Se depender da Solfácil, a previsão é de tempo firme nos próximos meses. A empresa, que começou oferecendo financiamento de energia solar, vem ampliando sua atuação. Em agosto do ano passado colocou no ar um marketplace e vai lançar um dispositivo IoT (sigla em inglês para internet das coisas) com tecnologia proprietária no segundo semestre, além de produtos de seguros.
A intenção é se posicionar como um ecossistema de soluções solares, que combina produtos financeiros, marketplace e serviços digitais para os integradores. Para avançar nesse plano, a Solfácil acaba de anunciar uma rodada Série C de US$ 100 milhões (R$ 500 milhões) em uma captação liderada pelo QED Investors — que já tinha capitaneado a Série B, em junho do ano passado.
O round teve a participação, ainda, de SoftBank, VEF (Vostok Emerging Finance) e Valor Capital Group — esse último liderou a Série A e fez follow-on na Série B. No total, com esse novo cheque, a empresa já levantou US$ 134 milhões em três rodadas institucionais, desde que foi fundada, em 2018.
“Crescemos 8x ao ano, em média, nos últimos três anos. Levantamos uma rodada para atingir alguns objetivos, como se consolidar como agente número 1 financiador no setor. Estamos trabalhando para atingir a liderança em 2023”, diz Fabio Carrara, em entrevista ao Finsiders. “Estamos posicionados para ser o ecossistema que entrega essas soluções num só lugar.”
Carteira
No financiamento para instalação de sistemas fotovoltaicos, o carro-chefe e produto inaugural da empresa, os números dão a cor do crescimento acelerado. Com uma carteira que encerrou o ano passado perto de R$ 1 bilhão e já passa de R$ 1,2 bilhão em 2022, a expectativa da Solfácil é terminar o ano com uma carteira superior a R$ 3 bilhões. “Como a carteira é longa e não amortiza rápido, quase todo aumento de carteira é originação”, explica o empreendedor.
Com uma base de cerca de 40 mil clientes, a meta da fintech é fechar o ano com mais de 100 mil e chegar a 1 milhão em quatro anos. O público é, em sua maioria, formado por pessoas físicas que buscam recursos para instalar placas solares residenciais.
“Temos crescido bastante na pequena PJ, como pequenos comércios que têm energia elétrica como grande componente do custo. E no segundo semestre do ano passado, lançamos a linha para produtores rurais, que vem crescendo”, cita Fabio.
Há dois meses, a fintech também foi anunciada como parceira do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para uma operação que financiará a instalação de painéis solares fotovoltaicos para consumidores da região Norte do país, especialmente da Amazônia.
Nessa iniciativa, o banco de fomento comprou 95% dos R$ 60 milhões em debêntures verdes emitidas pela Amazônia Solar Companhia Securitizadora de Créditos Financeiros. A Solfácil fica responsável pela análise de risco de crédito, além de verificar a viabilidade do sistema para o consumidor. A expectativa é permitir o financiamento a cerca de 1,6 mil projetos em um prazo de até 150 meses, com taxas a partir de IPCA + 0,77% ao mês.
Hoje, a fintech já está entre os principais players em financiamento de energia solar, atrás apenas de bancos fortes no segmento, como BV e Santander. A instituição controlada pelo Banco do Brasil (BB) e pela família Ermírio de Moraes, por exemplo, atingiu uma carteira de R$ 2,5 bilhões em financiamento de energia solar no fim de 2021. Já o Santander desembolsou R$ 2,3 bilhões no ano passado.
“No começo, a Solfácil era claramente um ‘outsider’ do ponto de vista de financiamentos. Agora somos a terceira maior financiadora solar do país, segundo a consultoria Greener”, afirma Fabio, ressaltando que a meta é chegar à liderança até o fim deste ano — em 2021, para se ter uma ideia, a empresa ocupava a sétima posição nesse ranking.
A receita para chegar ao topo passa, claro, por acelerar a concessão de financiamentos, e o funding não será um problema. A Solfácil está fechando uma operação de dívida com um banco norte-americano, cujos detalhes ainda não podem ser revelados por questões contratuais.
