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“Não é um debate de substituição, mas sim de complementaridade do meio digital para cobrir lacunas e superar fricções que a moeda tradicional tem dificuldades de superar”, disse João Manoel Pinho de Mello, diretor de organização do sistema financeiro e resolução do Banco Central (BC) durante a abertura da série “O Real Digital”, promovida pela entidade e que vai contar com sete webinars ao longo do semestre com debates sobre o tema.
Em um cenário de transformações na forma como a sociedade transaciona, com crescente uso dos meios digitais de pagamento e o avanço na criação de tecnologias seguras e customizadas, a expectativa com a chegada do CBDC (sigla para Central Bank Digital Currency) é a de trazer mais inclusão e eficiência.
Além disso, o objetivo do Banco Central é o de contribuir para o surgimento de novos modelos de negócio, bem como favorecer a participação do Brasil nos cenários econômicos locais e globais.
“A pandemia nos mostrou que esse movimento pode inclusive ser acelerado. É tarefa do BC se antecipar a esse movimento de inovações e propor um ambiente que as recepcione de maneira harmônica, sem prejudicar a estabilidade do sistema financeiro e a segurança de dados dos seus clientes”, aponta Mello.
Falando em riscos…
Essa é uma outra preocupação do BC em relação à moeda digital, sobretudo em um cenário que convive com o vazamento constante de dados, o que também coloca em xeque a confiança das pessoas com o novo sistema. “Há que se tomar um extremo cuidado na escolha do desenho e das tecnologias que serão utilizadas, a fim de evitar que a CBDC desrespeite a LGPD”, destaca o diretor.
Por isso, ele lembra que esse movimento de adoção de uma nova moeda deve ser gradual, de forma que permita ao regulador avaliar os riscos e benefícios da inovação, definindo adequadamente as regras necessárias.
Vale lembrar que desde 2013, o BC passa por mudanças significativas, desde a criação do arranjo de pagamentos até o lançamento do Pix, que virou o queridinho dos brasileiros — no início do mês, o sistema de pagamentos instantâneos atingiu 31,3 milhões de transações em um dia. Os avanços em relação ao Open Banking, cuja segunda fase começa no próximo dia 13 de agosto, também estão ocorrendo a todo vapor.
“São mudanças paulatinas e encadeadas que, em seu conjunto, pavimentam o caminho para um sistema financeiro mais eficiente e competitivo. No sistema financeiro, as soluções nunca são simples, devem sempre ser tomadas de forma sinérgica às estruturas que sustentam o ecossistema”, ressalta.
Previsões
No fim de maio, o Banco Central apresentou as diretrizes, ainda preliminares, sobre esse novo projeto. A ideia é que os seminários comecem nos próximos meses. Durante o Ciab, evento de tecnologia bancária organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) realizado no fim de junho, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, evitou falar de prazos, mas diz que acha possível “evoluir entre agora e o fim de 2022”, embora não tenha uma data fixa.
Para Mello, o debate internacional sobre CBDC ainda tem um longo caminho pela frente e não há um padrão definido ou modelo a ser seguido. “Além disso, pensando em uma possível interação entre CBDCs de várias jurisdições, fica evidente a necessidade de uma coordenação para que essas moedas possam ser trocadas com nível de fricção significativamente melhor do que aquele que existe atualmente para os pagamentos transfronteiriços”, afirma.
O fato é que, independente de prazos, a moeda digital trará muitas oportunidades de negócio, reforça Keiji Sakai, Country Manager da R3, empresa atuante no provimento de novas tecnologias para o setor financeiro. “A gente está discutindo cada vez mais um mundo digital, e as transações eletrônicas têm que ter um meio mais eficiente para serem feitas”.
A expectativa do BC é de que após o lançamento, a moeda digital tenha uma boa aderência, assim como foi com o Pix. Para isso, segundo Eduardo Diniz, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), é preciso que a população esteja preparada para aceitar uma tecnologia desconhecida. A questão também passa pela educação financeira das pessoas.
“Quando você usa pela primeira vez, é o suficiente para as pessoas adotarem. Muda completamente a perspectiva. A prontidão, em geral, não é em função de uma coisa que elas não conhecem. Isso muda no momento em que elas começam a usar”.
Previsões à parte, o real digital é mais um passo de uma verdadeira revolução no sistema de pagamentos, o que desafia cada vez mais o regulador. “Não temo prever aqui exatamente como a moeda será percebida pelo cidadão do futuro ou como a população irá usá-la em seu cotidiano, mas é possível afirmar que haverá, a longo prazo, uma migração significativa do papel moeda para formas digitais”, exemplifica o diretor do BC. A conferir.
Assista ao primeiro webinar do BC sobre o tema clicando aqui.
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Giovanni Porfírio é jornalista com cinco anos de carreira, foi editor web no Startupi antes de chegar ao Finsiders. Formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pós-graduando em Produção e Práticas Jornalísticas na Contemporaneidade na Faculdade Cásper Líbero (FCL), teve passagens, ainda, por RICTV Record Londrina e Folha de Londrina.
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