Cada vez mais empresa de 'analytics', Boa Vista tem lucro 4x maior no trimestre

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O birô de crédito Boa Vista caminha para ser uma empresa de analytics, e a estratégia tem aparecido cada vez mais nos balanços. No terceiro trimestre, não foi diferente. Tanto é que a receita do segmento “serviços para decisão” cresceu mais de 27% ano contra ano.

“Ainda há muito mais espaço para crescer, mais algoritmos a serem explorados, em uma busca incessante pelas melhores soluções. Nosso objetivo sempre será de prover o melhor suporte a pessoas e empresas para decisões assertivas”, escreveu Dirceu Gardel, CEO da companhia, na mensagem que acompanha o release de resultados.

No período entre julho a setembro, a Boa Vista teve lucro líquido ajustado de R$ 60,3 milhões, com crescimento de mais de 4x em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Na comparação trimestral, o resultado praticamente dobrou.

A última linha do balanço ficou positiva, segundo a empresa, pela combinação entre o forte aumento do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado com o melhor resultado financeiro no período.

O Ebitda ajustado terminou o terceiro trimestre em R$ 103,5 milhões, com avanço de 60,8% ano contra ano e de 34,4% na análise trimestral. Já a geração de caixa orgânica (que desconsidera o efeito das aquisições de Acordo Certo e Konduto) cresceu 62,8% na comparação anual, para R$ 104,8 milhões. Ante o segundo trimestre, o avanço foi de 24,9%.

A receita líquida também teve crescimento ano contra ano, impulsionada pelas duas linhas de negócio da empresa — “serviços para decisão” e “serviços de recuperação”.

De forma orgânica (sem incluir as aquisições), a receita cresceu 20,7% na comparação anual, somando R$ 187,2 milhões entre julho e setembro. Entre um trimestre e outro, o avanço foi de 6,4%, puxado pelo bom desempenho dos “serviços para decisão”.

Considerando a consolidação das empresas adquiridas, a receita líquida totalizou R$ 196,88 milhões no terceiro trimestre, o que representou alta de 26,9% ano contra ano e de 8,4% na análise trimestral. Nessa última, o aumento foi possível graças ao crescimento orgânico dos “serviços para decisão”, somado à consolidação inorgânica de aproximadamente R$ 3,6 milhões de receitas da Konduto.

Na vertical de “serviços para decisão”, as soluções para o consumidor cresceram mais de 2.360% ano contra ano, por causa da consolidação de aproximadamente R$ 6,1 milhões de receita da fintech Acordo Certo, comprada no fim do ano passado pela Boa Vista.

O impacto das aquisições também foi visível no segmento de soluções antifraude, que anteriormente estavam alocadas em serviços de marketing. Levando em conta a consolidação dos resultados da Konduto, essa linha de receitas cresceu mais de 3x na análise anual, puxada pela consolidação de aproximadamente R$ 3,6 milhões de dois meses de receita da Konduto.

As soluções analíticas também foram destaque no trimestre e cresceram 27,7%, impulsionadas pelas fintechs, que continuam sendo o principal motor de crescimento desse segmento. Contribuíram, ainda, as instituições financeiras tradicionais e a recuperação do setor varejista, com o retorno ao consumo.

Em contrapartida, a linha de “relatórios de risco” teve uma queda de 2,8% na receita ano contra ano, como reflexo da estratégia da Boa Vista de migração desses relatórios para produtos analíticos de maior valor agregado. Ante o segundo trimestre, a linha cresceu modestos 0,5%, puxada pelo uso de dados brutos por algumas instituições financeiras tradicionais.

Em “serviços de recuperação”, a Boa Vista teve crescimento de 81,9% na receita de “soluções digitais” ano contra ano, impulsionado pela retomada das negativações, sobretudo em instituições tradicionais e fintechs, segmento no qual a companhia conquistou novos contratos.

Por outro lado, as “soluções impressas e relatórios” viram a receita cair 15,2% na comparação anual e 11,3% na análise trimestral, reforçando a migração da empresa cada vez mais para soluções digitais.

“Fechamos o trimestre ampliando nossa participação em novos mercados e ainda contando com boas oportunidades mapeadas para aquisições de novas soluções e/ou plataformas tecnológicas adjacentes aos serviços que já prestamos, visando ampliar nossa velocidade e ganho de participação de mercado, sempre buscando negócios escaláveis e com alta sinergia com nossos negócios, fortalecendo a posição da Boa Vista como uma empresa referência em analytics no mercado Brasileiro”, disse Dirceu Gardel, CEO da Boa Vista, no relatório.

Desde seu IPO, em setembro do ano passado, a Boa Vista vem fazendo aquisições. No fim de 2020, anunciou a compra de 100% da fintech de renegociação de dívidas Acordo Certo, num deal que pode chegar a R$ 100,6 milhões após a conclusão da operação, conforme cumprimento de metas e outras condições.

Em março, a empresa divulgou a aquisição — concluída recentemente — da Konduto, empresa de soluções antifraude, numa operação de R$ 172 milhões.

Conhecida como um birô de crédito, a Boa Vista está se transformando numa empresa de analytics. Esse movimento começou a se acelerar a partir do IPO, em setembro de 2020, quando a companhia levantou R$ 2,17 bilhões numa oferta parte primária e parte secundária.

Do montante que foi para o caixa da companhia (aproximadamente R$ 1,25 bilhão), 94% foram destinados para aquisições e o restante para reforçar a capacidade analítica, incluindo principalmente o investimento no Centro de Excelência em Analytics (CEA).

Em entrevista ao Finsiders em abril, Lucas Guedes, VP de negócios da Boa Vista, disse que em M&A interessam negócios na área de analytics, cobrança e marketig service interessam à empresa. Outras áreas no radar são operações de marketplaces de crédito e plataformas antifraude. A visão é sempre de ter serviços B2B ou B2B2C. “Não queremos emprestar dinheiro”, enfatizou o executivo na época.

Fundada em 2010, a partir da desmutualização do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), a Boa Vista assumiu as operações da Equifax do Brasil em junho de 2011. Hoje, o negócio tem gestão independente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que atua no negócio por meio do board.

Na B3, os papéis da Boa Vista não vivem dias bons. Já chegaram a valer R$ 13,53 em meados de agosto, mas agora estão abaixo de R$ 8. No pregão de terça-feira (16), as ações terminaram o dia cotadas a R$ 7,56. Hoje, a companhia é avaliada em aproximadamente R$ 4 bilhões.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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