“Nosso objetivo de longo prazo é ser a maior corretora do país”. Assim começa a entrevista Tito Gusmão, CEO da Warren, quando lhe pergunto qual a visão de futuro da fintech. A empresa, que opera como corretora, gestora e administradora, está com o caixa cheio para acelerar seu crescimento, que passa por investir mais em tecnologia, ampliar a equipe e mesmo avaliar potenciais M&As, que possam agregar ainda mais à experiência que a empresa já oferece em sua plataforma.
No fim de abril, a fintech anunciou uma rodada Série C de R$ 300 milhões, liderada pelo GIC, fundo soberano de Cingapura e investidor de Nubank, Sankhya Hotmart e VR Benefícios. O round – o dobro do valor das duas anteriores – foi acompanhado pelos fundos Ribbit Capital (que investe em Nubank e Cora), Kaszek (investidor de Belvo, Creditas e Guiabolso) e Chromo Invest – todos investidores desde a Série A –, além de QED Investors, Meli Fund e Quartz, que haviam entrado na Série B.
A Warren quer brigar de igual para igual com os dois players mais fortes hoje no mercado de investimentos — XP, com R$ 715 bilhões sob custódia (AuM), e BTG Pactual, que em asset management soma R$ 450 bilhões em ativos sob gestão (AuM) e fez três aquisições recentes para acelerar sua expansão — a corretora Nécton no ano passado, o consolidador de investimentos Kinvo em março deste ano e, no mês passado, a Fator Corretora, para reforçar o segmento de assessoria de investimentos.
Para dar sequência ao seu plano de expansão, a Warren não prevê crescer só de forma orgânica. Segundo Tito, já existem algumas conversas avançadas para M&A. “Provavelmente devemos ter dois ou três nos próximos meses”, revela. A fintech está de olho em plataformas que tenham uma base relevante que possa ser diretamente conectada à Warren, e isso inclui agentes autônomos, gestoras, plataformas de conteúdo e análise. Outra vertical na mira são negócios que possam ajudar a antecipar a entrega de algumas features para o aplicativo. É tudo o que ele abre sobre os possíveis alvos.
Pergunto quais diferenciais a Warren entrega, em comparação com dois dos seus principais concorrentes (Magnetis e Vitreo), que também acreditam no modelo sem conflito de interesses.
“Verticalizamos toda a estrutura. Entregamos tecnologia de carteiras administradas, com sistema próprio. E recheamos com os melhores produtos do mercado. Além disso, temos dez fundos próprios da Warren, em que fazemos gestão e administração fiduciária”, diz Tito.
Segundo ele, outro diferencial, ainda em produtos, é a estrutura institucional, em que a Warren opera mesa institucional para grandes assets e tesourarias, com grande volume de transações, além da área de mercado de capitais. “Em setembro, vamos lançar nosso fundo imobiliário. Temos capacidade de originar dentro de casa bons investimentos”, defende.
No ano passado, a empresa também ampliou a oferta de produtos aos clientes, incluindo câmbio, seguro de vida, educação, planejamento financeiro e off-shore. Com isso, a Warren passou a oferecer o que a empresa chama de “um ecossistema completo de wealth management” para os clientes. “Vamos ter a possibilidade de a pessoa receber o salário na Warren, cartão acoplado à conta digital”, diz o empreendedor. E ele tem dados para embasar sua fala: mais da metade dos motivos de resgates das aplicações é para pagamento de contas.
Questionado se essa diversificação não pode fazer a Warren perder o foco, que é atuar em investimentos, Tito admite que pode, sim, fazer a corretora perder um pouco do foco, mas não do propósito, que é ajudar o brasileiro a investir melhor. “Não queremos ser um super app, que virou moda agora. Até porque focamos no B2C em quem tem entre R$ 100 mil e R$ 200 mil para investir. E no B2B, pessoas acima de R$ 1 milhão.
“Não queremos que a pessoa venha porque temos conta digital, mas porque está planejando se aposentar. E o caminho para chegar lá tem outras conexões, como previdência, seguros e outros produtos.”
O caminho escolhido é o que Tito gosta de chamar de investimentos 3.0. O 1.0 é o modelo dos bancos, e o 2.0, dos supermercados de investimentos, capitaneado pela XP. O 3.0 é o do ‘fee based’, em que se cobra um percentual baseado num percentual do volume investido pelos clientes — um modelo comum em mercados como Estados Unidos e Inglaterra, mas ainda recente no Brasil.
