Em janeiro, o Rappi anunciou a criação do seu próprio banco digital, o RappiBank, conforme antecipou o jornal Folha de S.Paulo. O que ninguém contou foi que a empresa colombiana fez um acordo para contratar vários funcionários, inclusive os fundadores, da fintech brasileira Zen Finance, pioneira em desenvolver uma plataforma de credit as a service (CaaS), oferecendo serviço de crédito a participantes de marketplaces, no formato white-label, apurou a Finsiders com fontes a par do assunto.
A Zen Finance estava passando por um período delicado, impactada principalmente pela pandemia, e os fundadores optaram por fechar a empresa. Procurado pela Finsiders, Jorge Vargas Neto, founder da Zen Finance e da Biva (comprada em 2017 pela PagSeguro), preferiu não comentar e se limitou a confirmar que os sócios decidiram encerrar o negócio no ano passado.
A startup foi criada em 2018 por ele e Marcelo Nomoto, que foi CTO da Biva e teve passagens por Nubank, Itaú Unibanco e Xerpa. Ambos assumiram cargos no recém-lançado RappiBank.
No fim do ano passado, a Rappi trouxe João Paulo Félix (ex-Uber e Google) para ser CEO do RappiBank. Vargas Neto assumiu em dezembro como diretor de produtos, marketing e finanças. Nomoto entrou como tech lead do banco digital da Rappi, e outros funcionários foram aproveitados para construir o RappiBank.
A Zen Finance fornecia toda a infraestrutura para que os marketplaces concedessem crédito aos seus vendedores, e cuidava da análise de riscos, assim como estruturava o funding por meio de FIDCs. A startup chegou a fechar parcerias com bons nomes, como Uber, AutoAvaliar, Dafiti e Mobly, conforme matéria publicada pelo Projeto Draft em 2018.
Em 2019, a fintech captou uma rodada de R$ 5,7 milhões, com participação do Global Founders Capital, além de investidores-anjos.
No site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo Zen Finance Marketplace, um FIDC datado de fevereiro de 2020, aparece em fase pré-operacional, com gestão e administração da BRL Trust. Mas um documento enviado à autarquia em 25 de fevereiro deste ano comunica o encerramento do fundo.
Sabe-se que um dos grandes clientes da fintech era o iFood — curiosamente ou não, a Movile (dona do iFood) investiu pesado na Zoop, uma fintech que começou com a operação de pagamentos white-label, apoiando marketplaces e outros negócios, como iFood, Avec e Medicinae Solutions, na criação de soluções de pagamentos customizadas. A tecnologia evoluiu e a Zoop incluiu a oferta de crédito e, mais recentemente, de banking as a service (BaaS).
Segundo reportagem da Folha, o RappiBank deve oferecer contas PF e PJ, cartão de crédito e empréstimos ao longo deste ano. O objetivo é se consolidar como um dos principais super apps no Brasil, e também seria uma estratégia para concorrer com a competidora direta, a Movile, dona do iFood.
“Queremos que um grande número de usuários entre e se engaje na plataforma o máximo possível. O objetivo é ser um dos quatro ícones da tela principal”, disse Sérgio Saraiva, presidente do Rappi, em entrevista à Folha.
Procurada pela reportagem, a Rappi disse que não vai comentar.