No último dia 10, o Fintech View reuniu alguns dos principais especialistas em fintechs para discutir as transformações aceleradas no setor financeiro, num ano muito importante para o mercado, com a chegada do open banking e do Pix. O movimento de revolução é claro.
Em sua palestra, o especialista Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, autor do livro “O Fenômeno Fintech” e leitor da Finsiders, contou sobre o “rebundling”, a próxima onda do ambiente fintech, na visão dele. Diniz transportou a audiência até a década de 1980, quando foi instalado o primeiro caixa eletrônico do país, na cidade de Campinas, em São Paulo.
O especialista lembrou que oss bancos múltiplos mantinham a vida financeira dos clientes totalmente atrelada a elas. Isso começou a mudar (ainda bem) a partir da década de 1990, ainda parcialmente, quando a internet abriu espaço para a interação entre clientes e empresas. Foi assim que surgiu a PayPal, que inaugurou a era das fintechs, na opinião de vários especialistas.
A partir dos anos 2000, mudanças conjunturais favoreceram a criação de startups, como redução dos custos para abrir empresas e a flexibilização do ambiente regulatório. Isso permitiu a fundação de negócios especializados em nichos ou dores. Agora a próxima onda é de rebundling, ou serviços financeiros reagrupados.
Outro destaque do evento foi a palestra de Diogo Sousa da Silva, do departamento de regulação do Banco Central (BC). Em sua fala, ele reforçou a importância atribuída à segurança cibernética, algo que torna o modelo brasileiro de open banking uma referência para outros países, como o Chile, que usará o Brasil como referência para a implantação de seu sistema.
Dentre os benefícios do open banking, apontou como o nascimento de novos concorrentes, com modelos de negócios que colocam o consumidor no centro das atenções; a integração de serviços financeiros à jornada digital do cliente; a entrega de produtos customizados a diferentes perfis de consumidores e a assistência ao planejamento financeiro de famílias e empresas. Além disso, o especialista citou a educação e o aconselhamento financeiros como duas possíveis aplicações do open banking.
Os painéis discutiram, ainda, o tema de open finance, com participação de executivos do banco BV, Mercado Pago, Zoop e Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Os debatedores destacaram que um ambiente conectado, integrado e pulverizado, isto é, composto por atores de diversas indústrias, permite a criação de novos modelos de negócio, ampliando a competição entre as instituições financeiras. E a tecnologia foi apontada como chave para isso.
Por falar em tecnologia, em outro painel, Rogerio Melfi (TecBan), Karine Nogueira (Sinqia), Vinicius Flores (Rede Compras) e Antonio Rodrigues de Faria (Vólus) refletiram sobre a dificuldade de se levar serviços financeiros à população brasileira por conta do acesso à internet, tido como deficitário, num país ainda tão desigual.
Até por conta dessa desigualdade, os especialistas afirmaram que a despeito dos avanços no sistema financeiro, o dinheiro em espécie ainda é muito importante, considerado um elemento incorporado à cultura brasileira. E ressaltaram que as novas tecnologias são mais uma oportunidade de negócios, que chegam para se juntar ao dinheiro em papel, sem, contudo, substituí-lo.
Já no painel sobre pagamentos, com mediação do editor da Finsiders, Danylo Martins, o Pix foi um dos principais temas. Loise Nascimento (Movile), Edmar Siqueira (First Tech), Edísio Pereira (Zro Bank) e Gilberto Martins (Ebanx) apontaram as vantagens da nova forma de se fazer transações financeiras e, entre elas, elencaram as transformações nos usos e costumes, a mudança na dinâmica dos pagamentos do e-commerce e a inclusão digital.
Para fechar, Marcos Ramos (Easycrédito), Adriana Bauer (Kavod Lending) e Bruno Oliveira (Monkey Exchange) discutiram como o crédito pode chegar à população em geral e às pequenas e médias empresa. Os participantes afirmaram que as fintechs são capazes de realizar análises de crédito de forma customizada e rápida, oferecendo crédito até para pessoas “negativadas”, ou seja, aquelas com o nome incluído nos cadastros de maus pagadores, contribuindo para incentivar o consumo.
(Por Pablo de Oliveira Lopes, especial para a Finsiders, com colaboração de Danylo Martins)