Danylo Martins, do Finsiders, e Léa De Luca, do Fintechs Brasil
Por toda a sede do Nubank, em São Paulo — toda mesmo, até na cozinha e nos banheiros — o visitante se depara com a frase “É só o começo”. É assim que o banco digital — que ficou conhecido pelo cartão roxo sem anuidade — decidiu comemorar seus 10 anos, 80 milhões de clientes e balanço no azul pelo terceiro trimestre consecutivo: prometendo muito mais pela próxima década.
Cristina Junqueira, cofundadora e CEO do Nubank no Brasil, revela que a meta da companhia é ampliar ainda mais seu portfólio de soluções (financeiras ou não), olhando para nichos até então pouco explorados, como o público de alta renda. Produtos como crédito imobiliário, melhorias no serviço de remessas internacionais e novas modalidades de seguros, por exemplo, estão no radar.
“A gente olha para o futuro vendo ‘N’ possibilidades; a gente sabe que o crédito imobiliário é algo que os clientes pedem bastante, é muito importante principalmente para os de alta renda; é algo que a gente adoraria fazer, é um produto mais complexo, que envolve processos que ainda não desenvolvemos, mas que a gente vai olhar com carinho”, disse a executiva.
O segmento de remessas internacionais é outro que segue recebendo atenção do Nubank, segundo Cristina, e tem um forte apelo para a clientela de alta renda. “Sem dúvida é um espaço que estamos olhando porque sabemos que é um ponto de dor, que importa na oferta para o cliente de alta renda”, afirmou. Há menos de dois anos, em um evento com direito à participação da cantora pop Anitta, o banco digital lançou o cartão Ultravioleta para fisgar esse público que hoje representa menos de 10% da base.
De acordo com Cristina, o produto tem evoluído bastante de lá pra cá. “Quando olhamos o crescimento no faturamento de cartão de crédito do Nubank neste ano, o segmento de alta renda foi o que mais cresceu, justamente em função da adoção do cartão Ultravioleta e da maturidade das nossas políticas de crédito.”
No esforço de ampliação do portfólio, no ano passado foram lançados 25 produtos e neste ano, até abril, outros 10. “A ideia não é oferecer tudo o que os outros bancos oferecem, mas tudo o que o cliente precisa”, afirmou Cristina, em entrevista a jornalistas num evento realizado nesta quinta-feira (18) na sede da empresa, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Nos últimos meses, por exemplo, a fintech ingressou no mercado de crédito consignado para servidores públicos — segmento com menor risco de inadimplência — e colocou para rodar oficialmente sua criptomoeda, a NuCoin. “Acreditamos muito no consignado, que é um crédito mais saudável, barato e podemos trazer muita inovação para esse mercado”, afirmou a executiva.
Embora esteja atento a oportunidades de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), o Nubank não está interessado em comprar base de clientes, segundo Cristina. “Queremos produtos. E ainda não encontramos o alvo ideal”, afirmou, indicando que o crescimento deverá continuar sendo majoritariamente orgânico. Nos últimos anos, a companhia comprou negócios como a tradicional corretora de investimentos Easynvest e a fintech de pagamentos instantâneos Spin Pay, para ficar em dois exemplos.
“Principal banco” dos clientes
Uma fala repetida pelos executivos no comando da empresa é o objetivo de ser o principal relacionamento bancário de seus clientes. Daí a necessidade de oferecer uma proposta de valor cada vez mais completa, com produtos e serviços que vão além das fronteiras financeiras, inclusive. Atualmente, o banco tem cerca de 80 milhões de clientes — são 75,2 milhões só no Brasil.
“Hoje, já somos o número 1 para 60% dos clientes ativos, o que significa 30 milhões de pessoas; considerando que o Brasil tem 170 milhões de adultos, temos espaço para multiplicar a base ativa por cinco”, calcula David Vélez, cofundador e CEO global do Nubank.
Nessa direção, ampliar a receita média mensal por cliente é outro desafio: hoje, essa média está em US$ 8,6 no Nubank, sendo que as safras mais maduras já levam a receita média por cliente para um patamar próximo a US$ 24/mês — nos grandes bancos brasileiros, esse número está em US$ 40. Já a taxa de atividade da base do Nubank chegou a 82,1% no primeiro trimestre deste ano, o que representa 64,9 milhões de clientes ativos — aqueles que geraram receita nos últimos 30 dias.
