Opinião: Crédito sem educação financeira é inoperante

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Por Elber Laranja*, exclusivo para o Finsiders

Em intermináveis tempos de crise, em que as empresas brasileiras têm sofrido as consequências do momento econômico, muito se ouve falar em “auxílio emergencial”, “medidas de estímulo e proteção às empresas”, “crédito para salvação de empresas” etc.

Contudo, entre os fundamentos da vida empreendedora, o capital é apenas um vetor que atua sobre o sucesso ou insucesso de uma organização. E é estranho que em fases de grande turbulência para os negócios made in Brasil, tão pouco se aborde outras temáticas altamente relevantes como é o caso da gestão financeira.

Após o início do chamado “período da crise da pandemia”, o governo federal já liberou mais de R$ 1,169 trilhão em linhas de crédito para empresas. Apenas o Programa Nacional de Apoio à Microempresa e Empresas de Pequeno Porte (Pronamp) pagou R$ 62,4 bilhões em mais de 850 mil operações de crédito, sendo 74% para pequenas empresas e 26% para microempresas.

Tais iniciativas fizeram com que o volume de crédito vigente (carteira de crédito) para empresas subisse 21,6% em 2020 e mais 10,5% em 2021, de acordo com dados do Banco Central (BC).

Analisando apenas micro e pequenas empresas, a carteira de crédito quase dobrou em comparação com 2019, tendo variação positiva de 94,7%, impulsionada pela forte demanda por capital de giro amparada nas linhas de crédito emergenciais.

Nota-se, entretanto, que nesse mesmo período, o PIB brasileiro foi negativo em 3,9% em 2020 e positivo em 4,6% em 2021, ficando em números muito próximos da estagnação.

Neste contexto, algo chama a atenção: o forte aumento do crédito para o capital de giro no período em que as empresas estão vendendo menos e, em tese, teriam menos necessidade desse tipo de crédito.

Elber Laranja, sócio-fundador da Antecipa Fácil (Divulgação)
Elber Laranja, sócio-fundador da Antecipa Fácil (Divulgação)

Quanto a isso, só se pode chegar a uma conclusão: o crédito para empresas, de fato, não tem sido concedido para financiar o giro produtivo desses negócios, mas sim para cobrir furos de caixa em decorrência da diminuição das vendas.

Sim, parece óbvio, mas nem por isso deixa de ser grave. Quando recebem crédito, empresas que operam no prejuízo não têm resolvida a sua situação operacional. Elas têm um suporte financeiro temporário para saldar a diferença entre receitas e despesas, e isso não é investimento.

“Dinheiro na mão é vendaval”, diz a música de Paulinho da Viola, e a realidade não a desmente. Se uma pergunta trivial for feita sobre concessão de crédito a qualquer leigo sobre o assunto: a quem você emprestaria dinheiro, a alguém que precise ou a alguém que saiba gastar? Não precisa pensar muito para saber a resposta.

Qualquer dinheiro que se coloque em uma empresa que dá prejuízo mensalmente não será suficiente para salvá-la. Prejuízo não se sana com empréstimos. Eles são resolvidos com a melhora da eficiência dos negócios.

O problema é que, infelizmente, o empresário brasileiro não sabe disso e não está preparado para fazer essa conta. O senso comum de lucro de uma empresa, para o pequeno e médio empresário, é algo entre o saldo da conta bancária no final do mês e a diferença entre o preço de compra dos insumos e a venda do produto.

Para que o crédito em uma empresa atinja seus objetivos de fomento ao seu desenvolvimento, o dinheiro não pode ser uma gota d’água em solo quente, que bate e evapora. O empresário tem que saber aplicá-lo.

Para tanto, entender a diferença entre lucro e margem de contribuição, fazer controle de estoque, calcular o custo financeiro da operação, entre outros aspectos indispensáveis de gestão financeira. Educação financeira para empresas e empresários é imprescindível. Caso contrário, não haverá auxílio emergencial ou crédito que os salvará.

Para se dar um exemplo, um empresário que não sabe formar seu preço de venda destrói, sim, o seu próprio negócio, porque provavelmente trabalhará no prejuízo. Mas também destrói os concorrentes e o mercado, porque o preço deturpado de um player, tem o poder de impedir que os participantes do mercado vendam seus produtos e serviços ao seu real valor.

Essa é uma realidade vigente que se impõe há muito tempo, independentemente da crise gerada pela pandemia, e não será o crédito que livrará o mercado das trevas desta ignorância. Somente a educação.

Para se discutir um horizonte de salvação, para as empresas brasileiras, sobretudo micro e pequenas, há de se reconhecer: o crédito sem educação financeira é inoperante. É jogar dinheiro em um poço sem fundo, porque na realidade, o caríssimo crédito concedido para as empresas não tem sido, em sua essência, utilizado para comparar insumos ou gerar empregos. Mas sim para pagar dívidas geradas pelo período de baixa atividade, quando muito, mantendo alguns postos de trabalho.

Os impactos negativos desse volume de dinheiro que está chegando na economia com a chancela de “salvador” ainda tendem a agravar a situação já no curto prazo.

Com a inflação gerada pelas medidas de ajuda e as parcelas dos empréstimos vencendo, as empresas que operam no prejuízo já começaram a pagar mais juros para sustentar as suas dívidas, transferindo os recursos que deveriam ser usados no desenvolvimento dos negócios, para agentes financeiros e cartórios, em forma de juros de mora, repactuações e protestos. Isso não tem como dar certo e o empresário precisa saber disso.

Desta forma, os inegáveis benefícios de curtíssimo prazo das ações de fomento à economia por meio do crédito às empresas não serão perenes e tendem a retardar e amplificar a necessidade futura dos hoje favorecidos empresários.

Isso, se não for atualizada a política que considera como métrica de sucesso o volume de crédito despejado na economia, e não a sua aplicação e afetividade, que só será otimizada por meio da educação de quem o usa.

*Elber Laranja é sócio-fundador da Antecipa Fácil, fintech com foco em antecipação de recebíveis.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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Redação: Conteúdos produzidos pela equipe de jornalistas do Finsiders, além de artigos de executivos do setor

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