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A Peak Invest, que atua com peer-to-peer (P2P) lending, recebeu na última semana o aval do Banco Central (BC) para operar como uma SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas), figura que permite a captação de recursos do público, desde que estejam vinculados à operação dos empréstimos, mas também possibilita prestar serviços de análise e cobrança de crédito, além de emissão de moeda eletrônica.
A partir de agora, a fintech ganha mais autonomia nas operações de empréstimo e já se prepara para oferecer diversos serviços financeiros, entre eles: conta digital para as pequenas e médias empresas (PME) tomadores de empréstimo, cartão de crédito, antecipação de recebíveis de cartão (alô, Marvin e Spike!) e outros que estão no roadmap.
Em resumo, a SEP permite à Peak entrar num ‘next level’, define Marcio Berger, cofundador e CEO da Peak Invest, em entrevista exclusiva ao Finsiders. “Já estamos testando a conta digital e vamos lançá-la daqui a 15, 20 dias”, revela.
Outra prioridade de curto prazo é a operação com recebíveis de cartão de crédito, um mercado que foi praticamente inaugurado em junho, com a entrada em vigor da Circular 3.952/2019. “Estamos colocando mais ‘pimentinha’ nesse caldeirão”, brinca o empreendedor. A fintech já concluiu a homologação na CERC, registradora de recebíveis. A ideia, diz Marcio, não é entrar na “corrida sangrenta” por taxas, mas sim adotar uma estratégia de oferta de crédito com garantia de recebíveis para PMEs com “experiência leve, rápida e fluída”.
Para que a SEP esteja em pleno funcionamento, há de se fazer ainda uma integração final com o BC. “Durante outubro e novembro, estamos com investimentos fortes em tecnologia, com time interno e externo trabalhando para que consigamos acelerar a esteira de crédito da Peak, e com isso originar mais rapidamente”, conta.
A primeira operação de crédito já utilizando a nova licença está prevista para ocorrer na primeira semana de novembro, diz Marcio. Até lá, a Peak segue operando como correspondente bancário, atualmente plugada a duas instituições: Banco Topázio e BMP MoneyPlus.
Com mais de R$ 60 milhões originados desde o início do negócio, há três anos, a Peak já realizou aproximadamente 900 operações no período. Para 2021, a meta é chegar a R$ 30 milhões em originação, o que significaria um crescimento de 50% em relação ao volume registrado no ano passado.
“Para o ano que vem, no mínimo, vamos dobrar [a originação].”
Na base de tomadores de crédito, a fintech tem mais de 10 mil pequenas e médias empresas cadastradas. Na outra ponta, são cerca de 5 mil investidores na plataforma, sendo 33% do volume financiado por investidores institucionais, a grande maioria FIDCs, além de bancos de pequeno porte e family offices, outro perfil que vem crescendo, diz Marcio.
“Nos últimos 12 meses, trabalhamos com o freio de mão puxado, segurando a originação para ajustar nosso modelo de score. Agora, com o score pronto, estamos prontos para colocar de novo a ficha na máquina”, afirma o empreendedor. Com a chegada do Open Banking, a Peak passará a ter acesso a uma quantidade maior de informações das empresas tomadoras de crédito. “Vamos ter muito mais agilidade na análise de crédito.”
Lending as a service
A expectativa da Peak é também acelerar sua vertical de ‘lending as a service’ (LaaS), lançada no ano passado. A fintech faz todo o ciclo do crédito — da originação à cobrança, passando por qualificação de leads, compliance, gestão da carteira de cobrança. “Fazemos todo o processo, incluindo split de pagamentos, tudo integrado via API e CNAB, com alguns dos principais bancos”, explica.
O piloto do LaaS foi realizado no ano passado com um banco no Estado do Paraná, inicialmente para originação e análise de crédito. Em outubro, a Peak assinou um acordo com a gestora Titan Capital, para colocar de pé um FIDC. Agora, a fintech tem alguns projetos em andamento para grandes empresas, geradoras de caixa. “A ideia é ajudar essas empresas a fomentar seu supply chain, de forma efetiva, ‘one-stop-shop’”, diz Marcio.
Dois contratos estão assinados, com NDA, ou seja, não permitem a divulgação dos termos. “Temos grandes possibilidades de fechar um grande negócio no primeiro trimestre de 2022”, diz o empreendedor, que não pode abrir mais detalhes justamente por conta do acordo de confidencialidade. Outro plano da Peak é poder oferecer sua infraestrutura para fintechs de P2P lending que não têm autorização de SEP e precisam, assim, ‘bancarizar’ suas operações.
Perguntado sobre uma provável captação de investimentos ainda este ano ou no início de 2022, Marcio diz que sempre se preocupou mais com o resultado do negócio, do que com a entrada de novos recursos para financiar o crescimento. “Gostamos de ver a empresa gerando caixa”, aponta. Mas o ‘next level’ com a SEP traz oportunidade de acelerar o crescimento, e o empreendedor sabe disso.
“Estamos no meio de um processo de captação, em negociação avançada com um investidor estratégico. E também estamos conversando com algumas casas, falando em números de Série A”, revela.
Até de fato ter tudo assinado, leva um tempo e, por óbvio, só termina quando acaba. O empreendedor acredita em uma conclusão do deal com este investidor estratégico até janeiro de 2022.
Desde o início do negócio, a Peak fez três rodadas seed, sendo duas com investidores-anjos e uma via equity-crowdfunding — nesta última, em meados de 2019, levantou R$ 1,2 milhão via plataforma EqSeed. No time de sócios-fundadores, estão o próprio Marcio, além de Leonardo Coelho e Diego Pereira. A equipe, ao todo, tem 25 pessoas.
Competição
Com a autorização, a Peak passa a integrar uma lista de SEPs, que já tem nomes como Mova, EmCash, Nexoos, Bullla, entre outras. A Nexoos, uma das pioneiras em P2P lending, cresceu e chamou a atenção da Ame Digital, fintech da Americanas, que viu na plataforma a possibilidade de acelerar sua oferta de crédito, por meio de uma plataforma de credit as a service (CaaS), criada pela Nexoos.
A Bullla, por sua vez, vem se posicionando como uma “comunidade financeira”, como disse recentemente ao Estadão Marcelo Villela, CEO da fintech, e ex-presidente da financeira Losango. A EmCash aposta no crédito como um benefício que as empresas podem oferecer aos seus funcionários.
Marcio, da Peak, acredita numa evolução do modelo P2P lending, como já aconteceu em outros mercados, vide o caso da plataforma norte-americana Lending Club, que originou US$ 2,7 bilhões no segundo trimestre, crescimento de 84% ano contra ano.
Na prática, as plataformas de P2P lending vão continuar operando com investidores de varejo, mais por uma questão de “conceito e propósito”, do que por resultado financeiro, avalia Marcio. Daí a aposta em ampliar a oferta de produtos e serviços. No radar da Peak está, inclusive, se tornar uma instituição de pagamentos (IP).
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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