A Poli Angels, grupo de investidores-anjo fundado por ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), investiu R$ 2,2 milhões em oito startups em 2020 e planeja manter o ritmo de dobrar o número de aportes neste ano. Desde o início, há três anos, o grupo de anjos já assinou investimentos para 12 negócios em diferentes setores. O primeiro cheque de 2021 provavelmente deve ir para uma fintech, diz Rubens Approbato, cofundador da Poli Angels.
Seria o segundo investimento da Poli Angels nessa vertical — o primeiro foi na ContaÁgil, fintech de contabilidade on-line para PMEs, numa rodada liderada pelo investidor-anjo Alvaro Taiar (ex-sócio da PwC Brasil) e acompanhada por Poli Angels, Urca Angels e Domo Invest. A empresa não divulgou o valor do round, mas a Finsiders apurou que o aporte foi na casa de R$ 1,3 milhão.
“No primeiro ano, investimos em quatro startups e no segundo ano, em oito. Temos feito um round de investimento a cada dois meses. Para chegar nas 12 investidas, olhamos 920 startups.”
Primeiro grupo de anjos em São Paulo formado por ex-alunos de uma escola de engenharia, a Poli Angels adota aquela visão de VC — é “agnóstica de setor”. Dá para notar isso pelo portfólio: duas agtechs (Idgeo e Agriconnected); duas HRtech (Worc e PixMedia) e duas logtechs (Bebida na Porta e Loopbox). Além dessas, os nomes incluem Sourcelevel (serviços de TI), Bynd (mobilidade), On The Go (marketing digital), E-comprei (distribuição) e Play2Sell (edtech) — essa última foi o aporte mais recente, da 15ª rodada feita pelo grupo.
Segundo Approbato, não houve mais investimentos em fintechs até hoje por causa dos valuations um tanto esticados. “Até pelo sucesso de algumas fintechs, o valuation estava muito alto. Mesmo startups quase em Power Point estavam com valuation desproporcionais. Tivemos de procurar mais para entender se valia a pena investir”, explica.
A ContaÁgil chamou a atenção dos anjos do grupo. A explicação? “Na visão de muitos de nós, ela está para os contadores da mesma forma que a 99 ou o Uber estão para os motoristas de táxis.
Com o dinheiro captado junto à Poli Angels e aos demais investidores, a ContaÁgil prevê ampliar os serviços, por exemplo, atendimento a MEIs, interfaces para profissionais de contabilidade e assessores especializados em investimentos e gestão de patrimônio, além de uma funcionalidade que permitirá o gerenciamento e movimentação de contas digitais via open banking. Atualmente, 75% dos clientes são empresas enquadradas no Simples, atuando em mais de 40 cidades em 8 estados, número que deve triplicar em 2021, com APIs de integração com regras tributárias de outros estados e cidades do Brasil, diz o cofundador Fábio Marques Pereira.
Para Approbato, existem muitas oportunidades ainda em fintechs. Ele, enquanto investidor, acredita que haverá mais negócios com soluções em crédito, um mercado extremamente concentrado na mão dos grandes bancos. “É um guarda-chuva enorme que os bancos deixam aberto. E que passa obviamente por scores de crédito, conhecimento do cliente”, afirma.
Outro segmento que o investidor tem no radar são startups com soluções de token e criptomoedas, inclusive para mercado secundário de ativos ilíquidos. “Outro tipo de fintech que está indo bem é aquela que consegue colocar taxa zero nos instrumentos de corretagem e operações”, diz. O mercado de investimentos, sabemos bem, está bastante concorrido com o avanço das plataformas abertas, algumas delas compradas por bancos e fintechs (vide Toro, adquirida pelo Santander, e Easynvest pelo Nubank).
Diversidade
Segundo Approbato, três aspectos costumam balizar as análises do grupo de anjos — hoje com 150 membros (ex-politécnicos e não-politécnicos) — antes de assinar um cheque. A qualidade do time que está por trás da startup é o principal deles. “Geralmente, gostamos de equipes com dois ou três fundadores, com diversidade de experiências e vida. Isso tem um peso grande”, diz.
O segundo critério é produto, que precisa ser algo escalável e numa ordem de grandeza alta em relação ao que já existe. Para isso acontecer, vem o terceiro aspecto: o mercado final deve ser muito grande.
O grupo investe em startups early-stage, com participação média de 5% nas investidas. Não são negócios em PowerPoint, precisam ter pelo menos um MVP já feito, porém não é necessário estar em tração e com clientes. Os aportes variam entre R$ 150 mil e R$ 700 mil por startup. Em alguns casos, a rodada tem coinvestimento de outros grupos e redes de anjos, ou fundos de Venture Capital.
Criada em 2018, a Poli Angels foi formada por ex-alunos da turma de 1980 da Poli-USP, entre eles, Approbato, que também cofundou a aceleradora PoliStart. Executivo com carreira corporativa, ele foi presidente da Fibra-DuPont e VP de operações e P&D para América Latina da DuPont, além de presidente da Petroquímica União e da Cabot Corporation. Desde 2016, começou a se enveredar pelo ecossistema de startups.
“Fomos o primeiro grupo de anjos de ex-alunos de uma escola de engenharia — até então, os grupos eram formados por ex-alunos de administração. Mas abrimos para não alunos da Poli. A única regra é ter pelo menos 60% de ex-alunos da Poli como membros para não perder a identidade. Mas temos empreendedores, médicos, advogados, prezamos a diversidade.”