Depois de Acordo Certo e Konduto, Boa Vista deve fazer mais aquisições este ano

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Conhecida como um birô de crédito, a Boa Vista está se transformando numa empresa de analytics. Esse movimento começou a se acelerar no ano passado, quando a empresa fez seu IPO e captou R$ 2,17 bilhões numa oferta parte primária e parte secundária, em setembro.

Do montante que foi para o caixa da companhia (aproximadamente R$ 1,25 bilhão), 94% serão destinados para aquisições e o restante para reforçar a capacidade analítica, incluindo principalmente o investimento na criação do Centro de Excelência em Analytics (CEA).

Capitalizada, em dezembro, a empresa pagou um valor inicial de R$ 37 milhões para comprar a fintech Acordo Certo, plataforma de renegociação de dívidas, num deal que pode chegar a R$ 100,6 milhões após a conclusão da operação, conforme cumprimento de metas e outras condições.

Lucas Guedes, VP de negócios da Boa Vista Crédito: Divulgação

Agora em março, a Boa Vista adquiriu a Konduto, que fornece soluções antifraude, por R$ 172 milhões — 72,2% pagos em dinheiro e o restante em troca de ações. E o apetite da empresa não deve diminuir nos próximos meses.

“Temos trabalhado para ter mais aquisições este ano. Temos condições de fazer mais outras três ou quatro, ou algumas maiores. Estamos com algumas em discussão, mas a competição agora está mais selvagem”, conta Lucas Guedes, vice-presidente de negócios da Boa Vista, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

Segundo ele, negócios na área de analytics, cobrança e marketig service interessam à empresa. Outros segmentos no radar são operações de marketplaces de crédito e plataformas antifraude. A visão é sempre de ter serviços B2B ou B2B2C. “Não queremos emprestar dinheiro”, enfatiza Guedes.

De acordo com o executivo, é possível que a companhia faça aquisições transformacionais de empresas grandes com potencial de transformar, de fato, o business da Boa Vista, ou ainda compre startups que “mexam num pedacinho” do negócio. “Podemos usar endividamento para comprar.”

A Acordo Certo é um business complementar à oferta da Boa Vista, diz o executivo. Isso porque a empresa já tinha algumas ações de cobrança, como aviso, segundo, negativação, mas não atuava diretamente com o consumidor final para renegociação de dívidas. “A Acordo Certo usa muitos dados, analytics para fazer o match. Tivemos uma sinergia comercial já na primeira semana”, conta Guedes.

No caso da Konduto, que apoia e-commerces a reduzir fraudes, o executivo explica que os negócios são ‘análogos’. “Eles fazem para o e-commerce o que fazemos para crédito, e os dois vivem de dados, insumo básico”, aponta. A transação acaba de ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Em mais um mês, devemos finalizar transação.”

Analytics

Há seis ou sete anos, analytics era uma unidade de negócios, mas agora a meta comercial de analytics é a receita da companhia como um todo, diz Guedes. Por aí já dá para perceber a importância que a Boa Vista vem dando para análise de dados.

“Estruturamos time de analytics, trouxemos cientistas e engenheiros de dados”, afirma o executivo. Outro movimento foi fechar um acordo com o Google para fazer a migração de grande parte dos sistemas para a nuvem, ampliando a capacidade de processamento de dados.

A construção do Centro de Excelência em Analytics (CEA) é o principal investimento nessa área. “Estamos aprendendo que conseguimos criar algoritmos mais rapidamente que antes”, diz. “A vantagem da nuvem é que apertamos um botão e ligamos dez vezes mais máquinas”, brinca.

As soluções analíticas devem avançar ainda mais ao longo deste ano, com integração de dados entre as empresas recém-adquiridas e também a partir de novas informações do Cadastro Positivo. Um passo importante começa a ser dado nesta semana, quando a Boa Vista receberá os primeiros dados de uma operadora de telefonia, diz Guedes.

“Conseguimos negociar telco como bloco. Começamos a receber nesta segunda-feira os primeiros dados da primeira telco. Tombamos tudo em duas semanas.”

Posteriormente, serão incorporados dados de empresas de utilities, mas para esse segmento o trabalho é de “formiguinha”, diz o executivo. O resultado disso tudo ao longo do tempo é poder apoiar o público não bancarizado. “Pensando em Cadastro Positivo, hoje temos 300 bilhões de data points. Analytics é o nome do jogo.”

Fintechs 

A Boa Vista vem ampliando o número de fintechs em sua carteira de clientes. Em apresentação na divulgação dos resultados do 4º trimestre de 2020, a companhia apontou que a receita de analytics foi impulsionada por fintechs e “instituições financeiras emergentes”, com crescimento de 66% desse segmento em 2020.

“Para gente, fintech é motor de crescimento. Ajudamos as empresas a chegar em quem precisa de crédito.”

Para o executivo, o open banking (OB) é outro patamar e vai ajudar ainda mais a reduzir a assimetria de informações. “Quanto mais dados, maior é a Disneylândia aqui dentro”, brinca. Segundo ele, o papel da Boa Vista é apoiar os incumbentes e os desafiadores a aproveitar ao máximo o open banking. A empresa já construiu os primeiros algoritmos de open banking.

Perguntado sobre como enxerga a Boa Vista daqui a alguns anos, ele diz que a visão de futuro passa por ser uma empresa dominante de analytics, muito focada em crédito, cobrança e antifraude.

Na Boa Vista desde 2014, Lucas Caiche Guedes foi sócio do TMG Capital, fundo de private equity que é acionista da Boa Vista. Antes, Guedes atuou como gerente de produtos de crédito no Itaú Unibanco.

Fundada em 2010, a partir da desmutualização do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), a Boa Vista assumiu as operações da Equifax do Brasil em junho de 2011. Hoje, o negócio tem gestão independente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que atua no negócio por meio do board.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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