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Por Ethan Clark*, exclusivo para o Finsiders
Durante muito tempo, a América Latina foi uma região atrasada em termos de bancarização e acesso a crédito. Mas a maré da inclusão financeira começou a mudar ao longo dos últimos anos com o aparecimento de fintechs pioneiras, que traçaram o caminho para o progresso em bancos digitais que vimos recentemente.
A covid-19 e suas consequentes restrições tiveram um efeito significativo em vários aspectos de nossa vida e na forma como fazemos as coisas. Da forma de trabalhar à de socializar e aprender, tivemos que nos adaptar ao “novo normal” durante o último ano.
Uma das mudanças mais significativas durante este tempo foi o método de pagar e receber recursos. Em uma tentativa de reduzir a disseminação do vírus através do contato, os meios de pagamento digitais e sem contato, como carteiras digitais, substituíram as notas de dinheiro em muitos casos e representaram mudanças potencialmente duradouras no comportamento dos consumidores.
Segundo o relatório da Mastercard e da America Market Intelligence publicado em outubro de 2021, incluindo 13 países da América Latina e do Caribe, apenas 45% dos latino-americanos tinham feito uma transação online antes da pandemia, mas, desde então, este número aumentou para 83%.
Um dos principais fatores dessa tremenda mudança para o digital ao longo dos últimos anos foi a administração de subsídios governamentais para apoiar os setores vulneráveis da população durante os fechamentos e isolamentos, com a maioria dos quais tendo sido distribuída através de contas digitais. Este método garantiu que os fundos chegassem a seus destinatários de forma rápida e segura.
As infraestruturas digitais permitiram que governos registrassem os beneficiários e distribuíssem os recursos em escala e velocidade inéditas. O exemplo mais notável está no Brasil, onde desde abril a ajuda governamental chegou a 67 milhões de pessoas, aproximadamente um terço da população do país.
Para distribuir essa quantidade sem precedentes de recursos a tantas pessoas, a Caixa Econômica Federal abriu contas-poupança digitais para que quem não estivesse bancarizado pudesse acessar os benefícios, criando 25 milhões de contas novas em apenas duas semanas.
Outros países da região também lançaram programas de ajuda financeira para trabalhadores do setor informal, chegando a 75% desses profissionais em El Salvador, 38% no Chile e 21% na Colômbia, por exemplo.
O uso de notas de dinheiro, que era a forma de pagamento absolutamente dominante na região antes da pandemia, diminuiu significativamente nos últimos meses devido às medidas de segurança sanitária e ao distanciamento social. O uso de agências e caixas automáticos diminuiu entre os consumidores e 62% declararam usar menos notas de dinheiro devido à covid-19.
Embora essa entrada de dezenas de milhões de latino-americanos que antes não estavam bancarizados e, agora, têm contas seja, sem dúvida, um bom sinal para a inclusão financeira na região, ainda há muito trabalho a fazer para mantê-los comprometidos digitalmente no longo prazo, já que muitos deles abriram contas por pura necessidade, não por uma mudança de mentalidade com relação a bancos digitais.
Para ajudar a garantir uma mudança mais permanente, será crucial aproveitar a alta taxa de penetração do celular na região – mais de 70% e em crescimento – para proporcionar a esses novos clientes ferramentas digitais fáceis de usar e sem atrito para lidar com suas finanças.
Aplicativos bancários que oferecem uma experiência fluída de usuário têm o potencial de fazer uma diferença significativa na hora de manter os novos usuários comprometidos no longo prazo.
As instituições financeiras não devem ignorar a importância de educar os novos titulares de contas sobre como utilizar ferramentas como aplicativos bancários digitais para seu compromisso de longo prazo, já que milhões de pessoas os estão usando pela primeira vez. Isso pode ajudar a evitar que esses novos usuários paguem e poupem exclusivamente em dinheiro quando a pandemia e suas restrições acabarem e as lojas voltarem a abrir.
Muitos bancos na América Latina realizaram iniciativas de apoio a empresas nos últimos meses para impulsionar a retomada da economia. Na Colômbia, as PMEs têm um papel crucial, já que constituem 97% do tecido empresarial do país e geram emprego para 16 milhões de pessoas, segundo o Ministério do Trabalho.
O Banco Caja Social é um dos muitos que ofereceram ajuda nesses momentos. Esse banco colombiano estabeleceu recomendações, medidas de apoio e ajudas a PMEs para dar um impulso bastante necessário ao setor, com a principal ajuda sendo o pagamento de 20% dos créditos dos clientes mês a mês.
Como as PMEs desempenham um papel tão importante nas economias da América Latina, iniciativas como esta serviram de bote salva-vidas para diversas empresas e seus proprietários na hora de superar os obstáculos representados pela pandemia.
Com milhões de pessoas entrando em bancos digitais pela primeira vez, é crucial aproveitar o momento com uma tecnologia intuitiva, fácil de usar e moderna, centrada no cliente, em conjunto com iniciativas de educação financeira e com a promoção de uma mudança de mentalidade para garantir a adoção de longo prazo dessas soluções, com o objetivo de obter uma verdadeira inclusão financeira na América Latina.
A experiência digital simplificada será o ponto de inflexão para a inclusão, com grupos financeiramente marginalizados aproveitando o sistema bancário de forma responsável – um passo importante para a recuperação econômica segura e sustentável na região.
*Ethan J. Clark é vice-presidente regional para América Latina e Caribe da Backbase, plataforma omnichannel de banco digital, com sede na Holanda.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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Redação: Conteúdos produzidos pela equipe de jornalistas do Finsiders,
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