A Conta Black, voltada para pessoas pretas e periféricas, vem ampliando o portfólio de soluções do que chama de hub de produtos e serviços financeiros para esse público e espera mais do que dobrar a quantidade de clientes neste ano. Hoje com uma base de 40 mil pessoas — chamados pela empresa de “membros” —, a expectativa é chegar a 100 mil até dezembro.
Um dos lançamentos recentes, anunciado no começo do ano, foi a entrada no mundo dos investimentos. Por meio de uma parceria com a Genial, a fintech oferece diversas modalidades de aplicações, com aportes a partir de R$ 10. “Até o fim do ano, temos um roadmap de produtos, que estamos lançando gradativamente”, diz Fernanda Ribeiro, cofundadora e CEO da Conta Black, ao Finsiders.
“É um negócio, não um projeto”
A empreendedora participou de um painel sobre bancos digitais de nicho nesta terça-feira (27) no Febraban Tech — evento de tecnologia e inovação no setor bancário.
Durante sua fala, ela enfatizou a necessidade de construir um negócio que seja sustentável, sem perder de vista a preocupação com o propósito. “Não adianta nada eu crescer minha base ofertando um crédito que vai gerar endividamento para as pessoas, como é a maioria dos modelos de escala e crescimento das fintechs.”
As metas de expansão da fintech, aliás, não são tão agressivas em comparação com o que normalmente é visto no mercado. E isso, segundo a CEO, é proposital. “Desde o começo, a gente teve esse cuidado em olhar a questão da sustentabilidade financeira atrelada ao propósito”, afirma. Conforme diz a empreendedora, um aspecto não exclui o outro, mas precisam caminhar juntos. “O que estamos fazendo é um negócio, não um projeto.”
O propósito, aliás, tem sido um dos chamarizes para atrair o público, diz Fernanda. “Temos clientes que possuem contas em outros bancos, mas escolhem transacionar com a Conta Black entendendo nosso propósito e a questão identitária”, aponta a fundadora. Outro diferencial, diz Fernanda, é a combinação da estratégia digital com movimentos offline que, segundo ela, trazem pertencimento e proximidade.
Nesse sentido, a Conta Black tem feito parcerias para levar sua solução a ecossistemas. Por exemplo, há acordos com entidades e ONGs que atuam no processo de capacitação de pequenos negócios. “E esses parceiros, que já estão no dia a dia dos empreendedores, oferecem a nossa conta como parte do processo”, cita a CEO.
Fundada em 2017 por ela, turismóloga e pós-graduada em comunicação, e pelo publicitário Sérgio All, a Conta Black nasceu de uma “dor” de Sérgio, que tentou tomar crédito para a agência de publicidade que ele havia fundado. Apesar do bom histórico financeiro, o crédito foi negado. Foi aí que ele percebeu que havia uma oportunidade de democratizar o acesso a serviços financeiros para um público que costuma ser desbancarizado.
“Racismo algorítmico”
Diversos estudos e pesquisas revelam o tamanho do potencial de mercado e o desafio enfrentado por indivíduos pretos na hora de buscar soluções financeiras, especialmente crédito, mesmo sendo a maioria (56%) da população brasileira, segundo o IBGE. “Sabemos quanto a população negra movimenta fora do sistema bancário: em torno de R$ 1,7 trilhão. Ainda assim, vemos o chamado ‘racismo algorítmico’, que atrapalha o acesso aos serviços financeiros.”
De acordo com uma pesquisa feita no ano passado pelo Sebrae e pela Fundação Getulio Vargas (FGV), 51% dos empreendedores negros buscaram empréstimo desde o começo da pandemia da covid-19, contra 49% no caso dos empreendedores brancos. Contudo, quase metade (47%) teve negado o pedido de crédito, enquanto 34% dos brancos receberam a recusa.
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