O mercado global do blockchain vem avançando de forma acelerada. No ano passado, atingiu US$ 3 bilhões, cifra que deve crescer mais de 13x até 2025, quando registrará US$ 39,7 bilhões, segundo projeções da Markets and Markets. Com destaque para as regiões da América do Norte, Europa e Ásia.
A tecnologia tem grande potencial de uso em diferentes mercados. Bancos como J.P. Morgan e Citi já começaram a usar, por exemplo. “Um sistema baseado em blockchain acelera processos e reduz custos, sem sacrificar a segurança”, diz um report recente produzido pelo boostLAB, do BTG Pactual, em parceria com a ACE.
Por aqui, iniciativas usando blockchain ainda estão no começo. Mas aos poucos ganham força alguns projetos. Um deles está sendo anunciado nesta quinta-feira (5). O BRZ — stablecoin emitido pela empresa de soluções financeiras baseadas em blockchain Transfero — se uniu à Solana Foundation para lançar um fundo que investirá em projetos que utilizam blockchain na América Latina, inclusive no Brasil.
(para você que, assim como eu, não é do mundo cripto, stablecoin é uma ‘moeda estável’, na tradução literal, que tem como lastro uma moeda tradicional. Por exemplo, o BRZ é lastreado no real)
Com capital de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões), o veículo vai definir os selecionados a partir dos inscritos na etapa brasileira do hackaton (maratona de programação) Solana, que ocorreu entre 15 de maio e 7 de junho, além de inscrições diretas. Segundo as empresas, é a maior iniciativa de funding de projetos relacionados ao setor de criptomoedas já ocorrida no Brasil.
Quatro projetos, todos internacionais por enquanto, já foram escolhidos. São eles: FTT, criptomoeda criada pela exchange FTX; Serum, exchange descentralizada; DeFi Land, jogo on-line que emula o ambiente de finanças descentralizadas; e Parsiq, plataforma de dados e automação. No total, já estão sendo investidos mais de US$ 2 milhões nessas quatro iniciativas.
Agora, a expectativa é atrair projetos brasileiros, com empreendedores “motivados e com boas ideias”, explica Thiago Cesar, CEO da Transfero, ao Finsiders. E isso significa time empreendedor, com projeto que demonstre impacto para a criptoeconomia ou para a economia real, por exemplo, startups com soluções de empréstimo em cripto ou transferências internacionais.
“Não estamos preocupados com o negócio ter algum tipo de tração ou métrica de receita. É, de fato, um capital de risco. Se acreditarmos na ideia e na equipe, o investimento pode ser feito.”
A seleção começou, e o fundo já recebeu projetos brasileiros que vão desde soluções de ‘neobanks’ até iniciativas fora do setor financeiro, envolvendo aplicação de blockchain na aviação, exemplifica Thiago, sem abrir mais detalhes. A expectativa é analisar e assinar os cheques até o fim deste ano. Não há um número de projetos que serão contemplados. Tudo vai depender da necessidade de recurso de cada negócio.
O fundo Latam faz parte de uma ação maior da Solana Foundation envolvendo outros países, como Rússia, Índia e Ucrânia, que pretende disponibilizar um total de US$ 60 milhões para o desenvolvimento de novos projetos na blockchain. Participam da ação também da ação a Hacken Foundation, Gate.io e a Coin DCX.
“A Solana acredita que os mercados emergentes têm um potencial imenso e está empenhada em viabilizar projetos e serviços importantes nessas regiões”, disse Anatoly Yakovenko, presidente da Solana Foundation, em comunicado.
Apesar de o blockchain ainda engatinhar no Brasil, é possível notar uma evolução. Um mapeamento divulgado esta semana pelo inovaBra aponta que existem 117 startups com soluções de blockchain e cripto. Com um dado relevante: 80% delas surgiram nos últimos cinco anos, sinal do aquecimento na área. Quase metade delas (49,7%) têm soluções financeiras, como pagamentos, transferências, câmbio, negociação de ativos digitais e oferta de crédito.
Para Thiago, da Transfero, os criptoativos como investimento — que vêm crescendo por aqui — ajudam nesse ‘awareness’ para a área. “Mas quando falamos de desenvolvimento, o Brasil ainda é mercado de corretora, enquanto na Ásia as pessoas estão mais engajadas com contratos inteligentes, exchanges descentralizadas, aplicações de blockchain mais sofisticadas, como NFT. O Brasil ainda não entrou nessa onda”, avalia o empreendedor.
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