Há quase um ano, o Finsiders noticiou em primeira mão que a fintech de pagamentos europeia SumUp havia entrado com pedido no Banco Central (BC) para se tornar uma instituição de pagamento, na modalidade credenciadora.
De lá pra cá, a empresa vem fazendo a transição de uma subadquirente — modelo em que operava em parceria com players como Stone e Cielo — para uma adquirente plena, um movimento que agora foi “coroado”. Isso porque a SumUp recebeu a autorização para funcionar como IP, conforme decisão publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (15).
“Estamos operacionalizando quase que por completo como credenciadora nos últimos três meses. As homologações já foram feitas. A autorização agora ‘coroa’ tudo isso”, explica Mariana Lazaro, CFO da SumUp para a América Latina, em entrevista exclusiva ao Finsiders. “Como credenciadora, a tesouraria é mais completa e, assim, conseguimos praticar taxas mais competitivas e trazer o merchant para perto.”
Com o aval para atuar como IP, a fintech passa a ter duas licenças regulatórias no Brasil, mercado onde está presente desde 2013. Em março de 2020, a SumUp também recebeu autorização para operar uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que permitiu à companhia criar seu banco digital SumUp Bank. “Com a IP, agora continuamos o processo de crescimento do que chamo de ‘one-stop-shop’, o balcão de negócios para o pequeno lojista.”
A estratégia da fintech é concentrar num só lugar diversas soluções financeiras e de pagamento — e em breve também softwares, como já ocorre na Europa. “A perspectiva é oferecer softwares para facilitar a vida do lojista no Brasil. A ideia é consolidar a SumUp como um lugar em que o lojista acesse todas as soluções para o seu negócio”, aponta Mariana.
Na mira da agora credenciadora, estão os chamados nanoempreendedores, que são basicamente profissionais autônomos, comerciantes, prestadores de serviços solo. A maior parte está fora das grandes cidades, com concentração nas regiões Norte e Nordeste.
“Estamos fazendo um movimento para crescer entre lojistas um pouco maiores, como padarias e pequenos comércios; antes, nós ficávamos mais focados nos pequenos ambulantes”, afirma Mariana. A executiva não abre o tamanho da base de clientes no Brasil, mas diz que globalmente cerca de 4 milhões de empreendedores utilizam os produtos da SumUp.
Sem abrir números da operação, ela diz que a fintech já é um dos maiores players do mercado de pagamentos no Brasil. “Temos banco digital, rentabilidade na conta, recentemente lançamos ‘tap on phone’, nossa maquininha é desenvolvimento próprio, o que traz diversas vantagens. Temos microcrédito em parceria com o BNDES com taxa de 2,93% ao mês”, elenca a executiva.
A SumUp é parceira do banco de fomento em um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 230 milhões. O objetivo é levar crédito especialmente para regiões com menor nível de acesso financeiro. Até hoje, foram emprestados R$ 37 milhões para 14 mil microempreendedores.
Fundada em 2012, a SumUp está presente em 35 mercados, e chegou no ano seguinte ao Brasil, hoje uma das cinco maiores operações da empresa no mundo, ao lado de Alemanha, Inglaterra, França e Itália. A companhia não abre qual a “posição” do Brasil no top 5, mas diz que por aqui já são quase 800 funcionários — globalmente, a empresa tem cerca de 3,4 mil.
Desde sua criação, a fintech já levantou cerca de US$ 2 bilhões, incluindo captações de equity e dívida, conforme dados do Crunchbase. Na última rodada, anunciada em junho, recebeu 590 milhões de euros (o equivalente a US$ 624 milhões), sendo avaliada em 8 bilhões de euros (US$ 8,5 bilhões).
Mercado
Competição é o que não falta na indústria de pagamentos brasileira. A lista de fintechs inclui players já bastante conhecidos, como Stone e PagSeguro, mas também outras que miram pequenos varejistas, entre elas, CloudWalk (dona da maquininha InfinitePay) e a pernambucana Acqio. Todas buscam uma fatia do bolo ainda bastante concentrado nas mãos de duas adquirentes (Cielo e Rede).
Em 2021, a indústria de cartões no Brasil movimentou R$ 2,65 trilhões, um crescimento de 33,1% em relação ao ano anterior, conforme dados da Abecs, que representa as empresas de cartões. A projeção da entidade é que o mercado chegue a R$ 3,2 trilhões neste ano, o que representaria um avanço de quase 21%.
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