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Desde 2013, Fábio Póvoa atua como investidor de startups. Hoje sócio da Smart Money Ventures, ao lado de Cesar Bertini, o engenheiro da computação pela Unicamp tem na sua bagagem a criação da Movile, talvez um dos grandes casos de sucesso do ecossistema de startups e atualmente dono de empresas como iFood e Sympla. Póvoa não faz parte mais do grupo de acionistas — vendeu a participação no negócio em 2015.
De lá para cá, tem aportado recursos em negócios SaaS com modelo B2B e também dá aulas na Unicamp, além de mentorias para empreendedores. Ajudou a criar, ainda, um curso de formação de investidores-anjos, que já capacitou mais de 500 pessoas.
Nesta entrevista, ele conta sua visão sobre o ecossistema de fintechs e para quais segmentos está olhando.
Finsiders: Como enxerga a vertical de fintechs? Quais as oportunidades?
Fábio Póvoa: Somos muito criteriosos na escolha de fintechs, que é um mercado bastante competitivo. Normalmente, os valuations estão esticados. Conseguimos a entrada em Iugu, em 2016, um gateway de pagamentos, na época concorrente de Pagar.me [vendida em 2016 para a Stone] e PagSeguro. Lideramos a rodada na Kria (antiga Broota). Olhamos várias, mas não investimos em outras.
Finsiders: O que tem chegado de pitch deck em fintechs?
Póvoa: Tem vindo bastante coisa de wallets. Mas temos uma abordagem mais conservadora, de potencial de crescimento. Vejo muita oportunidade em crédito consignado, principalmente vinculando a folha de pagamento de empresas privadas. Estamos vendo também soluções para financiar projetos de energia alternativa, como solar e eólica. Olhamos alguns deals.
Oportunidade em crédito consignado e soluções para financiar projetos de fontes alternativas de energia
Finsiders: E outras áreas, como investimentos, blockchain, criptomoedas?
Póvoa: Outro negócio que tenho visto bastante e está conectado com investimentos é [soluções ligadas ao] mercado secundário. Se acreditar que mais investidores vão para a bolsa, plataformas de captable poderiam permitir investimento com liquidez no secundário. Tenho investidores que olham e dizem que queriam ter participação em determinadas startups. Assim como o equity-crowdfunding virou alternativa, o próximo passo seria secundário para ativos que não seriam de captação pública. Decidimos não entrar em nada em criptomoedas. As oportunidades que olhamos em outros setores já enchem nosso prato. Infraestrutura de blockchain é interessante, tem potencial, mas também tem um nível de incerteza ou poucas alavancas de crescimento mais visíveis.
Investimentos de R$ 1 milhão a R$ 6 milhões em negócios nas áreas de finanças, educação e RH
Finsiders: E no setor de seguros, há oportunidades?
Póvoa: A gente olhou basicamente dois tipos de startups: uma tangencial ao setor de seguros, com IoT, de telemetria, acelerada pela Porto Seguro. Mas o grande ponto é que é uma feature do seguro, o grande business está no seguro em si e quem captura valor, em grande medida, são as seguradoras. Outra que olhamos no mercado de seguros é de seguro ‘pay per use’, mas esse tipo de negócio exige conhecimentos bastante específicos. Mais do que bancos, empresas aceitas no mercado de seguros dificilmente vão passar as grandes seguradoras.
Finsiders: Qual o tamanho do portfólio hoje?
Póvoa: Fizemos 15 investimentos em três anos. Nove estão ativos e tivemos três write-off e três exits. A Semantix, por exemplo, retornou 3 vezes o capital investido. A Pertoo foi comprada pela Escola em Movimento em 2018. E a Evnts também foi comprada.
Finsiders: Qual a tese de investimento?
Póvoa: Investimentos em negócios em estágio pre-seed e seed, com soluções SaaS e modelo B2B, nas áreas de finanças, educação e RH. Fazemos aportes de R$ 1 milhão a R$ 6 milhões, e o tíquete médio é de R$ 2,5 milhões.
Finsiders: Como estão os aportes neste ano?
Póvoa: Fazemos de quatro a cinco deals por ano. Vamos fazer quatro este ano. Fizemos também follow-on de uma startup do portfólio que está prestes a anunciar uma rodada.
Finsiders: Quais erros você cometeu quando começou a atuar como investidor-anjo?
Póvoa: Quando comecei como investidor-anjo, cometi alguns erros, como investir tíquetes pequenos demais, sozinho, em startups com time incompleto, sem validação, e fui convidado pelo pessoal da StartSe para fazer palestra sobre esses aprendizados. Daí nasceu o Angel Education, para ensinar a ser anjo. Tinha muita demanda para gente investir. Vários investidores querem fazer isso e não querem fazer sozinho. Depois resolvi montar a Smart Money Ventures. Dou aula na Unicamp, então atraio talentos. Lançamos também um programa de mentoria para startups há dois meses.