“Nos últimos 12 meses, adicionamos mais de 20 milhões de clientes. Isso foi mais do que o total adquirido pelos cinco grandes bancos incumbentes. E a taxa de atividade atingiu níveis históricos”, afirmou Guilherme Lago, CFO do banco digital. Além de expandir a base e aumentar a receita por cliente, o tripé para a geração de valor do Nubank inclui a manutenção do baixo custo de aquisição de clientes (CAC). “Temos um dos menores custos de aquisição, aproximadamente 70% dos clientes entram no Nubank por meio de referência de terceiros, o famoso ‘boca a boca’.”
“Não precisamos mais jogar o jogo do venture capital”
Em sua evolução na última década, David enxerga que já ultrapassou todos os riscos e obstáculos, inclusive o descrédito dos especialistas. “Não precisamos mais jogar o jogo do venture capital, isso acabou”, disse. “Temos uma das marcas mais valiosas da América Latina; escala, atendendo quase metade da população adulta no Brasil; infraestrutura de dados; lucro e talentos. Não precisamos levantar um dólar a mais para executar nosso plano de expansão.”
No primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido do Nubank foi de US$ 141,8 milhões, contra um prejuízo de US$ 45,1 milhões no mesmo período de 2022. A receita cresceu 87% (livre de efeitos cambiais) na mesma base de comparação, atingindo US$ 1,6 bilhão. Os depósitos, por sua vez, chegaram a US$ 15,8 bilhões ao final do trimestre, alta de 34% em igual intervalo.
Segundo o balanço, o Nubank fortaleceu a sua posição de capital “como uma das instituições mais bem capitalizadas na América Latina”, com um Índice de Basiléia no Brasil de 18,7%, bem acima do capital mínimo requerido de 10,5%. Além disso, a Nu Holdings tem US$ 2,4 bilhões em caixa em excesso. Atualmente, o banco digital vale US$ 30 bilhões, mas chegou a ter um valor de mercado superior a US$ 50 bilhões após o IPO, em dezembro de 2021.
Youssef Lahrech, presidente e diretor de operações do banco, também elencou vantagens no processo de concessão de crédito da companhia. Além da tecnologia, apoiada no tripé dados, modelo e infraestrutura, disciplina na concessão de crédito mantém a inadimplência abaixo da média do mercado para cartões de crédito, por exemplo: 5,5% no Nubank, ante 8,9% do mercado. “Entre junho de 2021 e junho de 2022, 5,7 milhões de pessoas entraram no sistema financeiro formal no Brasil, e desses 55,4% começaram a investir no Nubank.”
No futuro, ‘money platform’
O CEO global disse, ainda, que nos próximos dois anos o banco vai se concentrar nos três mercados onde opera atualmente — além do Brasil, está presente no México e Colômbia. No México, a companhia é líder em emissão de cartões de crédito, com 3,2 milhões, e 45% dos clientes em solo asteca tiveram acesso ao primeiro cartão com a fintech. Segundo Cristina, o país tem, inclusive, potencial de crescer mais do que o Brasil nos próximos anos, dada a quantidade de desbancarizados por lá. Já na Colômbia, em dois anos, o banco digital soma 636 mil clientes e deve lançar a conta digital até o fim do ano.
A visão de futuro, diz David, é construir o que ele chama de “money platform”, numa proposta semelhante aos super apps chineses AliPay e WeChat, com uma oferta de produtos e serviços, financeiros ou não. “Nos primeiros 10 anos, o objetivo era colocar um banco no bolso do consumidor. Agora a meta para a próxima década é criar um ‘personal banker’ no bolso do consumidor, em uma plataforma que ajuda os clientes a consumir melhor e simplifica a vida das pessoas”, afirmou o CEO global.
O investimento em tecnologia — incluindo inteligência artificial (IA) — é fundamental para avançar nesse plano, disse o executivo. “Esse investimento já começou”, afirmou, citando que IA é uma “grande prioridade” para o banco digital. “Achamos que IA será transformacional e a velocidade da disrupção será muito mais rápida do que aconteceu com a chegada da internet e, depois, dos smartphones.”
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