Lorelay Lopes*
As fintechs tiveram um boom no ano passado, impulsionado pelo impacto da Covid-19 no setor financeiro – que, afinal, foi além de qualquer previsão possível. Embora a digitalização já estivesse acontecendo de forma gradual, o senso de urgência ganhou força com a crise sanitária. O digital oferece ao usuário a vantagem de custos menores e uma jornada mais simples e descomplicada, diminui a burocracia e aumenta a transparência – além, é claro, de deixar os serviços mais acessíveis, uma vez que os clientes não têm a necessidade de sair de casa, pegar uma senha ou enfrentar uma fila por conta da exigência de uma assinatura para a solicitação de um simples serviço, especialmente num momento de isolamento social.
Um bom exemplo desse movimento foi o que aconteceu durante a liberação do auxílio emergencial, que fez com que a população de desbancarizados caísse 73% nos primeiros cinco meses de pandemia, segundo dados do estudo “Aceleração da inclusão financeira durante a pandemia da Covid-19”, realizado pela Americas Market Intelligence em parceria com a Mastercard. A maioria de nós certamente viu ou ouviu sobre alguém que abria sua primeira conta digital.
Outro exemplo muito interessante foi o abandono das cédulas, o aumento no uso de cartão e mais ainda dos meios de pagamento digitais, sobretudo com o advento dos contactless payments, ou pagamentos sem contato, através do chip do cartão, do celular ou até mesmo do chip subcutâneo. Sim, antes mesmo da Covid-19, a representatividade dessas transações na Europa já era de 40%.
Mas o que travava este crescimento por aqui antes? Assim como acontecia em toda e qualquer empresa, a gestão de riscos era, sem dúvida, mais rígida até que as soluções digitais deixassem de ser uma comodidade para se tornarem uma necessidade. O setor financeiro é, historicamente, marcado pela burocracia e regulação, e as empresas que já vinham investindo na modernização dos processos e soluções ganharam cada vez mais usuários.
As fintechs mantêm a segurança de uma instituição financeira tradicional, pois, como os bancos, também são “vigiadas” de perto por órgãos reguladores e precisam seguir uma série de normas. Mas, mesmo assim, encontraram caminhos para simplificar os processos. Hoje temos fintechs atuando nos mais diversos segmentos financeiros com serviços que vão desde contas digitais, empréstimos, consórcios e investimentos – e a lista só cresce.
Um estudo da consultoria Distrito com apoio da KPMG, divulgado em setembro de 2020, mostrou que as fintechs de meios de pagamento brasileiras receberam mais de US$ 120 milhões ao longo dos últimos cinco anos. Mas o que realmente surpreende é que, no momento da pesquisa, os investimentos do ano de 2020 já ultrapassavam US$ 67 milhões.
A consultoria Finnovating divulgou que o fluxo de injeção de capital em startups no ano de 2019, antes da pandemia, já havia crescido 130% acumulando US$ 2,6 bilhões. O Brasil foi o país que recebeu mais recursos, US$ 1,3 bilhão no total – e os aportes mais valiosos foram em fintechs.
O rápido crescimento das fintechs se deve à escalabilidade, pois a tecnologia permite aumentar a carteira de clientes sem que, para isso, seja necessário investir em estrutura de atendimento ou vendas. Elas também estão revolucionando a forma como lidamos com o nosso dinheiro. Se tornar um investidor em renda variável há cinco anos era algo para poucos, pois a falta de autonomia na hora de contratar inibia a grande maioria das pessoas. Com os aplicativos de investimento, o usuário pode simular, traçar objetivos, decidir sozinho e começar com bem pouco. A jornada para abrir uma conta envolvia o deslocamento até uma agência bancária, filas, documentos e expor toda a vida financeira para um desconhecido. Contratar um consórcio dependia de receber um consultor na sua casa, sem muita autonomia. Para muitos, pedir um empréstimo era uma situação de desconforto. Estes poucos exemplos já mostram quantas pessoas deixavam de explorar o mercado financeiro e tudo que ele pode oferecer. As fintechs tornam as soluções financeiras mais acessíveis. Como não achar incrível resolver tudo pelo smartphone?
Sem dúvida o céu aqui não é o limite, mas apenas o começo para as fintechs. A inovação tem acontecido de forma tão rápida que é bem difícil tecer previsões. Movimentar a economia é necessário em qualquer canto do mundo. Como diria Renato Russo: “O futuro não é mais como era antigamente”.
*Lorelay Lopes é head de Negócios do UP Consórcios, fintech da Embracon