Ao longo de 2021, a empresa levantou um total de R$ 1,3 bilhão em operações de dívida com selo verde, incluindo FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios) e outros instrumentos como debêntures. Com isso, a fintech se tornou o segundo maior emissor de títulos verdes do país no ano passado.
A Solfácil aguarda, ainda, a aprovação no Banco Central (BC) para ter uma SCD (Sociedade de Crédito Direto), o que lhe permitiria crédito com recursos próprios. O processo junto ao regulador está “evoluído”, diz Fabio.
Ecossistema e próximos passos
O financiamento é uma das partes do ecossistema de soluções da Solfácil. Nesse oceano, a empresa navega com mais facilidade. “O que estamos fazendo é muito diferente, não tem concorrente”, argumenta Fabio, citando que o modelo é único, inclusive em comparação com referências lá fora, como as norte-americanas GoodLeap e Mosaic, por exemplo.
A ampliação das unidades de negócios começou no segundo semestre do ano passado, com o lançamento da Loja Solfácil, um marketplace de equipamentos solares, que conecta os 8 mil integradores parceiros a dezenas de distribuidores e marcas, oferecendo mais de 5 mil kits (painéis solares, inversores e racks). “Estamos integrando com ‘vendors’ para ter acesso ‘real time’ dos estoques.”
A empresa também planeja lançar no segundo semestre um dispositivo IoT, com tecnologia proprietária (hardware e software), possibilitando aos integradores e clientes finais o monitoramento preventivo dos sistemas, com sua própria rede de comunicação. A ideia é que o lançamento oficial seja feito durante a Intersolar, importante feira do setor que ocorrerá em agosto.
O equipamento, cujo desenvolvimento levou quase três anos, monitora em tempo real a produção de energia fotovoltaica, emitindo alertas para clientes e integradores, como produção abaixo do esperado, desconexão completa da rede, entre outros avisos.
“Estamos pilotando [testes] com diversos parceiros e clientes, e vamos lançar na Intersolar”, conta Fabio. A expectativa é que, a partir do fim do ano, 100% dos projetos financiados via Solfácil tenham esse dispositivo como um benefício. “Até porque é do nosso interesse que os ativos estejam produzindo bem.”
O dispositivo é o pontapé de uma tendência na qual a Solfácil acredita. Para a companhia, o sistema de geração fotovoltaico e seus subprodutos — incluindo baterias e carregadores de carros elétricos — se tornarão o terceiro maior ativo de uma família, depois da casa e do carro, representando uma oportunidade gigantesca de investimento nas próximas décadas.
“Temos como propósito empoderar as pessoas por meio do sol.”
Para a segunda metade do ano, a Solfácil prepara ainda sua entrada no mercado de seguros, com a oferta de um seguro prestamista para seus clientes, além de um produto de proteção dos sistemas fotovoltaicos contra desastres naturais, incêndios e furtos. “Estamos próximos de fechar [acordos] com seguradoras”, conta o empreendedor.
Questionado sobre possíveis operações de fusões e aquisições (M&A), Fabio diz que é “uma possibilidade para o futuro”, agora que o caixa está mais reforçado. “Temos conversado com alguns players para M&A.”
Mercado
É grande o potencial do setor de energia solar no Brasil. Presente em 5.446 municípios e em todos os Estados, a geração própria de energia solar fotovoltaica vem avançando no país nos últimos anos.
São mais de 1 milhão de unidades consumidoras, de acordo com dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). Em abril, a modalidade atingiu 10 gigawatts (GW) de potência instalada, o que equivale a 71,4% da capacidade da usina hidrelétrica de Itaipu, conforme a entidade.
Apesar do avanço, a quantidade de pessoas e empresas que utilizam energia solar representa apenas 1,1% dos mais de 89 milhões de consumidores de eletricidade no país. “Estamos no melhor país do planeta para empreender nesse setor”, diz Fabio. Assim como a Solfácil, mais fintechs buscam navegar nesse oceano azul “iluminado”. Estão nessa lista nomes como Edmond, Insole, Suney, Mutual, entre outros.
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