“O cenário de juro baixo não permite ter tanta ineficiência. E o principal modelo é o de alinhamento com cliente. Não estamos reinventando a roda. O futuro é esse”, diz o empreendedor.
Por mais que o discurso seja bonito, não é só isso que vai colaborar para o avanço das plataformas não ligadas a bancos. Tito sabe que é preciso fazer mais. E agora a Warren vai fazer mais barulho. A corretora acaba de lançar uma campanha publicitária com o mote “Investir #descomplicou”, utilizando TV, rádio, mídia externa e digital. “A gente precisa capturar a atenção das pessoas em 30 segundos”, diz Tito.
A evolução da Warren acompanha o movimento acelerado de crescimento do mercado de investimentos no Brasil. Não à toa, a fintech passou de R$ 500 milhões no início de 2020 para R$ 5 bilhões sob gestão ao final do ano. Em 2021, espera alcançar R$ 10 bilhões sob seu guarda-chuva.
Outra grande aposta da corretora está em sua plataforma para profissionais de investimentos, a Warren for Business, segmento que começou avançar no ano passado. Hoje, a vertical B2B já conta com 300 profissionais conectados à plataforma. Parte do novo aporte será direcionado para aprimorar os seus recursos tecnológicos, o que deve contribuir para a marca alcançar 400 parceiros até o fim deste ano e, assim, representar 60% do asset under management (AuM) da Warren como um todo, que atualmente é de 20%.
A ideia, segundo Tito, é que a expansão e contratações continuem neste ritmo. Com presença digital e física, a Warren hoje tem mais de 400 profissionais e nove espaços no total, em Porto Alegre, São Paulo, no interior de Santa Catarina e na capital do Paraná. Cerca de 35% da empresa é da área de tecnologia. A grande maioria das contratações em 2021 será em tech, e a Warren prevê fechar o ano com 600 pessoas no time.
Mercado de investimentos
A briga no mercado de investimentos está bastante interessante. No começo de abril, o Nubank recebeu o sinal verde do Banco Central (BC) para a compra da Easynvest, corretora digital com mais de 1,5 milhão de clientes e R$ 26 bilhões de ativos sob custódia, numa operação que tinha sido anunciada em setembro de 2020.
Naquela mesma semana, o BTG Pactual — que já tinha comprado a Nécton por R$ 348 milhões — anunciou a aquisição de 100% do capital da Fator Corretora, numa estratégia para reforçar o segmento de assessoria de investimentos. Recentemente, também foi aprovada pelo BC a compra de 60% da Toro Investimentos pelo Santander.
Outro player que vem se posicionando bem é a Magnetis, que recebeu um cheque de R$ 60 milhões em uma Série B no ano passado, liderada pela Redpoint eventures, com participação do Vostok Emerging Finance. Mais um nome é a Vitreo, fundada em 2018. A fintech iniciou atividades de DTVM em maio de 2020, e hoje soma mais de R$ 10 bilhões sob custódia e mais de 55 fundos próprios, atendendo mais de 100 mil clientes.
A Genial Investimentos, parte do Grupo Plural, acaba de lançar o Pix, conforme e-mail enviado aos clientes no dia 12 de maio. A corretora, que reúne R$ 48 bilhões em ativos sob custódia e mais de 400 mil clientes, vem desde o ano passado num processo de transformação digital, caminhando para um modelo de marketplace de serviços, incluindo parceiros e fintechs dentro da plataforma, como me contou Willian Yoshihiro, sócio do Banco Plural, em dezembro, em matéria do Valor.
O Modalmais fez IPO em 30 de abril. No primeiro balanço de resultados depois da abertura de capital, o banco digital de investimentos informou ter atingido R$ 19,6 bilhões em ativos sob custódia (AuC) no primeiro trimestre, um incremento de 82,3% na comparação anual. Desse volume, R$ 11,1 bilhões estão no segmento de varejo. A base total encerrou março com aproximadamente 400 mil clientes ativos, de um total de quase 1,3 milhão cadastrados.
A Inter Invest, plataforma de investimentos do banco Inter, bateu R$ 52 bilhões em ativos sob custódia (AuC) nos três primeiros meses do ano, com expansão anual de 154%, e 1,5 milhão de clientes ativos (crescimento de 149% ano contra ano). Os investidores com ações custodiadas chegaram a 368,6 mil no primeiro trimestre, crescimento de 115,9% na comparação anual. Vale lembrar que, logo no começo do ano, o Inter contratou Felipe Bottino, ex-executivo-chefe da Pi Investimentos (do Santander) e ex-Icatu, para liderar a área.