em 12 meses.
Além do acirramento da concorrência com o BTG, que adotou modelo de agentes autônomos em 2020, no ano passado os juros altos também reduziram a procura de investidores por ações, o grande filão da corretora.
*Este conteúdo foi originalmente publicado no Fintechs Brasil.
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