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Por Danylo Martins (Finsiders) e Léa De Luca (Fintechs Brasil)
“Nada de queimar dinheiro de investidor, vamos dar lucro”. Num momento em que startups e empresas de tecnologia de maneira geral estão tendo que se adaptar ao cenário de inflação global e cada vez mais são pressionadas para entregar resultados, o novato Girabank nasce com uma estratégia clara de monetização, segundo Marco Scabia, o advisor de comunicação com o mercado do banco digital.
Lançado no mês passado pelo empresário, humorista e influencer alagoano Carlinhos Maia, o Girabank quer ser um agregador de serviços, unindo produtos financeiros a soluções como clube de benefícios e até chip de celular.
“Temos como ser um banco digital rentável já no primeiro ano, se fizermos um bom trabalho”, aponta o executivo, em entrevista exclusiva e simultânea aos portais Finsiders e Fintechs Brasil.
Se funcionar como planejado, apenas a receita com assinaturas do Giraclub — o clube de benefícios do Girabank — deve chegar a cerca de R$ 4 milhões por mês, fora os ganhos com os outros produtos e serviços. O clube cobra R$ 9,90 de mensalidade e promete “dezenas de sorteios por mês”: de motos a carros e casas, no valor de até R$ 1 milhão em prêmios. O primeiro carro saiu no último sábado (2).
Para os próximos meses, a fintech estima que uma parcela relevante (algo entre 30% e 40%) da base de clientes se torne assinante do clube. Para se ter uma ideia, na largada, o banco digital conquistou 600 mil clientes e já se aproxima do primeiro milhão. “Estamos sendo conservadores, considerando o poder de fogo do Carlinhos.”
Girassóis
O influencer é um chamariz — ou melhor, o “sol” — que atrai seus quase 26 milhões de seguidores, os “girassóis”. Tamanho poder de engajamento deve garantir a estratégia de retenção de clientes de A a E — pelo menos, enquanto o influencer estiver em evidência. “Ao mesmo tempo em que ele tem um lifestyle sofisticado, consegue acessar camadas sociais menos afortunadas, e faz isso de maneira leve e direta”, observa Scabia.
O amplo raio de ação da influência de Maia, segundo Scabia, deve-se ao fato de ser ao mesmo tempo popular e representante de marcas de luxo. “As marcas parceiras são Baska e B-Burgers, com as quais ele tem envolvimento direto. Mas outras marcas populares e de luxo pagam por publicidade eventual, sem parceria fixa”, informa. Os dois projetos têm parcerias, em Alagoas e no Nordeste, com os empresários Miguel Teixeira, do Açaí Concept, e Luiz Guzman, que cuidam da estratégia de crescimento das marcas.
Scabia garante que o Girabank consegue customizar os produtos e serviços para os diferentes públicos, ao mesmo tempo em que afirma que o principal foco é o público sub-bancarizado: “Defendemos a inclusão.”
O influenciador digital é um dos principais investidores do Girabank. Embora Scabia não revele o valor investido por Maia no projeto, circulou pela mídia que teria sido algo entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões. No captable, estão também a Prudentte, fintech que oferece banking as a service (BaaS), além de outros perfis de investidores, que não tiveram seus nomes revelados.
Infraestrutura e funding
Na retaguarda do Girabank estão a própria Prudentte, responsável por todo o front end, experiência, integração de parceiros, dia a dia da administração e compliance, e o Bankly, da Méliuz, que provê a infraestrutura tecnológica de banco digital. O Bankly fornece os módulos separadamente (APIs para Pix, cartão de débito, cartão pré-pago, conta corrente, antifraude, conta PJ e por aí vai).
Também a Surf Telecom e a Mastercard estão envolvidas no projeto – a primeira com o chip de celular Giracell, que chega em agosto, e a segunda com a bandeira dos cartões.
Por enquanto, o Girabank oferece uma conta digital com operações básicas de pagamento de boletos, transferências, Pix e cartão pré-pago, que funciona como crédito para compras online. No pipeline, além do chip de celular, estão previstos lançamentos do cartão de crédito, microcrédito e empréstimo consignado. “Estamos negociando para oferta de empréstimos de até R$ 1 mil com um deles, e de R$ 5 mil a R$ 20 mil com outro.”
Enquanto não fecha as parcerias, o novo banco digital vem usando funding próprio, mas o Girabank estuda ter um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) “em algum momento”, diz Scabia.
Operação
Não há executivos ou fundadores à frente da operação do Girabank, e sim um grupo de advisors. “Estamos num processo de escolher CEO e COO para a estrutura”, diz Scabia.
Ele está na companhia de gente experiente como João Bezerra Leite, ex-CTO do Itaú Unibanco e atualmente investidor-anjo e líder do pool de fintechs da Bossanova Investimentos. Scabia, por sua vez, começou a empreender aos 25 anos quando fundou a Gibraltar em 1998. Hoje, é country manager nos EUA da DRIC, startup global de inovação tecnológica e transformação digital em códigos bidimensionais.
Mercado
O lançamento do Girabank ocorre num momento em que milhões de brasileiros estão cada vez mais adeptos de serviços financeiros digitais. Pesquisa feita pela idwall mostra que mais de 37% das pessoas no país já utilizam um banco nativo digital como conta principal, por exemplo. Mesmo assim, 34 milhões de brasileiros ainda são desbancarizados, conforme o Instituto Locomotiva.
O contexto também é de forte competição, o que deve se intensificar com o Open Finance. Agora, muitos dos bancos digitais e fintechs perseguem a monetização da base de clientes com oferta de crédito, seguros, marketplace e outros produtos e serviços. O grande desafio é gerar engajamento e recorrência. Um desafio que o Girabank, apesar de Carlinhos, também terá. Se o timing foi bom ou não, só o tempo dirá.
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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